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Bom Karma... ou não!

sexta-feira, junho 22, 2012

A SUBVERSÃO TEM MUITA PINTA

É verdade, a subversão, o acto de subverter, de desobedecer, a vontade de não ser submisso e de se revoltar é, por estes dias, uma trend com bastantes discípulos. Uma moda, uma corrente estética, disseminada pelas redes sociais (ironicamente) e que na verdade, exceptuando alguns casos pontuais, não tem reais objectivos políticos ou sociais e que não faz grande bem pela humanidade, pelo povo, ou pelas condições de vida seja de quem for. 


Os hipsters da subversão ocupam-se portanto de causas que desafiam o poder político, argumentando que essas mesmas causas ajudam a comunidade e que são projectos viáveis e de interesse público. Se são assim tão importantes e úteis, porque é que os hipsters subversivos não as apresentam às entidades que as poderiam validar e, quem sabe apoiar? Simples. Porque isso seria abdicar do que realmente interessa a estes revolucionários de pacotilha: o perfume da subversão, o romantismo da rebelião, a adrenalina do confronto. O seu real interesse é desafiar, nada mais. E quanto isso, nada contra. É, como sempre foi, essencial desafiar o poder político e os lobbies. Mas é ainda mais essencial fazê-lo porque se acredita nisso e não porque é fixe. Basicamente, se querem ser subversivos, sejam-no de coração e não porque os meios de comunicação andam à espreita da nova manifestação ou ocupação de edifícios abandonados.


Mas isso é que já é mais complicado. Estes novos subversivos da treta não querem nada com o poder político e perante a possibilidade de, apoiados pelo poder autárquico, fazerem algo pela comunidade que tanto dizem defender, preferem desistir de tudo e reclamar do que aceitar as regras e começar a trabalhar. A ocupação da escola da Fontinha era um projecto fantástico e tinha uma utilidade pública inegável. Tivessem os ocupas apresentado o projecto à Câmara do Porto e, quem sabe, a coisa até poderia ter tido pernas legais para andar. Nunca saberemos. Não só porque o executivo de Rui Rio é o que se sabe, mas também porque tudo foi feito ao contrário: primeiro dispara-se, depois pergunta-se e depois chora-se em frente às câmaras e microfones da comunicação social "que fomos muito mal tratados e o povo estava do nosso lado e eles são uns insensíveis e o Rio é uma merda". Assim tem mais piada. Assim sentem o sangue a correr-lhes nas veias. A coisa feita burocraticamente não cheira a caça. Não tem pinta, não é fixe; seriam uns fracos, uns traidores à causa subversiva se entrassem em conversações com quem decide as coisas - mal ou bem - neste país. 

E no meio de toda esta luta contra o poder político e decisório - a única coisa que realmente lhes interessa - esquecem-se de que podiam realmente fazer alguma coisa de jeito pelo que aparentemente são os seus objectivos. Porque a verdade é que ocupar uma biblioteca abandonada num jardim do Porto é muito pouco para quem se diz tão preocupado com a cidade e com o trabalho da autarquia. Porque não se dedicam a ocupar todos os prédios abandonados da cidade? Porque não se dedicam a outros problemas que o Porto realmente tem? Porque não se manifestam contra outros assuntos menos locais e que dizem tanto a tanta gente? Porque é que não defendem realmente a liberdade de expressão que tantas vezes usam como estandarte da sua causa e invadem a sede da ERC, por exemplo? Porque é que não invadem o parlamento...?


Pior do que isso, porque é que são arrogantes e criticam aqueles que sentados criticam os que querem a mudança. Qual mudança? De que maneira? O que é que já mudaram? Nada. Absolutamente nada. Pior é acharem que os sentados não são dignos de exercerem subversão. Que não se pode ser subversivo escrevendo ou compondo. Pior, é o facto de dependerem tanto do dito sistema que querem combater. É dependerem das redes sociais e dos órgãos de comunicação para fazerem passar a sua mensagem, se é que têm alguma. Pior é serem perfeitamente ingénuos e acreditarem que as coisas, estas coisas, se podem fazer sem ser pelo meio burocrático; sem ser pela conversa com quem manda, sem se pedir autorização. Pior é não perceberem a mítica frase "the revolution will not be televised" ou terem-se esquecido dela. E querem ser respeitados, e querem ser levados a sério, e querem - e isto sim, é preocupante - ser um poder, político e social, de intervenção, decisão e influência. São contra o sistema e não percebem, ou sim, percebem, que eles próprios são um sistema. Pouco útil, é verdade, mas um sistema. Que poderia ser útil e fundamental, mas que se perde em brincadeiras de crianças mimadas e birrentas e não passa de um postal ilustrado da futilidade que se instalou na sociedade dos indignados e descontentes.