kar(ma)toon

Bom Karma... ou não!

terça-feira, julho 20, 2010

CHRISTOPHER NOLAN



O senhor tinha apenas 30 anos quando espantou o mundo com um objecto estranho, e que arrasava com (quase) todas as convenções do cinema, chamado "Memento". A narrativa, a montagem e o argumento do filme que trouxe à 7ª arte um jovem realizador de nome Christopher Nolan, tornaram-se matéria de estudo, e deram origem a um sub-género cinematográfico. O embrulho de "Memento" é de tal modo complexo, que torna difícil qualquer comentário, crítica ou descrição. Partindo de um défice de memória do protagonista - que rapidamente se esquece do que acabou de acontecer ou das pessoas com quem acabou de falar - Nolan construíu um thriller seminal, numa área do cinema onde já poucos se arriscavam a prever originalidade. Esse ambiente estranho e quase clinicamente estéril, seria transportado para a obra seguinte, desta feita já com um orçamento hollywoodesco e com um elenco de notáveis - não querendo isto dizer que o exército de secundários de "Memento" não tivesse sido um dos trunfos do filme.






"Insomnia", outro thriller, tinha Robin Williams, Hilary Swank, Martin Donovan e um Al Pacino muitos quilómetros por hora abaixo da habitual red line onde se move. O ambiente estranho era garantido pelas paisagens frias do Alasca e pelo sol da meia-noite, que transformava Pacino num zombie em permanente estado de alucinação e demência; por um argumento genial, pontuado por pequenos e importantes detalhes, uma montagem cirúrgica e por interpretações pouco convencionais - tendo em conta os actores de serviço. Não foi o sucesso comercial que "Memento" surpreendentemente havia sido, mas a verdade é que até então o cinema de Nolan não era, de modo algum, comercial.






O passo no sentido do mais do que comercial blockbuster, chegou em 2005 com um novo capítulo da saga "Batman". Não foi, no entanto, um novo capítulo, mas sim o «primeiro» capítulo de uma saga Batman e que por esta altura já fez esquecer tudo o que foi feito na década de 80 e 90. Nolan não se limitou a encaixar o seu filme na colecção de obras dedicadas ao mundo da banda desenhada. Contrariando a tendência de «quanto maior, melhor», o realizador inglês desceu o efeito fogo-de-artifício dos blocbusters de verão e deu aos fãs de Batman a primeira versão fiel do justiceiro de Gotham. O filme, "Batman Begins" era (finalmente) soturno, negro e livre do humor idiota que havia marcado os seus antecessores. O novo filme de Christopher Nolan tinha ainda a vantagem de deixar toda a gente com a sensação de que algo de realmente grande estaria para sair das mãos deste realizador. Como se se tivesse poupado e estivesse a guardar os trunfos para um prolongamento ainda sem data prevista.






Um ano após "Batman Begins", surgia "The Prestige", claramente um inteligente passo ao lado, um respirar de descomprometimento, sem stress de bilheteira; um regressar aos ambientes mais peculiares, tão do agrado de Nolan, e aos argumentos surpreendentes, coloridos com um twist final sempre difícil de prever. É difícil não conspirar que "The Prestige" terá sido realizado no intervalo entre os dois Batman, e com o objectivo de manter o nome do realizador no alto nível de sucesso e reconhecimento conquistado. Para isso contribui a presença de dois dos actores principais de "Batman Begins" e que repetiriam as personagens no capítulo seguinte, Christian Bale e Michael Caine. Para além disso, o filme dedicado ao mundo da magia, contava ainda com Hugh Jackman e Scarlett Johansson e com uma participação surpreendente de David Bowie.






2008 foi o ano de Christopher Nolan, de Batman e de Heath Ledger. "The Dark Night" foi para muitos o filme do ano e uma das grandes injustiças dos Oscars. Mais, muito mais do que um simples action hero movie, o segundo capítulo do Batman de Nolan é um épico, realizado com uma mestria anormal para alguém com apenas 38 anos e meia dúzia de filmes no currículo. Ainda mais negro, pessimista e demente que "Batman Begins", o filme explora como nunca havia sido feito o universo do herói-morcego e do seu maior rival, Joker. Nunca as personagens tinham sido tão próximas das da banda desenhada - e mais uma vez vestidas por um verdadeiro exércitro de notáveis actores da primeiríssima linha - e nunca o risco havia sido tão grande. Se por um lado era sabido que os fãs de Batman ficariam indiscutivelmente agradados com a fidelidade, por outro, era bem possível que o grosso do público, desconhecedor do verdadeiro ambiente criado por Bob Kane na DC Comics, poderia virar as costas a esta escuridão permanente e à violência a que Nolan não quis fugir. Não vale a pena voltar a referir o trabalho gigantesco de Ledger; esse, fica para a história do cinema, e em parte, por culpa da vontade do realizador em homenagear uma das mais ricas personagens da banda desenhada americana.






2010 pode muito bem voltar a ser o ano de Christopher Nolan. "Inception" está para estrear em Portugal - nos EUA e no Reino Unido, disparou directamente ao primeiro lugar do box-office - e tudo o que pode ser visto ou lido acerca do filme com Leonardo DiCaprio, deixa antever mais um argumento genial, uma realização meticulosa e uma montagem endiabrada. Christopher Nolan, hoje com meros 40 anos, é cada vez mais um dos mais entusiasmantes realizadores da actualidade. A qualidade da sua obra ainda não sofreu nenhum revés assinalável, pelo que só podemos antever que o filme que se segue, o terceiro capítulo da saga Batman, será mais uma surpresa. Essa é a especialidade de Nolan: surpreender e inovar. Incomodar e causar estranheza, desconforto. E maravilhar.

1 Comments:

  • At 09:23, Blogger pinkpoetrysoul said…

    Já fui ver o Inception ao cinema e gostei bastante :) O argumento é de facto muito bom. beijinhos

     

Enviar um comentário

<< Home