CINEMA COM TOMATES DE AÇO
Andava há um bom par de semanas para ir ver o último filme de David Cronenberg, "Eastern Promises", e ontem - depois de picado pela crónica do Carlos Moura - lá fui prestar a minha vassalagem ao mestre canadiano. E que filme do caraças! Que realização do caraças!! E que actor do caraças!!!
Cronenberg, que tinha voltado a dar nas vistas com o filme anterior "A History Of Violence", regressa para provar que, depois de ter optado por um caminho completamente diferente daquele que o tornou (famigeradamente) famoso, continua a ser um dos grandes realizadores anti-convencionais da sétima arte. O responsável por alguns dos filmes de terror mais originais do género - "A Mosca" e "Scanners", só para citar os mais conhecidos - nunca precisou de pedir liçenca para incomodar o espectador e ser o mais politicamente incorrecto possivel. A sua obra está marcada por uma forte ligação aos «mistérios da carne» e do sexo, e como tal, sempre tivemos boas e convincentes imagens de tripas, cicatrizes, metal com carne e carne com metal e de outras coisas viscerais e bastante nojentinhas. Cronenberg é e sempre foi um realizador totalmente descoplexado, e a malta gostava disso.
O afastar desse cinema mais... cru - não me ocorre nada melhor -, deu-se com "Crash", onde o homem se deliciou a filmar pessoas normais com um fetiche por acidentes automóveis. Daí ao sexo era um instantinho, e a obra, apesar de longe do que Cronenberg costumava fazer, chocou, abalou e fez estremecer o público. E relançou o seu nome de uma forma elegantemente inquestionável.
"Easten Promises" é um filme duro, seco, frio e bruto como um comboio, mas sem nunca perder essa mesma elegância. Mostra o que tem a mostrar, sem problemas, sem complexos ou pudores, e transmite-nos uma uma sensação de calma podre; sem saber muito bem porquê, dei por mim a sentir que alguma coisa mesmo muito má estava sempre para acontecer. Quase como percorrer um belíssimo corredor repleto de belíssimas portas mas sempre há espera que alguém saia de uma das portas para nos degolar com uma belíssima navalha de barbeiro.
À boleia de um dos melhores filmes do ano passado está também a (mais do que provável) melhor interpretação do ano passado: Viggo Mortensen.
Longe, muito longe do (excelente) Aragorn da trilogia do Senhor dos Aneis, o actor americano assina o melhor papel da sua carreira, presenteando-nos com um daqueles mauzões por quem nos apaixonamos imediatamente. Desde Hannibal Lecter que uma personagem não nos inspirava tanto medo e ao mesmo tempo tanta atracção. O gélido "Nikolai" de Mortensen é a verdadeira bomba que está sempre prestes a expldir; vemos o filme e estamos sempre à espera que ele vá dar uma facada, torcer o pescoço ou rebentar os miolos a alguém que não lhe dê as boas noites como deve ser. E no entanto, tanta coisa se esconde por detrás da confiança cruel do rosto quase transfigurado de Viggo Mortensen. É uma daquelas interpretações que me faz voltar ao cinema e rever "Eastern Promises" para poder apreciar cada nuance, cada milímetro de gesto, cada grama de expressividade, cada palavra de "Nikolai". Obviamente que não chega para afirmar que é dele a responsabilidade da inegável qualidade do filme. Mas que a obra de Cronenberg não seria de facto a mesma, fosse "nikolai" criado por outro actor, ai lá isso não seria.
Para além disso, ainda temos o prazer de rever Armin Mueller-Stahl e Vincent Cassel, dois dos melhores actores europeus da actualidade, e Naomi Watts, lindíssima como sempre, e uma actriz que já provou sobejamente o que vale. Excelente a banda sonora de Howard Shore, magnífica a fotografia e... bem, podia passar aqui mais umas quantas linhas a descrever "Eastern Promises", mas acreditem quando vos digo que este é um dos absolutamente imperdiveis.
Cronenberg, que tinha voltado a dar nas vistas com o filme anterior "A History Of Violence", regressa para provar que, depois de ter optado por um caminho completamente diferente daquele que o tornou (famigeradamente) famoso, continua a ser um dos grandes realizadores anti-convencionais da sétima arte. O responsável por alguns dos filmes de terror mais originais do género - "A Mosca" e "Scanners", só para citar os mais conhecidos - nunca precisou de pedir liçenca para incomodar o espectador e ser o mais politicamente incorrecto possivel. A sua obra está marcada por uma forte ligação aos «mistérios da carne» e do sexo, e como tal, sempre tivemos boas e convincentes imagens de tripas, cicatrizes, metal com carne e carne com metal e de outras coisas viscerais e bastante nojentinhas. Cronenberg é e sempre foi um realizador totalmente descoplexado, e a malta gostava disso.
O afastar desse cinema mais... cru - não me ocorre nada melhor -, deu-se com "Crash", onde o homem se deliciou a filmar pessoas normais com um fetiche por acidentes automóveis. Daí ao sexo era um instantinho, e a obra, apesar de longe do que Cronenberg costumava fazer, chocou, abalou e fez estremecer o público. E relançou o seu nome de uma forma elegantemente inquestionável.
"Easten Promises" é um filme duro, seco, frio e bruto como um comboio, mas sem nunca perder essa mesma elegância. Mostra o que tem a mostrar, sem problemas, sem complexos ou pudores, e transmite-nos uma uma sensação de calma podre; sem saber muito bem porquê, dei por mim a sentir que alguma coisa mesmo muito má estava sempre para acontecer. Quase como percorrer um belíssimo corredor repleto de belíssimas portas mas sempre há espera que alguém saia de uma das portas para nos degolar com uma belíssima navalha de barbeiro.
À boleia de um dos melhores filmes do ano passado está também a (mais do que provável) melhor interpretação do ano passado: Viggo Mortensen.
Longe, muito longe do (excelente) Aragorn da trilogia do Senhor dos Aneis, o actor americano assina o melhor papel da sua carreira, presenteando-nos com um daqueles mauzões por quem nos apaixonamos imediatamente. Desde Hannibal Lecter que uma personagem não nos inspirava tanto medo e ao mesmo tempo tanta atracção. O gélido "Nikolai" de Mortensen é a verdadeira bomba que está sempre prestes a expldir; vemos o filme e estamos sempre à espera que ele vá dar uma facada, torcer o pescoço ou rebentar os miolos a alguém que não lhe dê as boas noites como deve ser. E no entanto, tanta coisa se esconde por detrás da confiança cruel do rosto quase transfigurado de Viggo Mortensen. É uma daquelas interpretações que me faz voltar ao cinema e rever "Eastern Promises" para poder apreciar cada nuance, cada milímetro de gesto, cada grama de expressividade, cada palavra de "Nikolai". Obviamente que não chega para afirmar que é dele a responsabilidade da inegável qualidade do filme. Mas que a obra de Cronenberg não seria de facto a mesma, fosse "nikolai" criado por outro actor, ai lá isso não seria.
Para além disso, ainda temos o prazer de rever Armin Mueller-Stahl e Vincent Cassel, dois dos melhores actores europeus da actualidade, e Naomi Watts, lindíssima como sempre, e uma actriz que já provou sobejamente o que vale. Excelente a banda sonora de Howard Shore, magnífica a fotografia e... bem, podia passar aqui mais umas quantas linhas a descrever "Eastern Promises", mas acreditem quando vos digo que este é um dos absolutamente imperdiveis.
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