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Bom Karma... ou não!

domingo, julho 18, 2010

O PERIGOSO USO DA PALAVRA "DEMOCRACIA"

O Parlamento francês aprovou esta semana a lei que proíbe o uso da burqa em locais públicos. Países como a Espanha e a Bélgica, já deixaram saber que tencionam seguir o exemplo dos vizinhos e evançar também com acções idênticas. Não me parece nada bem.

A burqa foi uma das vedetas mediáticas da invasão do Afeganistão pelos soldados americanos. Subitamente o mundo ficou a conhecer a terível realidade social de um país que muitos nem sabiam identificar no mapa - americanos inclusive. Realidade essa practicamente resumida a um pedaço de pano.

A obrigação de se usar uma vestimenta desta natureza, é realmente algo de violento. Apesar disso, não me parece possível que um governo consiga determinar a justiça ou injustiça de um uso que, por terrível que seja, é totalmente cultural. Como não me parece possível que um governo consiga, com absoluta certeza, definir quem o usa por obrigação e quem o usa porque acredita que assim deve ser.
Por isso mesmo, parece-me mais razoável deixar as coisas como estão. Proibir é tão mau quanto obrigar e em casos como este a mudança que se pretende deve ser feita pelas pessoas a quem agora se está a impor uma lei.

A ministra da justiça, Michelle Alliot-Marie, considerou a lei uma vitória da democracia e dos franceses. Melhor seria dizer «uma vitória da civilização sobre os selvagens muçulmanos que ainda vivem na idade média». Não querendo parecer implicativo, penso que o comentário da senhora é mais uma prova da eternamente referenciada xenofobia gaulesa.

Por outro lado, esta vontade de ser os primeiros a fazer algo de bom pela humanidade, a dar o primeiro passo no sentido da total civilização de todos os povos menores, esbarra violentamente contra as opiniões das visadas pela lei. Várias mulheres muçulmanas vieram já a público ameaçar o governo francês com denúncias de violação dos direitos humanos.

Há outras maneiras de se mudar o que, pelos nossos parâmetros, não está bem. Atitudes destas são simplesmente incendiárias, nomeadamente num país que já não precisava de mais combustíveis. Esta lei é ainda uma reminiscência daquele clássico espírito colonizador que desde sempre categorizou a «velha Europa»: os nossos costumes são os melhores, a nossa cultura é a melhor e o nosso deus é bem melhor do que o vosso.
Qual será o próximo passo, proibir os sikhs de usarem o seu turbante? Proibir o Xador, o Niqab e o Hijab? Impedir que os muçulmanos cumpram o jejum durante o ramadão? Será que algum dia o governo português vai proibir os fiéis católicos de cumprirem as suas promessas e irem a pé a Fátima?