kar(ma)toon

Bom Karma... ou não!

quinta-feira, agosto 05, 2010


Poderia começar este post afirmando que "Inception" é o melhor filme do ano. Não o faço porque honestamente... não sei. Não sei nem como começar a falar do novo filme de Christopher Nolan e sinceramente, se soubesse, não saberia como o explicar. Pausa...



Com poucas certezas e dúvidas suficientes - que não são bem dúvidas mas nem isso consigo explicar - para o ir ver, pelo menos, uma segunda vez, atiro-me então a uma tarefa hercúlea: escrever sobre o filme mais enigmático dos últimos anos - espaço temporal que igualmente não me sinto preparado para definir. Tentando por tudo fugir aos terríveis spoilers.

"Inception", no mínimo, é desconcertante; não respeita a narrativa formal de qualquer filme ou história. Não que não tenha um sentido único, com princípio, meio e fim. A questão é que do princípio ao fim da história nunca sabemos o que estamos realmente a ver, onde estamos, para onde vamos e, basicamente, o que raio se está a passar afinal. Mas isso é assumido desde muito cedo por Nolan, quando nos apresenta o primeiro «esboço» de um labirinto. Não podemos dizer que não estavamos avisados.


De facto, somos conduzidos por um labirinto demasiado complicado para o desvendarmos sem ajuda divina. Esse é um dos encantos do filme e também um dos seus problemas: a dada altura a confusão é tanta que o cérebro ameaça entrar em stand by e simplesmente ficar à espreita do que está para vir. Sentimo-nos literalmente observadores e nada mais. É arriscado, o jogo que Christopher Nolan nos propõe; ariscado porque o perigo de perder o espectador é real e elevado.



Ainda assim, "Inception" é um dos filmes mais estimulantes do ano, desta eu tenho certeza. Desde logo porque é incrivelmente bem filmado. Nolan já nos tinha habituado à forma irrealmente real como filma cenas de acção e acção é coisa que não falta aqui. Acção nervosa, rápida, intensa e, mais uma vez, tão bem filmada que até chateia e que tem o condão de nos fazer acreditar que está mesmo a acontecer.

O argumento, apesar da já referida confusão, é brilhante e muito bem exposto, muito bem construído. As peças do puzzle - metáfora não intencionada - surgem rapidamente, sem dar tempo para questionar ou respirar, e rapidamente damos por nós a pensar (ingénuos) que já percebemos tudo e estamos prontos a arrancar. Nada mais falso. Os loops, reloops, voltas e reviravoltas, avanços e solavancos, kicks e etc é que nos transportam. Mas, como numa montanha russa - segunda metáfora sem querer - não temos qualquer controlo sobre nada e somos meros crash test dummies amarrados ao assento de um carro a alta velocidade sem travões.

Existe algum desconforto nesta posição, claro, pouco que estamos habituados a este tipo de cinema-experiência. Mas a vida é mesmo assim, e é melhor ser surpreendido do que continuar a ser um balofo e preguiçoso cinéfilo que acredita não mais ser surpreendido por nenhum cineasta. Para alem disso, visualmente "Inception" é um jaw breaker descomunal, não só pelos elaboradíssimos efeitos visuais, como pelas cenas de acção a que já fiz referência - e que são totalmente artesanais - como pelo imaginário que nos é mostrado. Somos mantidos em parmanente estado de admiração e já não muitos realizadores capazes de um feito destes.

"Inception" é, acima de tudo um grower; um objecto que vai melhorar de cada vez que pensar nele. Um daqueles filmes com tantos pormenores e detalhes e com tantos pormenores e detalhes que não vemos mas que temos a certeza que estão lá, que torna impossível qualquer primeira leitura clara e acertada. Da mesma maneira, é um clássico imediato da ficção científica, repleto de cenas antológicas - a do corredor do hotel, desde logo, a maior de todas - destinado a mexer com a cabeça de quem o quer ver como é; que tem o objectivo de pôr à prova o espectador mais experiente.

No entanto, "Inception" tem uma regra, que Christopher Nolan respeita escrupulosamente: é um heist movie, filme que trata de um simples plano de assalto e em que o grupo de ladrões é composto por vários indivíduos, cada um deles especialista numa determinada área. Nesse sentido, tudo aqui é bastante claro e não somos de modo algum enganados. É de um roubo que se trata, mas não de um roubo normal, concretizado por pessoas invulgares e de forma absolutamente revolucionária.

Já assumi: vou ver "Inception" novamente. É obrigatório, não outra hipótese. Até porque não consigo falar do que vi de forma concreta. Não consigo destacar os componentes do filme como habitualmente faço. À excepção de um, esse, inquestionável: a banda sonora é mesmo a melhor do ano, e até aí se podem procurar truques e segredos.

Sinto-me perdido, e é uma pena não ter um «totem» à mão, dava cá um jeito - esta é mesmo só para quem já viu o filme...










<a href="http://music.zackhemsey.com/track/mind-heist">Mind Heist by Zack Hemsey</a>

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