Eu sei que não é a melhor das razões, mas ontem, enquanto lavava a louça, lembrei-me de ti. Lembrei-me de estar na tua casa a ver-te esfregar teimosamente os pratos só com um braço. Tinhas o outro partido em não sei quantos bocados e, furioso, decidiste inventar uma "técnica para lavar louça para manetas". Foi assim que lhe chamaste. A verdade é que não ficava lá muito bem lavada, mas ver-te decidido a mudar alguma coisa, especialmente naquela fase da tua vida, sabia-me bem. Invejava-te naquela altura. Estavas tão estável, tão tranquilamente estável. Tinhas a vida feita - uma expressão que os mais antigos sempre gostaram tanto de utilizar. Invejava-te e desprezava-te ao mesmo tempo, por estares tão preguiçosamente entregue a um estilo de vida que nunca foi o teu. Ainda estavas apaixonado, e acreditavas piamente na decisão que tinhas tomado; acreditavas que o plano que tinhas traçado para ti, para a tua vida, estava correcto e podia realmente funcionar. No fundo, adorava ter essa fé nas minhas decisões, mas não sou capaz. Parece que cada decidão que tomo me afasta cada vez mais do «grande esquema» que tinha desenhado para mim.
Lembrei-me daquela noite em que, à porta do Empire Dinner, em Nova Iorque, depois de um serão magnífico, passado nas ruas da cidade mais bonita do mundo, e depois de uma longa e adorável conversa com o barman acerca da tua máquina fotográfica, suspiraste e me disseste "não consigo continuar a viver assim". Tinhamos saído do Dinner mas tu não começaste logo a caminhar. Ficaste ali parado a olhar para a rua e eu decidi que isso era uma boa idéia, e juntei-me a ti. Ao fim de alguns minutos ali especados disparaste-me essa frase que ainda hoje ecoa na minha cabeça. Compreendi imediatamente o que me estavas a dizer, e percebi a tristeza que já não se escondia por trás da tua constante boa disposição. Ninguém sabia, pois não? Nunca o tinhas dito, nem mesmo aos teus amigos mais próximos. Estavas sozinho naquela dúvida que era já mais do que uma certeza.
Lembro-me tão bem de comentarmos como a música "I Don't Know What It Is" do Rufus nos fazia pensar nas ruas de Nova Iorque ao sol. E ainda hoje é assim. Basta-me ouvir os primeiros acordes para pensar em ti naquela cidade.
Morreste sem que se tivesse passado um ano desde essa nossa conversa à porta do Empire Dinner. Morreste-me em Novembro de 2005, e morrer foi a melhor coisa que podias ter feito.
Acho que devias saber disto. Acho que devias saber que desse tempo em que te invejava e desprezava ao mesmo tempo não restou nada. Nada. A vida que tu tinhas morreu quando tu morreste. Os hábitos, os amigos, o teu sorriso, todos morreram contigo e eu tenho saudades de te desprezar nessa altura em que te invejava. Tenho saudades da alegria que davas à minha vida, dando alegria às vidas dos outros. Tenho saudades dessa tua capacidade de esconder tão bem as tuas dores dos outros. De viveres a vida com a mesma alegria de sempre sem que ninguém percebesse o que lhe diziam os teus olhos. Nunca souberam, pois não? Não podiam saber, tu nunca lhes disseste.
E juro-te que vou regressar a Nova Iorque um dia, e que vou novamente ao Empire Dinner e que vou olhar por ti o piano onde se costumava sentar o Tom Waits, e que vou novamente especar à porta e juro-te, que se a voz não me morrer na garganta, vou soltar um suspiro e dizer baixinho que te amo e que tenho saudades tuas.
Lembrei-me daquela noite em que, à porta do Empire Dinner, em Nova Iorque, depois de um serão magnífico, passado nas ruas da cidade mais bonita do mundo, e depois de uma longa e adorável conversa com o barman acerca da tua máquina fotográfica, suspiraste e me disseste "não consigo continuar a viver assim". Tinhamos saído do Dinner mas tu não começaste logo a caminhar. Ficaste ali parado a olhar para a rua e eu decidi que isso era uma boa idéia, e juntei-me a ti. Ao fim de alguns minutos ali especados disparaste-me essa frase que ainda hoje ecoa na minha cabeça. Compreendi imediatamente o que me estavas a dizer, e percebi a tristeza que já não se escondia por trás da tua constante boa disposição. Ninguém sabia, pois não? Nunca o tinhas dito, nem mesmo aos teus amigos mais próximos. Estavas sozinho naquela dúvida que era já mais do que uma certeza.
Lembro-me tão bem de comentarmos como a música "I Don't Know What It Is" do Rufus nos fazia pensar nas ruas de Nova Iorque ao sol. E ainda hoje é assim. Basta-me ouvir os primeiros acordes para pensar em ti naquela cidade.
Morreste sem que se tivesse passado um ano desde essa nossa conversa à porta do Empire Dinner. Morreste-me em Novembro de 2005, e morrer foi a melhor coisa que podias ter feito.
Acho que devias saber disto. Acho que devias saber que desse tempo em que te invejava e desprezava ao mesmo tempo não restou nada. Nada. A vida que tu tinhas morreu quando tu morreste. Os hábitos, os amigos, o teu sorriso, todos morreram contigo e eu tenho saudades de te desprezar nessa altura em que te invejava. Tenho saudades da alegria que davas à minha vida, dando alegria às vidas dos outros. Tenho saudades dessa tua capacidade de esconder tão bem as tuas dores dos outros. De viveres a vida com a mesma alegria de sempre sem que ninguém percebesse o que lhe diziam os teus olhos. Nunca souberam, pois não? Não podiam saber, tu nunca lhes disseste.
E juro-te que vou regressar a Nova Iorque um dia, e que vou novamente ao Empire Dinner e que vou olhar por ti o piano onde se costumava sentar o Tom Waits, e que vou novamente especar à porta e juro-te, que se a voz não me morrer na garganta, vou soltar um suspiro e dizer baixinho que te amo e que tenho saudades tuas.
1 Comments:
At 01:43, Anónimo said…
é assim que avançamos, pois claro!... e os empurroezinhos ãh? Empurroezinhos como quem espreita por cima de uns óculos ou toca perna com perna como se fosse sem querer ao jogar uma máquina no LAF?!
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