PROMETHEUS: FALHANÇO DE BALIZA ABERTA
Não há uma maneira simpática de dizer isto: "Prometheus", o novo e tão aguardado filme de Ridley Scott, é uma valente bodega. Duas horas e meia de absolutamente nada. Sem brilho, sem impacto, sem ideias, sem fundamento e, acima de tudo, sem qualidade. É mau. E é terrível dizer isto depois de tantos meses de antecipação.
Ok, corrijo o «absolutamente nada»: "Prometheus" tem duas coisas boas, no entanto, e vou já tratar de as despachar para depois, então, libertar o fel que estou a acumular desde ontem à tarde. Desde logo a inteligência e a originalidade da premissa. Uma premissa com 33 anos e que em "Alien" passava quase despercebida e não ocupava mais do que uns meros dois minutinhos de filme. Sem desvendar muito deste novo filme, posso adiantar que tudo gira em torno de uma personagem misteriosa - e propositadamente ou não mantida em segredo todos estes anos - sentada numa espécie de trono num salão numa nave num planeta onde os mineiros aterravam.
Scott volta a essa personagem misteriosa para criar um filme que, não fazendo assumidamente parte da epopeia "Alien", inevitavelmente vive das memórias do universo criado pelo realizador e por H. R. Giger. Ou seja, todos os fãs da série salivaram assim que perceberam que este era o regresso a um sítio familiar e com um potencial sem limite.
Para além da premissa, "Prometheus" tem um design de produção irrepreensível. Cenários, ambientes, figurinos e todo o tipo de gadgets são realmente impressionantes e por momentos chegam a convencer o espectador de ser este um filme impressionante. Nada mais falso. A plasticidade de "Prometheus" é mesmo só isso: um pedaço de plástico bonito, criado para iludir os mais desatentos.
Porque no seu miolo o filme não tem ponta por onde se pegue e deixa um número impressionante de pontas soltas que nem com a melhor das vontades se conseguem explicar. Nem acreditando que poderá estar na forja uma sequela, se consegue arranjar justificação para tantos detalhes e acontecimentos que, terminado o filme, ficam suspensos no vazio.
É claro, não posso aqui entrar em grandes dissecações. Toda a discussão em torno do que fica por explicar implica desvendar pormenores que, seja o filme bom ou mau, merecem ser descobertos pelo próprio espectador. Mas a verdade é que o argumento de "Prometheus" é mesmo o seu ponto mais fraco, cheio de incongruências, mal amanhado, uma salgalhada inenarrável, nitidamente criado às três pancadas; estranhamente entregue a uma dupla de argumentistas sem grande fama ou mérito reconhecido: Damon Lindelof, um mero tarefeiro de séries de televisão e Jon Spaihts, que assinou aqui somente o seu segundo argumento.
E o filme reflecte inevitavelmente a fraca qualidade da historia. É um filme aos tropeções, com personagens de papel, unidimensionais, sem peso, sem interesse, sem história. Que se limita a repetir - desavergonhadamente, apetecia-me dizer - as referências deixadas precisamente por "Alien" há 33 anos. Temos um robô que sabe mais do que aparenta, temos uma conspiração - que aqui não dura mais do que cinco minutos e acaba quase por passar despercebida - temos uma heroína que a espaços até se parece com Sigourney Weaver e, acima de tudo, temos a mesma fórmula da obra que deu ao cinema um dos seus monstros mais admirados.
Mas todos estes elementos da narrativa e todos os acontecimentos mais ou menos importantes do filme, são tratados com uma displicência nada comum em Ridley Scott. Acaba tudo por ser demasiado superficial e o filme, que prometia um impacto e uma grandiosidade que já fazem falta há muitos anos neste tipo de cinema, é fraco, sem força e pequenino, quase como se tivesse sido realizado por um amador. Quase como se a dada a altura alguém tivesse dito "pronto, isto tem mesmo que ser feito". E é um filme menor, sem suspense, sem acção, sem medo, sem nada.
Duas horas e meia depois, nada do que se passa em "Prometheus" permanece na cabeça de quem o viu. A única coisa que fica é o gosto azedo de quem se sente ludibriado e desiludido. Um pouco como se sente quem vê o seu jogador preferido de futebol falhar um golo de baliza aberta. Ou seja, com tudo para marcar golo e brilhar e ficar conhecido para sempre nem que seja por esse único momento. Ridley Scott tinha tudo para brilhar e para regressar (como a promoção de "Prometheus" garantia) ao género que ajudou a reinventar. Falhou redondamente e por culpa própria. E falhou conscientemente, porque a última cena do filme só pode ser explicada com a vontade de agradar aos fãs da série "Alien" e de os compensar por duas horas e meia de uma eterna e desesperada espera: por duas horas e meia de uma (falsa) promessa do regresso a um cinema que fez história há 33 anos e que criou dois filmes clássicos - o de Scott e o de James Cameron.
