FERNANDO PESSOA E ÁLVARO DE CAMPOS ÀS CABEÇADAS AO CAIXÃO
Não se deixem enganar, a sério. Fujam o mais que puderem e para mais longe possível do novo filme de João Botelho, "Filme do Desassossego". Porquê? Porque é das piores coisinhas que tive o desprazer de ver. Pronto.
E sinceramente podia ficar-me por aqui, mas não me apetece. Apetece-me descascar forte e feio num tipo de cinema que, honestamente, já nem se devia fazer. E porque é mais um bom exemplo daquilo que se vai fazendo com esse famoso erário público, tão em voga de há uns meses para cá. Tudo é terrívelmente fraco aqui; os actores são mal dirigidos, a utilização das palavras de Pessoa/Campos é meramente acessória e um mau pretexto para cenas inqualificavelmente tristes, pejadas de clichés e personagens-cliché e situações-cliché e deixas-cliché.
O que o realizador consegue, ao fim de duas penosas horas, não é mais do que um híbrido, meio caminho entre o surrealismo e o filme de autor, carregadinho de tiques de um cinema ultrapassado que nunca deveria ter sido tendência nem experimentalismo de jovens cineastas rebeldes.
Pior que isso é o atalho em forma de comercialismo desenquadrado que João Botelho utiliza para atingir os seus objectivos: chama-se alguns cantores da moda para momentos musicais e pronto, a coisa compõe-se e chega a uma fatia de público que, de outra forma, nunca dava um segundo de atenção a um objecto desta natureza.
É claro, a intelligentsia tuga adora coisas destas, e o resultado é a rendição quase incondicional de um certo tipo de críticos de cinema da imprensa. E é assim que João Botelho se vai safando, realizando filmes para a crítica e para o seu próprio umbigo. Por um lado gaba-se publicamente de ter retirado os seus filmes dos cinemas de centros comerciais; por outro, socorre-se de um comercialismo bacoco e mal disfarçado para dar corpo às suas (poucas) ideias.
Pela parte que me toca, não exibir os seus filmes nos shoppings só me facilita a tarefa de me manter bem afastado de tudo o que realizar a seguir.
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