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Bom Karma... ou não!

domingo, agosto 22, 2010

CINEMINHA DE VERÃO

Os filmes de verão estão diferentes. Decididamente. Normalmente o verão representava a silly season do cinema; as comédias mais ridículas, os blockbusters mais imberbes e os filmes infantis mais insuportáveis, sem esquecer os piores filmes-de-gaja alguma vez imaginados, enchiam as salas de cinema de Julho a Setembro. E continua a ser assim, não nos enganemos.

No entanto, 2010 inverteu um bocadinho essa tendência e trouxe alguma qualidade mesmo aos filmes típicos de verão. Entre a sala de cinema e a pirataria mais desavergonhada, já fui surpreendido por algumas vezes. Os filmes são os que se seguem...

A primeira (e maior) surpresa chama-se "The A-Team". E acreditem, até eu tenho de ler duas vezes o que escrevi para ter a certeza de que era mesmo isto que queria escrever. Mas é mesmo verdade, o filme que recupera uma das séries de maior sucesso dos anos 80, realizado por Joe Carnahan - o homem que para efeitos comerciais apareceu ao mundo com o excelente "Narc" e entretanto já assinou o hiper-excessivo "Smokin' Aces" - é desde já um dos filmes mais divertidos e despretensiosos do ano.

É um blockbuster de acção, sem dúvida, mas é um blockbuster bem realizado, com um sentido de humor genial, servido por um grupo de actores em ritmo de pura curtição e que é ao mesmo tempo a mais singela e sentida homenagem à tal série de televisão. Diverte e entretém, ou seja, cumpre os seus objectivos a 100% e deixa a vontade - e a quase certeza - de haver pelo menos uma sequela.



Sequela que é mais que certa no que diz respeito a "Salt". E por várias razões. Desde logo porque o filme deve estar a ser um estrondoso sucesso comercial por toda a parte. Depois, porque tem uma Angelina Jolie absolutamente fantástica e a dar o litro. E por fim, porque dá ao mundo um novo e irresistível action hero, Evelyn Salt.

A história, e todos os elementos, caminhos, enganos e surpresas, são matéria de pura banda desenhada. De tal forma que a Salt de Jolie se parece tremendamente com uma outra personagem feminina da Marvel, Black Widow. A agente russa(!) da S.H.I.E.L.D., e que apareceu pela primeira vez no cinema na sequela de "Iron Man", tem de facto demasiadas parecenças com Evelyn Salt, agente russa infiltrada nos EUA e que acaba por se tornar agente da C.I.A. mas que nunca deixa de ser realmente fiel à pátria mãe, mas que acaba por se enamorar pelo país que a recebeu e que...

Enfim, falar destas trocas e reviravoltas seria um enorme e desagradável spoiler, pelo que me fico por realçar o argumento de "Salt", bem escrito e engenhoso o suficiente para nos manter presos ao ecrã. A recuperação da esquecida guerra fria é também um elemento tão querido da banda desenhada americana, e acaba por ser um dos elementos mais fortes e interessantes do filme.

Para além disso, o realizador, Phillipe Noyce, está mais do que habituado a filmes de acção e espionagem; conhece as fórmulas deste género de cinema e sabe muito bem como levar o seu filme para um caminho onde a única saída... é a sequela. E "Salt" merece uma série de filmes. Ou melhor, Evelyn Salt merece não uma mas várias sequelas.



"Repo Men" é decididamente o grande filme deste verão e um clássico imediato do cinema de ficção científica. Realizado por um desconhecido Miguel Sapochnik, que até à data só tinha uma curta e um videoclip no currículo, "Repo Men" segue o imaginário e a estética tão reconhecidas de Phillip K. Dick e um dos temas preferenciais do autor, os ciborgues.

Num futuro próximo, uma companhia americana detém o monopólio do transplante de orgãos, ou melhor, da troca de orgãos defeituosos por orgãos cibernéticos, caríssimos e que dificilmente poderão ser pagos pelos transplantados. Quando isso acontece e os pacientes falham os pagamentos, a companhia manda os Repo Men para literalmente recuperarem o que é propriedade da empresa. E recuperam, seja lá como for.

Portanto, o que temos é um filme de humor negro, negríssimo, extremamente equilibrado, que nunca perde o gás e que se mantém sempre interessante e empolgante. E não é todos os dias que um filme destes, com subtís toques da melhor série B, tem ao serviço actores do calibre de Jude Law, Forrest Whitaker e Liev Schreiber. E Jude Law está realmente muito bem no papel de um Repo Man que a dada altura, e por causa de um «incidente» infeliz, se arrepende de tudo o que fez até à data e resolve mudar radicalmente de atitude.

"Repo Men" é completamente obrigatório, e um "Blade Runner" do século XXI. Já sei que os indefectíveis da obra-prima de Ridely Scott nunca aceitariam esta opinião, mas a verdade é que o filme de Sapochnik, mesmo sem a carga poética e filosófica de "Blade Runner", marca úm género que andava meio mortiço e sem identidade. E deve ser visto da forma mais justa, ou seja, despretensiosamente e com um balde de pipocas na mão.



Sobre "The Fourth Kind" não posso dizer nada. Porque dizer o mínimo que seja estraga o filme para quem ainda não o viu. Falarei de "The Fourth Kind" depois de estrear nas salas portuguesas, mas posso desde já adiantar que é um dos grandes filmes do ano. Ou melhor, é um dos filmes que marca 2010...