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Bom Karma... ou não!

domingo, agosto 08, 2010

O PACHECO É ESTÚPIDO



Tenho assistido, ao longo das últimas semanas, à guerra instalada entre Pacheco Pereira e algumas pessoas, de uma forma ou outra, relacionadas com as artes, provocada pelos textos que o mesmo publicou no seu blog. Não tinha ainda feito nenhum comentário na esperança de que a guerra escalasse para níveis ainda mais interessantes. À falta de novidades escaldantes, comentários mais ou menos revoltados ou, uma nova acha de Pacheco, decidi então dizer de minha justiça.

Começando pelo mais básico, o autor dos impropérios. Pacheco Pereira é um dos muitos opinion makers fabricados à pressão por um país com um enorme défice de opinião própria. Não que não os haja noutros países, os opinion makers são o produto de uma sociedade de comunicação em constante procura de mais informação. O problema é que em Portugal os opininon makers são politizados, dão-se demasiada importância e, no limite, são muitas vezes fúteis - sobre isto falarei num post futuro.

O caso de Pacheco Pereira é bastante gráfico e exemplificativo do opinion maker que se considera muito importante e que retira prazer da polémica gratuita. A sua persona televisiva é, aliás, bastante conhecida por isso mesmo: é intratável, arrogante e bastante presunçosa. Pacheco gosta disso.

Quanto ao texto que Pacheco publicou no seu blog - e que pode ser lido
aqui, tenho de admitir que concordo com uma das coisas que por lá se pode ler. O "bla-bla do «culturalês»" a que o autor se refere, é de facto algo que me irrita sobejamente e a prova de um excesso de altivez tão do agrado de alguns representantes da cultura nacional. Há muito que os artistas aprenderam a usar esta linguagem para comunicar os seus projectos, intenções e objectivos. Não se sabe se tiveram de a aprender, e assim dar resposta à burocracia estatal que lhes é imposta por quem lhes dá os tão aguardados subsídios, ou se a usam para confundir, condicionar e convencer os espectadores de que aquilo que fazem e apresentam é realmente importante e de qualidade - e muitas, muitas vezes não é.

Este é, no entanto, o único ponto da dissertação de Pacheco com que concordo. Tudo o resto é um chorrilho de parvoíces indignas de alguém com dois dedos de testa. Desde logo, começando pela primeira frase do texto: "Olhando para os encontros dos “artistas” que venceram a Ministra encontramos um dos mundos menos conhecidos e escrutinados da vida pública portuguesa". Esta, das duas, uma, ou é mentira propositada, ou ignorância pura. Então não sabe Pacheco Pereira que os artistas e o seu trabalho são escrutinados pelo público que paga para os ir ver? Não é fácil perceber que não há, aliás, melhor e mais directa forma de escrutínio?

De resto - e para fugir às aborrecidas citações de um aborrecido texto - Pacheco revolta-se contra a forma fechada como o mundo dos artistas funciona, ergue-se na defesa dos interesses do povinho, que, segundo ele, quer saber como esta classe gasta os dinheiros públicos, e fala do mundo da arte e da cultura como um enorme e profundo grupo secreto, que se reúne em masmorras, sacrifica virgens em missas negras e bebe sangue em noites de lua cheia.

Será que Pacheco Pereira se preocupa com a forma como o erário público é gasto, por exemplo, pelos organismos públicos, autarquias, partidos políticos e políticos e deputados? Dinheiro que, diga-se, é substancialmente superior ao que anualmente é entregue aos artistas e produtores culturais? Será que Pacheco Pereira é estúpido ou simplesmente ressabiado?

Pessoalmente gosto de acreditar que a primeira hipótese é a mais acertada; detestaria saber que os políticos portugueses - os que já não fazem parte do panorama político nacional e os que ainda estão agarrados à teta - têm mau perder e fazem birra por tudo e por nada. Não há nada pior que imberbes no poder, certo?

Sim, é verdade, os artistas são geralmente arrogantes, dão-se demasiada importância e reagem muito mal à crítica. Os estudantes de interpretação, por exemplo, aprendem muito cedo esta arte do pretenciosismo. No entanto, não é menos verdade que ser artista em Portugal obriga a criar uma série de anti-corpos e a reagir antes de ser provocado. A verdade é que em Portugal a palavra "subsídio" tem uma conotação negativa e miserabilista e que pinta uma imagem de pobreza franciscana que só sobrevive à custa de esmolas que, na realidade, não deveria existir.

Esta arrogância da comunidade artística provavelmente só é uma realidade porque o pouco dinheiro que existe para a cultura portuguesa é um osso para mil cães. Alguns desses cães são demasiado pequenos, e talvez por isso, esse osso acabe sempre para ir parar aos dentes dos mesmos. Esta concorrência está longe de ser pacífica ou construtiva, e por essa razão, a cultura portuguesa é uma ávida praticante da autofagia.

Arrogantemente afirmo: o Teatro Universitário do Porto não está dependente do erário público de uma forma directa. Não podemos concorrer ao subsídio e a única forma que dinheiro do Estado entra na nossa conta é através da mensalidade paga pela Reitoria da Universidade do Porto. Agrada-me esta semi-independência, especialmente porque, com muito menos dinheiro, fazemos espectáculos superiores em qualidade a muitos de grupos profissionais.

Ou seja, o segredo não está no subsídio do Estado. A qualidade não depende obrigatoriamente do dinheiro do povo. A questão é que os profissionais têm de ser pagos e também são contribuintes. Contribuintes como os que Pacheco parece querer defender. Contribuintes que têm menos regalias e iguais obrigações e que acima de tudo querem trabalhar para ganhar a vida. É isto que a estupidez de Pacheco não o deixa compreender.

1 Comments:

  • At 22:13, Blogger dp said…

    http://miguelbonneville.blogspot.com/2010/07/o-poder-da-ignorancia-resposta-ao.html

     

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