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Bom Karma... ou não!

sexta-feira, maio 06, 2011

THE NEXT BIG (SOME)THING


Tem sido hábito recorrente, em Portugal, a procura da next big thing da música nacional. Entre fadistas mais ou menos enfant terrible, e artistas pop mais ou menos pop, a caça lá vai continuando, com a certeza de que todos os anos, aparecerá uma nova estrela. Com o aparecimento da nova estrela, surgem também um sem número de sintomas recorrentes: promessa de sucesso, dentro e fora de portas, exageros dos media, e músicas que parecem encomendadas para todo o tipo de anúncios, principalmente para redes de telemóveis e internet.

A nova big thing da música portuguesa, parece ser a moça que dá pelo nome de Aurea e que, nem de propósito, começou a dar realmente nas vistas com um anúncio (lá está) da Sapo. É claro, isto é uma opinião, mas as músicas de Aurea cheiram a carne requentada, sem sabor, e são chatas e absurdamente entediantes. No entanto, a magia da televisão e o poder da publicidade, facilmente põem o mais vulgar artista nos píncaros da fama e da popularidade, e disso, mais uma vez, tirou proveito uma cantora que vai desaparecer do panorama com a mesma velocidade com que surgiu. Certinho.

Ler uma entrevista a Aurea, é perceber o que vai dentro daquela cabeça e que, infelizmente, lhe sai pela boca fora. Diz a cantora que descobriu a música soul com James Brown e James Morrison, e os blues ao ouvir Joss Stone e John Mayer. A vontade imediata que sinto é a de sentar a moça ao colinho, encher-lhe as fuças de bolachadas e explicar-lhe que é muito bom conhecer James Brown, mas que devia rapidamente trocar a dieta hipercalórica e pegajosa de Morrison, Mayer e Stone, pela verdadeira soul food. Que era incomparavelmente melhor conhecer pessoas como Aretha Franklin, Marvin Gaye, Otis Redding, ou Muddy Waters, Willie Dixon e Howlin' Wolf .

Mas isso não interessa nada. O público já está rendido à menina sexy, com voz de cana rachada que canta descalça - numa manobra de marketing de uma originalidade a toda a força. Por outro lado, a esmagadora maioria do público português não saberia o que são a soul e os blues nem que fossem atropelados duas vezes por eles. O que vale é que para o ano já ninguém se vai lembrar de Aurea, quanto mais não seja, porque vai surgir outra fadista pós-moderna, cantor pop sucedâneo do insuportável David Fonseca, ou banda híbrida de raízes tradicionais e heavy metal satânico.