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Bom Karma... ou não!

sábado, setembro 27, 2008

O BLOG DO DESEMPREGADO

Não tenho na história da minha vida uma grande lista de importantes decisões. Por um lado, porque sensivelmente até aos meus 16 anos pensava sinceramente que a minha vida já estava bem encaminhada; estava convencido de que me ia acontecer o que acontecia a toda a gente: estudar, arranjar um emprego e pronto. Estava enganado. A vida é uma coisa demasiado instável para se lhe poder confiar a nossa felicidade. A minha deu-me a volta, e fez-me tomar a primeira grande e importante decisão. No dia 13 de Dezembro de 1993, acabadinho de cumprir o serviço milktar, escolhi ficar em Portugal, em arranjar um empreguito e em ajudar a minha família. Dessa forma, enterrei decididamente a minha vontade de ir para o estrangeiro e tentar a sorte por lá. Esta minha primeira decisão mudou irremediavelmente a minha vida, e de uma certa forma impediu-me de fazer o que eu mais queria, a verdade é que me ajudou também - embora eu na altura não o soubesse - a fugir a uma vidinha tipificada: estudas, trabalhas, casas-te e vais de férias para Armação-de-Pêra.
Arranjei então o tal empreguito e comecei a ajudar a minha família. Comecei a morrer. Agarrado a um emprego seguro e relativamente bem pago, fiz o que a maioria das pessoas não consegue evitar: deixei-me estar. Passei dez anos da minha vida a gramar um emprego horrível com a desculpa de que era melhor assim, que não podia mudar porque nunca se sabe o dia de amanhã, e que antes ali e mal do que noutro lado e incerto. Passei dez anos a enganar-me e a fazer tudo por tudo por me esquecer de quem era e das minhas capacidades.

Por isso mesmo, e também porque afinal o meu casamento não foi a alternativa a esta modorra, tomei a segunda grande decisão da minha vida e divorciei-me. Ao divorciar-me mudei quase tudo o que estava a fazer e que não era totalmente bom para mim. Comecei a fazer, a ver, a ir e a saber; mudei de emprego, conheci pessoas, recomecei a viver.

Ainda assim, e porque deve ser a minha natureza, voltei a cair no erro de me manter num emprego por este ser bem pago e seguro. Há dias, e depois de já ter por várias vezes ouvido a opinião de pessoas que importam, tomei a decisão. Normalmente queixamo-nos de ter de ir trabalhar no dia seguinte, ou de que amanhã já é segunda outra vez, mas nunca nos lembramos de como é assustadora a idéia "daqui a cinco anos tenho de vir trabalhar outra vez". Esquecemo-nos de que aquela rotina que acabamos por aprender a odiar, se vai repetir por quantos anos estivermos ali naquele escritório, naquela pasmaceira profissional que não ata nem desata, que não evolui e de modo algum melhora. Farto disso, assustado com a idéia de ficar irremediavelmente preso a uma profissão de que nunca gostei e certo de que só se pode dizer que fulano tem uma carreira quando este faz exactamente aquilo de que mais gosta, decidi desempregar-me e dedicar-me inteiramente ao curso de jornalismo.

O ano passado consegui entrar na faculdade e no curso com que sempre tinha sonhado. Por incompatibilidade de horários e por causa desse peso do conformismo que nos impede tantas vezes de andar para a frente, não consegui completar nenhuma das dez cadeiras. Portanto, a minha situação colocava-me naquele poto em que temos de decidir desistir ou ir a jogo. Fui a jogo. É insano, é ilógico, é altamente arriscado e preocupante, mas garanto-vos, é libertador. Já não me sentia tão bem, tão útil e tão leve há demasiado tempo. Há tanto tempo que não o consigo sequer contabilizar.

Ontem alguém me perguntava qual era a miha intenção assim que o curso estivesse concluido. Para essa pergunta ainda só tenho meia resposta. Acredito sinceramente que nunca se sabe muito bem onde se vai com um curso, e que as coisas podem mudar durante esse processo e que o fim pode ser afinal um de muitos. Sei o que me apetecia fazer, só não sei, por muitos motivos, se o consigo fazer. Sei uma coisa, no entanto, e que aprendi com uma mulher que esconde no seu tamanho pequenino e franzino uma descomunal força de conhecimento - uma mulher que me apoia ns minhas decisões, e que me impele a fazer coisas, a ver coisas e a ir a sítios; que me reensinou a viver e que agora me obriga a fazê-lo todos os dias. Sei que o mais importante é gozar estes três anos que agora começam e sempre com a certeza de que sou capaz. É só. Uma coisinha tão simples e que esteve tantos tapada por esse conformismo obeso que limita e embrutece.

Se a minha vida fosse um blog, o que está para vir seria um daqueles posts que começamos sem saber muito bem como o vamos acabar, mas que nos dão um gozo tremendo a escrever.

3 Comments:

  • At 15:11, Blogger Henrique da Silva said…

    Inspiras-me a não baixar os braços. Só por isso obrigado!

     
  • At 18:23, Blogger karmatoon said…

    É melhor qe baixes que esses sovacos já não devem ver desodorizante há uns mesinhos...

    Abraço forte

     
  • At 18:01, Blogger zito hioshimito said…

    Hurray!

    Filhote está contente por sabê-lo bem!

    Beijo enorme.

     

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