kar(ma)toon

Bom Karma... ou não!

terça-feira, fevereiro 27, 2007




Ok, quanto ao tão falado Labirinto Do Fauno:

Vi-o em ante-estréia no Fantas e sim senhor, é um bom filme. Excelente em todo o seu aspecto gráfico, deslumbrante, até. Caracterização, cenografia, fotografia, enfim, no que a técnica diz respeito, este filme marca um novo passo em frente. A banda sonora também é do melhor que tenho houvido nos últimos tempos e parece-me que merecerá o download para o meu fiel I-Pod.

Quanto ao Guillermo Del Toro, prova mais uma vez ser um dos mais inovadores e arrojados realizadores de cinema fantástico. Toda a sua obra tem mantido um nivel de qualidade - estética e narrativa - que muito realizadores não conseguem sequer roçar. De Cronos, passando pelos Blades, El Espinazo Del Diablo e Hellboy, o mexicano tem-se entretido a dar-nos mundos e criaturas que só existem, ou nas páginas da melhor banda desenhada mundial, ou na sua pequenina e gordinha cabeça. A primeira vez que tive contacto com a sua obra foi através de Cronos, que viria inclusive a vencer o Fantasporto nesse ano - não sei qual...


Olhando agora para trás, facilmente se percebe que, orçamentos à parte, o realizador não mudou uma milésima à sua maneira de filmar e de contar histórias. São sempre argumentos muito bem enquadrados no tempo e na história. Sempre pontuados por personagens riquíssimas, quer visualmente, quer interiormente. Sempre com peso e credibilidade, quer sejam vampiros, demónios vindos das profundezas, ou uma menina-princesa que só quer voltar para casa.
E é esta menina-princesa o mais forte elemento deste novo filme de Del Toro. Ivana Baquero enche o ecrã. Mais do que qualquer cenário sumptuoso; mais do que qualquer criatura fantástica ou terrivel monstro. A pequena espanhola tem um papelão daqueles que merecem todos os elogios e prémios. Comove-nos e faz-nos sonhar e acreditar naquilo que vemos como se da realidade se tratasse. É a pérola deste filme, e nada escondida, diga-se.

No entanto, a pequena Ivana é ameaçada durante todo o filme - na história e nos desempenhos - por um actor que de repente, e por força da sua entrega a este papel, em actor maior do panorama espanhol: Sergi López. O seu Capitão Vidal entra directamente para a galeria dos maiores vilões da história do cinema. É verdadeiramente insano, frio e a pura representação do mal na terra. E isto não é dizer nada. É preciso ver o filme para perceber o alcance do trabalho deste catalão.



Agora a parte que vai fazer o Carlos Moura sofrer um colapso de qualquer espécie: não pude deixar de sentir uma pequenina desilusãozita no fim do filme. E porquê? Porque, apesar do filme ganhar com a contenção que Del Toro usa ao construir a narrativa - não caindo no erro fácil de nos inundar com imagens do mundo fantástico que chama por Ofélia -, a verdade é que já me tinha preparado para um festival de fadas, faunos, monstros e afins. E afinal o filme é sobre o mundo real - e um terrível mundo real - e sobre um mundo fantástico que só existe para uma menina que se esqueceu que é uma princesa. Ou seja, o filme é sobre a liberdade, e essa metáfora, que alguns poderão ver no cenário da guerra civíl espanhola, não é tão descabida quanto isso.

Outra enorme desilusão...
a voz escolhida para ser a do Fáuno é absolutamente ridícula. Ao ponto de acontecer o seguinte: a primeira vez que vemos a criatura, pensamos UOU; a primeira vez que a ouvimos, não conseguimos evitar pensar em anúncios espanhóis de bolachas. Assim mesmo, sem mais nem menos. Estragaram completamente uma das figuras que se tornaria imediatamente como uma das mais fantásticas de sempre do universo do cinema fantástico.



Concluindo:

Ainda não foi desta que Guillermo Del Toro ultrapassou as que, para mim, são as suas obras maiores. De facto, Cronos e El Espinazo... permanecem como os filmes de maior qualidade saídos da mão hábil deste gorducho mexicano que, tenho a certeza, ainda nos vai supreender por muitos e bons anos.

Vale bem a pena a visita ao cinema, mas não é a obra-prima que andam por aí a proclamar.

Etiquetas: