kar(ma)toon

Bom Karma... ou não!

quarta-feira, agosto 20, 2008

TÁ BONITO...

Sempre achei (e continuo a achar) que, no que a competições desportivas internacionais diz respeito, sempre fomos um bocadinho histéricos. Fazemos sempre um enorme alvoroço, prometemos resultados, dizemos que somos os maiores e inclusive homenageamos os atletas antes sequer deles partirem para a dita competição. Esquecemo-nos, porém, de tentar perceber se os homens e/ou mulheres que vão defender as cores da nossa bandeira - sim, porque nestas coisas a bandeira é sempre chamada ao barulho, de modo a lembrar a todos os intervenientes a importância da sua contribuição para a causa nacionalista - valem realmente um centavo. E não valem. Ponto final. Não valem um centavo da maior parte dos seus oponentes. E não valem porque pura e simplesmente não gozam das mesmas condições de trabalho, não são pagos da mesma forma e, obviamente, não têm nem a mesma motivação, nem os mesmos objectivos. Os objectivos são atribuidos aos atletas numa primeira fase pelos media, sedentos de vender jornais com a antecipação do fantástico sucesso que aí vem, e maravilhados com a hipótese de venderem ainda mais com as notícias das desilusões e os escândalos das derrotas. O povinho embarca nesta onda fabricada de euforia, e os atletas, naturalmente, não têm nem tempo nem a coragem de dizer "bem, se calhar não somos assim tão bons, tenham lá calma".
Convém lembrar as massas que apenas (menos de) um terço dos 77 atletas que compõem a comitiva portuguesa é profissional da coisa, enquanto que os restantes fazem o que fazem em part-time e/ou são estudantes. Para os olímpicos amadores as condições de treino não são nem pouco ou mais menos as mesmas de que gozam os seus colegas profissionais, e isso faz toda a diferença.

Sejamos honestos, da comitiva de 77 atletas que nos foram representar a Pequim, quais é que tinham reais hipóteses de ganhar uma medalha? Nélson Évora, porque é o campeão mundial do triplo salto; Naide Gomes, campeã do salto em comprimento em pista coberta; Gustavo Lima, por ser campeão mundial de vela na sua classe; Vanessa Fernandes, porque é campeã de tudo e mais alguma coisa no triatlo. Os restantes intervenientes, por muito bons que sejam, e por muito bons que tenham sido os seus resultados ao longo de um ano de competição, ficam muito longe do nível destes quatro, e a hipótese real de vencerem uma medalha é no mínimo fraquita. E mais uma vez, se não fossem os media, nenhum destes desportistas prometeria qualquer resultado; levados pela euforia fabricada em torno desta ida a Pequim, foram incapazes de acalmar os ânimos e ainda conseguiram piorar as coisas, proferindo afirmações capazes de envergonhar o mais puro dos desbocados.
Do tipo que disse que de manhã é para estar "na caminha", ao desgraçado que se desculpou assumindo ter ficado bloqueado pelo ambiente do estádio olímpico; da infeliz que disse "não sou talhada para este tipo de competições" à anormal que nem sequer quis participar na eliminatória dos 5000 metros devido ao facto da concorrência africana "ser muito forte", várias foram as pérolas de estupidez súbita saídas das boquinhas dos nossos incapazes atletas. Nessa área, a medalha de ouro vai direitinha para a Judoca Telma Fernandes, a primeira atleta na história de todas as modalidades que não o futebol, a ser capaz de atribuir a culpa da sua derrota ao árbitro.
Mais uma vez, nenhum destes atletas tinha a obrigação de trazer para Portugal uma medalhita que fosse; tinha a obrigação, isso sim, de participar, esforçando-se a obter o melhor resultado possível, com orgulho indisfarçado e, acima de tudo, de boquinha fechada. E lembrando-se constantemente de que os Jogos Olímpicos foram criados também com o objectivo de criar igualdade entre todos os atletas participantes. Se assim não fosse, nenhum oponente dos extraterrestres Michael Phelpps ou Usain Bolt se atreveria sequer a alinhar nas respectivas provas, ficando em casa sob o pretexto de que a concorrência era demasiado forte. O principal interesse dos jogos é essa mesmo, providenciar a todos os atletas que atingem os MÍNIMOS a participação no maior acontecimento desportivo do mundo. Com orgulho e felicidade, digo eu.
Quanto à piadinha da causa nacionalista ali em cima...
É o velho problema de Portugal fazer tudo por tudo para ser visto; para fazer parte do grupo dos fixes; para as pessoas pensarem que também é dos mais populares lá da escola. Aquela coisa de estarmos sempre a perguntar aos famosos internacionais se gostam muito do nosso país, se já provaram o bacalhau, se já foram a Sintra, e que é pura e simplesmente a maior prova do nosso nacional parolismo. Com as vitórias desportivas é exactamente a mesma coisa, queremos à fina força ouvir os outros dizer que somos os maiores. E não somos. O FCP anda há décadas a provar ao mundo que é um dos melhores clubes da Europa e ainda assim não é visto por esses tais grandes clubes da Europa como tal. Está ao nível dos gregos e turcos, normlmente os chatos de serviço.
Somos pequeninos e pronto. De certeza que ninguém em St. Kitts and Nevis vai fazer um alarido do caraças pelas medalhas que os seus atletas não conquistaram...