Do fim de semana passado em Lisboa falarei logo, quando tiver as imagens para ilustrar o que por lá se passou.
Por agora, uma pequena opinião acerca do último filme de Clint Eastwood, "Cartas De Iwo Jima".
Antes de mais nada, gostava de deixar bem claro que sou fã ferrenho da obra deste senhor - não tanto enquanto actor... -, que considero ser um dos mestres vivos do cinema.
Contudo - e este é um enorme "contudo" -, confesso que não saí da sala como estava à espera: de barriga cheia. A matéria dos filmes de Eastwood é o ser humano e tudo o que lhe vai na alma e/ou no coração. Exemplos bem flagrantes disso mesmo são filmes como As Pontes De Madison County, Bird ou Mystic River, só para assinalar alguns. E o propósito do realizador neste seu último trabalho - o segundo tomo de um díptico iniciado com As Bandeiras dos Nossos Pais - era precisamente esse: lançar um olhar sobre os japoneses que lutaram a batalha de Iwo Jima e sobre os seus pensamentos; sobre os seus medos, motivações e sonhos - ou a perda deles. E é mesmo isso que podemos acompanhar ao longo de mais de duas horas de filmes, mas...
Até me custa dizer isto, mas algures ao longo do caminho, o velho Clint perdeu força na sua criação. Ao contrário do que é costume, parece-me que Clint Eastwood não pegou nas emoções de que tanto gosta com a mesma garra que lhe é habitual. O filme começa lento, torna-se morno e acaba sem brilho. A dada altura dei mesmo por mim a pensar se não seria demasiado grande... - o que por si só me valeria a morte por apedrejamento.
A fotografia - apesar de tudo brilhante - cansa e contribui decisivamente para a moleza geral das imagens que nos são oferecidas. Não era necessário um artefacto técnico para percebermos a melancolia e a angústia daqueles homens, presos numa ilha de onde não querem ou não podem sair.
Posso dizer que não gostei do filme? Não. Porque é um bom filme. Porque, quanto mais não seja, respeita aquela velha máxima aplicável a outros mestres do cinema: se todos os realizadores fizessem maus filmes como Clint Eastwood...
Há ali muita coisinha boa. Actores - muitos e muito bons -, banda sonora, o argumento, lindíssimo. Mas tudo tratado com aparente preguiça. Provavelmente a dar razão aos que acham tão estranho um filme destes ter sido realizado em apenas cinco semanas.
É a suprema ironia: um realizador artesanal como Eastwood, sempre trabalhando com poucos meios, vê-se subitamente com dinheiro e liberdade para usar e abusar de um exército de recursos humanos e técnicos e fazer um filme - dois, aliás - de dimensão épica e gigantesca e acaba com uma obra menor em mãos.
Quanto a mim, continuo a considerar Babel o melhor filme do ano.
Agora vou até lá fora auto-flagelar-me...
1 Comments:
At 12:43, S. said…
Era um filme para tentar os óscares. Ele não poderia ter entrado mais pelo drama da honra japonesa versus instinto humano de sobrevivência. Tornar-se um filme demasiado duro para a Academia. Mais ainda, fez concedência aos "bons" americanos, fez a ponte, enfraqueceu por aí. Esta é a minha opinião sobre o filme com mais suicídios por metro de película.
Enviar um comentário
<< Home