"Prometheus" é o flop do ano. E não há maneira simpática de dizer isto.
Ok, corrijo o «absolutamente nada»: "Prometheus" tem duas coisas boas, no entanto, e vou já tratar de as despachar para depois, então, libertar o fel que estou a acumular desde ontem à tarde. Desde logo a inteligência e a originalidade da premissa. Uma premissa com 33 anos e que em "Alien" passava quase despercebida e não ocupava mais do que uns meros dois minutinhos de filme. Sem desvendar muito deste novo filme, posso adiantar que tudo gira em torno de uma personagem misteriosa - e propositadamente ou não mantida em segredo todos estes anos - sentada numa espécie de trono num salão numa nave num planeta onde os mineiros aterravam.
Scott volta a essa personagem misteriosa para criar um filme que, não fazendo assumidamente parte da epopeia "Alien", inevitavelmente vive das memórias do universo criado pelo realizador e por H. R. Giger. Ou seja, todos os fãs da série salivaram assim que perceberam que este era o regresso a um sítio familiar e com um potencial sem limite.
Para além da premissa, "Prometheus" tem um design de produção irrepreensível. Cenários, ambientes, figurinos e todo o tipo de gadgets são realmente impressionantes e por momentos chegam a convencer o espectador de ser este um filme impressionante. Nada mais falso. A plasticidade de "Prometheus" é mesmo só isso: um pedaço de plástico bonito, criado para iludir os mais desatentos.
Porque no seu miolo o filme não tem ponta por onde se pegue e deixa um número impressionante de pontas soltas que nem com a melhor das vontades se conseguem explicar. Nem acreditando que poderá estar na forja uma sequela, se consegue arranjar justificação para tantos detalhes e acontecimentos que, terminado o filme, ficam suspensos no vazio.
É claro, não posso aqui entrar em grandes dissecações. Toda a discussão em torno do que fica por explicar implica desvendar pormenores que, seja o filme bom ou mau, merecem ser descobertos pelo próprio espectador. Mas a verdade é que o argumento de "Prometheus" é mesmo o seu ponto mais fraco, cheio de incongruências, mal amanhado, uma salgalhada inenarrável, nitidamente criado às três pancadas; estranhamente entregue a uma dupla de argumentistas sem grande fama ou mérito reconhecido: Damon Lindelof, um mero tarefeiro de séries de televisão e Jon Spaihts, que assinou aqui somente o seu segundo argumento.
E o filme reflecte inevitavelmente a fraca qualidade da historia. É um filme aos tropeções, com personagens de papel, unidimensionais, sem peso, sem interesse, sem história. Que se limita a repetir - desavergonhadamente, apetecia-me dizer - as referências deixadas precisamente por "Alien" há 33 anos. Temos um robô que sabe mais do que aparenta, temos uma conspiração - que aqui não dura mais do que cinco minutos e acaba quase por passar despercebida - temos uma heroína que a espaços até se parece com Sigourney Weaver e, acima de tudo, temos a mesma fórmula da obra que deu ao cinema um dos seus monstros mais admirados.
Mas todos estes elementos da narrativa e todos os acontecimentos mais ou menos importantes do filme, são tratados com uma displicência nada comum em Ridley Scott. Acaba tudo por ser demasiado superficial e o filme, que prometia um impacto e uma grandiosidade que já fazem falta há muitos anos neste tipo de cinema, é fraco, sem força e pequenino, quase como se tivesse sido realizado por um amador. Quase como se a dada a altura alguém tivesse dito "pronto, isto tem mesmo que ser feito". E é um filme menor, sem suspense, sem acção, sem medo, sem nada.
Duas horas e meia depois, nada do que se passa em "Prometheus" permanece na cabeça de quem o viu. A única coisa que fica é o gosto azedo de quem se sente ludibriado e desiludido. Um pouco como se sente quem vê o seu jogador preferido de futebol falhar um golo de baliza aberta. Ou seja, com tudo para marcar golo e brilhar e ficar conhecido para sempre nem que seja por esse único momento. Ridley Scott tinha tudo para brilhar e para regressar (como a promoção de "Prometheus" garantia) ao género que ajudou a reinventar. Falhou redondamente e por culpa própria. E falhou conscientemente, porque a última cena do filme só pode ser explicada com a vontade de agradar aos fãs da série "Alien" e de os compensar por duas horas e meia de uma eterna e desesperada espera: por duas horas e meia de uma (falsa) promessa do regresso a um cinema que fez história há 33 anos e que criou dois filmes clássicos - o de Scott e o de James Cameron.
"Prometheus" é o flop do ano. E não há maneira simpática de dizer isto.
0 Comments:
Enviar um comentário
<< Home