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Bom Karma... ou não!

sábado, setembro 06, 2008

(MUITO) BLAH, BLAH, BLAH

Ouvi o discurso de Barak Obama - o tão aguardado discurso - na convenção democrata em que aceitou/assumiu a candidatura à presidência dos EUA. Ouvi o discurso e admito que o ouvi entusiasmado. Embora tudo aquilo seja pensado, preparado e ensaiado como se de uma produção de Hollywood se tratasse, a verdade é que já não me lembrava de um politico, muito menos um candidato a presidente da América, apresentar uma tão impressionante declaração de intenções.

A verdade é esta: fosse quem fosse o candidato democrata à Casa Branca, só a vitória nas eleições de Novembro interessariam a... todo o mundo; mais quatro anos de Republicanos seria o pior pesadelo possível. O problema é que para Obama conseguir lutar por tudo o que tem vindo a prometer, terá de defrontar cara a cara os principais lobbys da mais poderoso país do mundo, que, só por coincidência, são os mais poderosos lobbys do mundo: indústria farmacêutica, indústria do armamento, indústria petrolífera, lobby judeu e estes só para citar os maiores. Na América - como em todo o mundo, julgo - tudo é medido em lobbys; para além dos citados, temos o lobby feminista, o lobby gay, o lobby negro, o lobby de Hollywood e uma miríade de lobbys das mais diversas religiões. Entrar em conflito com este poder de modo a fazer da América um país melhor é coisa para provocar o mais violento suicídio politico da história. Se Obama vai ter a coragem e paciência necessárias para a tarefa, isso é algo por que toda a gente interessada ou simplesmente curiosa vai aguardar ansiosamente.

Com tudo isto em cima dos ombros, a constante comparação com JFK é fácil e inevitável. Na história dos EUA raramente um presidente, congressista ou senador terá tido a coragem de afrontar os interesses que por detrás do cenário mais bonito controlam verdadeiramente os designios do país. Toda a gente sabe qual foi o triste resultado dessa coragem, mas a verdade é que os tempos já não são os mesmos, e enquanto Kennedy era importante para mudar a América a partir do seu interior, Obama é vital para que a nação não só recupere do desastre económico que a governação Bush representou - destruindo o incrível trabalho de Clinton -, mas também para tentar eliminar todas aquelas características tão tipicamente americanas e que todos adoramos odiar. Será essa a única maneira de os EUA fazerem as pazes com (quase todo) o mundo.


John McCain...
Bem, na verdade não há assim tanto para falar do candidato republicano. Prisioneiro de guerra e consequentemente um glorificado herói de guerra como só o cinema nos tem apresentado, o veterano (idoso?) McCain é um republicano moderado. Não é contra os direitos dos homossexuais, não é contra o aborto e defende o ambiente e a imigração de uma forma algo distinta daquela a que o seu partido está habituado. No fundo é um tipo simpático. A escolha de Sarah Palin para sua vice-presidente é, por isso mesmo, um desesperado golpe publicitário; a derradeira tentativa do partido republicano atrair o eleitorado feminino que ainda não perdoou a Obama a derrota de Hilary Clinton, e sossegar os republicanos da ala dura, pouco satisfeitos com as tomadas de posição do seu candidato.

Sarah Palin, governadora do Alaska, é a personificação do conceito "o diabo veste Prada" mas não do ponto de vista sexual da coisa. É defensora da utilização do poderio bélico dos EUA na manutenção da sua supremacia no mundo, militante da famosa National Rifle Association, católica radical que pretende que a abstinência seja matéria obrigatória nas aulas de educação sexual, é completamente contra o casamento gay e o aborto e totalamente favorável à abertura da reserva natural do Alaska à exploração petrolífera. Ou seja, é demoníaca, a mulher, e representa orgulhosamente tudo aquilo que adoramos odiar. Ao escolhê-la, os republicanos surpreenderam toda a gente inclusive McCain, e com a exacta noção do risco que correm. O partido sabe bem que Palin pode ser um tremendo tiro no pé, e mais um argumento que pode conduzir a próxima eleição para os lados de Obama, mas a decisão, como todas em torno desta campanha, foi bem pensada, preparada e ensaiada.

Pessoalmente não consigo imaginar a derrota de Obama. Não quero acreditar que o frágil e altamente influenciável eleitorado americano esteja disposto a mais quatro anos de polémica, de má governação; mais quatro anos envolvido numa guerra que, é nítido, nunca conseguirão ganhar - seja lá o que "ganhar" represente realmente. No entanto, também ainda não me consigo convencer que é desta que um negro vai ocupar a sala oval da Casa Branca. Parece-me algo demasiado distante e difícil de alcançar numa nação ainda hoje tão preconceituosa e pouco dada a mudanças de atitude reflectidas por uma profunda mudança de mentalidade. "Orgulhosamente sós", defenderão os retrógados republicanos, que nunca admitirão que o erro é e será sempre americano. Da mentalidade americana. Neste panorama, o exemplo da self made woman que é Palin, serve como uma luva os interesses dos mais radicais. A senhora é também a personificação do american dream, mas do american dream à republicana, ou seja, que aterroriza todos aqueles que não são republicanos. Subíu na carreira a pulso depois de ter sido um caso de sucesso na vida académica, é mãe de cinco filhos - um deles recentemente enviado para o Iraque e outro, ainda bebé, que sofre de síndrome de Down - e tem fama de ser uma mulher de força, que luta sempre pelo que pretende e que raramente falha os seus objectivos. Esta é a força de que McCain, fragilizado pelo seu lado mais moderado, necessita para se conciliar com os eleitores dos estados mais conservadores e que precisam de continuar a sentir a força bruta dos EUA para estarem em segurança.
Obama contrasta violentamente com estes conceitos. É inexperiente, e frequentemente acusado de não ser mais do que um sonhador. No fundo, ainda há poucos que acreditem a 100% na sua capacidade de levar por diante todas as propostas que tem apresentado- Pessoalmente, quero acreditar que já é tempo de um politico se chegar à frente e fazer alguma coisa de realmente importante a partir precisamente do ponto de vista de um sonhador. Quero acreditar que o mundo está finalmente preparado para alguém assim. Ou acham que Obama escolheu o dia do aniversário do famoso discurso de Martin Luther King, "I Have a Dream", sem querer?

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