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Bom Karma... ou não!

quinta-feira, março 01, 2007

Rapidinhas do Fantas

Com seis dias de filmes no bucho posso concluir que a média do Fantasporto deste ano não me parece ser tão mazinha quantos a das últimas duas edições. Continuam a existir critérios que ninguém entende - como a calendarização irreal das obras a concurso. É practicamente unânime que os melhores filmes têm sido exibidos às primeiras horas da tarde e não no chamado horário nobre do festival -, mas isso já é velho hábito da organização.

Quanto ao que realmente interessa...
E só para falar de uma mão cheia de filmes que realmente me deixaram satidfeitinho.
Começando pela surpresa do festival, o filme tuga Suicídio Encomendado, de Artur Serra Araújo. Tentando explicar aos que o não tinham visto, de que tipo de filme se tratava, disse ser como "uma daquelas comédias nórdicas que volta e meia são exibidas no Fantas". Porque é de uma comédia que se trata este filme, e porque é uma comédia nonsense e disparatada, mas inteligente e sempre fresca e muito original. Para os nossos padrões, está claro. O argumento é bom e sempre sólido, os actores estão todos muito bem, e há uma sensação de humildade que absolutamente nos conquista a simpatia. Estou certo de que não vai ser esquecido na altura de atribuir prémios.
Um pormenor: contou com a valia técnica de um senhor amigo, chamado Henrique da Silva e com quem tive o prazer de trabalhar na Região Estrangeira. Abraço, brazuca!

Na sinopse no programa do Fantas, podemos ler que a prestigiada revista Variety considerou ser The Host um filme de terror como nunca antes tinha sido feito. Ok, até pode ser. Mas temos de ter sempre muito cuidado com o enquadramento destas citações. Nunca sabemos se nunca tinha sido feito um filme de terror tão mau, ou um tão bom.
Seja como for...
O filme não é, de facto mau, mas também não é assim lá grande fartura. Está muito bem feito, sim senhora, mas o argumento de que basta um cientista meio louco atirar com uns poucos de resíduos tóxicos para o meio do rio para de lá sair quase instantaneamente um bicharoco horrendo e voraz já não convence ninguém. Ok? E o registo meio cómico escolhido pelo coreano Bong Joon-Ho para representar a família que serve como fio condutor da história não funciona assim tão bem. Mas enfim, entreteve e isso já é dizer muito.




Isabella, de Ho Cheun Pang, de Honk Kong, foi o filme docinho desta edição do Fantas. Ultimamente tem havido sempre pelo menos um, e sempre das terras lá do oriente.
A acção passa-se em Macau a pocous dias da transferência do território para as mãos da toda poderosa China- Acompanhamos então esses dias pela óptica de um polícia boémio e assim a atirar para o coruupto e para a filha que ele não conhecia e que veio à procura do pai que a tinha abandonado ainda na barriga da progenitora. O filme é mesmo doce. As personagens são mesmo doces, e a música que as acompanha - e que, nem de propósito, foi premiada com o Urso de Prata do festival de cinema de Berlim, e que até tem por lá um faduncho da Marisa - é lindíssima e funciona sempre como uma personagem ausente da nossa vista. Gostei imenso e começo a perceber que já desenvolvi um carinho especial por este tipo de cinematografia oriental, que foge por completo aos cânones do cinema fantástico e de acção que o Fantas há já uns anos nos tem vindo a impingir.




De Sketches Of Frank Gehry basta-me dizer que é um documentário realizado pelo ilustre Sydney Pollack, e que é uma homenagem ao seu amigo - a mega estrela da arquitectura, Frank Gehry -, mas uma homenagem muito próxima do homenageado. Nada daqueles documentários pesadões, em que nunca chegamos a conhecer a vida do sujeito a não ser a partir de testemunhos de terceiros. Aqui vemos uma das muitas fases da carreira de Gehry na primeira pessoa, e apresentadas em tom de conversa de amigos, sempre com um carinho e uma dedicação muito especiais: Gostei, mas não compreendo como é que um documentário destes tem honras de «horário nobre»...




O filme que, na opinião de muitos, devia desde já conquistar o galardão máximo deste Fantas, é The Bothersome Man, do Norueguês Jens Lien. A história e o filme são tão simples que até chateiam. Diálogos? Muito Poucos. Humor? Negro e a rodos - uma certa sequência no túnel de metro perfeitamente antológica. O resultado? Perfeito. Só não desenvolvo mais porque tenho a esperança de ele vença mesmo um prémio e volte a ser exibido no próximo Domingo. Já agora, esta é das tais comediazinhas nórdicas de que falava lá em cima.




O filme que vai ganhar este Fantas - embora não seja o meu favorito - é Taxidermia. Decorem isto.
E pode ganhar à vontadinha que não aborrece nada. A história de três gerações de «aberrações» - cada uma à sua muito peculiar maneira - de uma família húngara. Um pai com estranhas preferências sexuais; o seu filho com hábitos alimentares absolutamente repulsivos; e o filho deste...
O filme segue um pouco a estética provocadora de obras de Fellini e/ou Pasollini, mas com aquele aspecto gráfico tipicamente austero da Europa de Leste, e que lhe assenta tão bem.
É cómico - embora isto possa ser discutível -, chocante, provocador, de mau gosto e um verdadeiro atentado à capacidade do espectador de resistir à pior das torturas. Mas é genial e muito inteligente.

E depois temos o filme que mais me abalou.
Renaissance.
Sabem aquela sensação, não tão comum, de estarmos a ser surpreendidos? Uma sensação de frescura, de que estamos a ver algo original e entusiasmante? Foi assim que passei a hora e meia desta obra absolutamente incontornável no panorama Sci-Fi.
Pensem em Blade Runner, com a técnica de Final Fantasy e juntem-lhe a estética de Sin City e obtêm um filme que ultrapassa as obras japonesas e lhes dá um avanço de alguns bons metros. E que coloca a fasquia das próximas longas metragens de animação bem lá no alto. Merece desde já a estréia em salas portuguesas, mas... não me parece. Estava a tentar arranjar um adjectivo só que o definisse, mas é melhor não. Sem palavras.
Vejam...





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