kar(ma)toon

Bom Karma... ou não!

sábado, agosto 07, 2010

O FINAL



Várias são as conclusões que se retiram de "Toy Story 3". Várias e indiscutíveis. Desde logo que este é claramente um dos melhores filmes do ano - algo a que a Pixar já nos habituou. Depois, também como já tem vindo a ser usual, que estamos no território da animação, sim, mas não no de animação infantil. Há muito tempo que os argumentistas da companhia americana deixaram de escrever histórias dirigidas aos mais pequenos para se dedicarem a temas que só um adulto pode compreender totalmente; a forma como as embrulham, essa sim, agrada a pais e filhos.

Outra conclusão evidente é que a Pixar é a única produtora de cinema capaz de criar sequelas melhores que os filmes anteriores. "Toy Story 3" é claramente o melhor filme da série, e a todos os níveis, diga-se. Para além disso, a Pixar consegue, como poucos agentes cinematográficos, produzir blockbusters e filmes de autor com a mesma qualidade e brilhantismo. Os Toy Story são nitidamente blockbusters de verão ou de Natal; "Ratatouille" foi a ponte entre este cinema mais comercial e o cinema de autor tão bem representado por "Wall-E" e "Up".

A conclusão mais fácil de todas prova que a Pixar, sem esforço de maior, consegue, a cada novo trabalho, deixar a concorrência a largos anos-luz de distância. Nada nem ninguém consegue uma tão maravilhosa conjugação de elementos. A Pixar é o exemplo máximo de como é possível fazer um filme tecnicamente irrepreensível, bem realizado e ainda melhor escrito.

Por tudo isso, a última conclusão é esta: em 15 anos e 11 longas metragens a Pixar fez mais pelo cinema do que muitos realizadores, actores e produtores.

"Toy Story 3" pode não ser o melhor filme da Pixar - não era esse o objectivo, com certeza - mas é brilhante a todos os níveis. É mais adulto, aborda questões importantes, como a dor do abandono e da separação, e ainda consegue uma série de referências (não tão evidentes) a clássicos do cinema, em estilos tão diferentes como o western, os filmes de fugas de prisão, o terror e uma maravilhosa homenagem - esta um bocadinho mais clara - a Frankenstein. Tudo istgo e muito mais em pouco mais de hora e meia de um filme que rapidamente nos leva das gargalhadas ao nó na garganta e à lagrimazinha inevitável.

É um filme perfeito, sem defeitos a apontar e uma nova colecção de cenas antológicas. Toda a meia hora final; a forma como é «filmada» e construída e o ritmo que impõe ao espectador por si só mereciam todos os prémios do mundo. E depois há essa ideia absolutamente magnífica de transformarem Buzz Lightyear em El Buzzo, espécie de canastrão espanhol com todos os tiques de toureiro bailarino de Flamenco - situação que resulta em algumas das cenas mais cómicas do filme e que culmina com uma versão cigana dos Gipsy Kings para o tema principal do filme; de "You've Got a Friend In Me", de Randy Newman, passa para "Hay Un Amigo En Mi" absolutamente irresistível e altamente dançavel.

"Toy Story 3" é um dos melhores filmes do ano e tem muito a ensinar a todos os tipos de cinematografias. Ir vê-lo é obrigatório, quanto mais não seja porque as personagens merecem a despedida. Despedida que marca fortemente o final do filme e que é tão bem encenada pelo realizador, Lee Unkrich. Confesso: na cena final, em que Andy se despede dos seus brinquedos, e enquanto algumas lagrimazitas me escorriam cara abaixo, senti saudades daquelas personagens. Acho que esta é mesmo a melhor forma de definir o efeito Pixar.




Etiquetas: