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Bom Karma... ou não!

sábado, setembro 26, 2009

SCI-FI FOREVER!


Segundo a Wikipedia, existem registos de literatura sci-fi (science fiction) desde o séculoII - vai-se lá saber se isso é correcto ou não... No entanto, se quisermos falar de sci-fi a sério, devemos invariavelmente falar de Júlio Verne e de outro senhor, directamente relacionado com o escritor - até porque fez uma versão cinematográfica de um dos seus contos - o também francês George Mélliès. Quando Méliès enfiou um foguetão num olho de uma lua feita de queijo, lançou, sem pensar nisso, as bases de todo um género cinematográfico. Como um dos mais antigos e respeitados géneros da sétima arte, a sci-fi é também um dos que tem uma legião de fanáticos seguidores, atentos a tudo o que é feito e ainda por cima especialmente críticos. Ou seja, não é tarefa fácil, realizar um filme de sci-fi e ter sucesso com isso. Por isso mesmo, é cada vez mais raro ver filmes destes que relançam bases para a
continuidade do género. Mesmo os que são criados a partir de obras de referência, livros ou contos de mestr
es da ficção científica, remakes de clássicos de Hollywood ou, pura e simplesmente originais fresquinhos saídos da imaginação fértil de alguns desses fanaticos seguidores. "District 9" é tudo aquilo que se tem ouvido dizer e mais uma coisa, importante, por sinal: relança definitivamente bases novas e originais para manter a saúde nem sempre boa do género sci-fi. E com uma classe, vigor e frescura que já não se viam há alguns anos. E porquê? Porque com toda a certeza tem um realizador que faz parte desse mesmo grupo de geeks sci-fie porque oi produzido por um dos maiores geeks sci-fi que o cinema já conheceu: Peter Jackson. Um produtor inteligente o suficiente para saber que a melhor maneira de orentar um filme destes seria pura e simplesmente retirar-se do plateau e dar toda a liberdade ao principal responsável, o sul-africano Neill Blomkamp. Portanto, vamos ao que interessa. "Distric 9" retrata uma Joanesburgo de um futuro próximo e de um monstruoso bairro de lata com uma característica especial: a maioria da sua população é extra-terrestre. Não é significativo explicar aqui como foram eles lá parar, ou porque razão ficaram presos na terra, o que importa - e importa mesmo - é perceber que o que eles sofrem às mãos dos humanos é exactamente o que alguns humanos categorizados de segunda e terceira categoria têm sofrido às mãos de outros seres humanos. Como tem acontecido ao longo de toda a história da humanidade. è este, portanto, o ponto de partida para um filme que não é só ficção científica e acção, mas sim também uma feroz alegoria à condição de se ser humano. Mais uma, dirão alguns. E com razão. O problema das alegorias sobre a condição de se ser humano é que pecam pela falta de originalidade e parecem-se todas umas com as outras. Esta, tem a vantagem de estar embrulhada num formato absolutamente novo e que coloca essa figura cinematograficamente omnipotente do alien num patamar revolucionário e que é o principal motivo para que este "District 9" possa ser considerado groundbraking. Quer isto dizer que o filme de Blomkamp faz pelo cinema de extra-terrestres o mesmo que "Cloverfield" fez pelos filmes de monstros à Godzilla, ou o que "Blair Witch Project" fez pelos filmes de terror ou "Seven" pelo thriller. Por outras palavras, enterra tudo o que se fazia até aqui e obriga todos aqueles que algum dia pensaram em fazer um filme de aliens a repensar tudo e a recomeçar do zero. Lembram-se do Gollum de O Senhor Dos Aneis? Esqueçam-no. Comparado com os «gafanhotos» de "District 9" o pequeno e desgraçado freak of nature, outrora uma maravilha da tecnologia CGI não passa de um tosco desenho animado sensaborão. Estas criaturas têm alma, coração e emoções bem claras e facilmente distinguidas por nós, espectadores. Isto é, emocionam-nos e são mais, muito mais, que simples figurantes. Christopher Johnson, o extra-terrestre que acaba por se emparelhar ao anti-herói do filme, tem aquilo que se pode considerar como uma óptima interpretação, e aproxima-se de uma vez por todas do sonho de Geroge Lucas que fez rir muita gente quando foi admitido pelo criador do terrivel Jar Jar Binks: ver uma personagem CGI nomeada para o Oscar da Academia. Não é caso para tanto, mas que é realmente impressionante, lá isso é. E é o tal patamar de que falava mais atrás.

De realçar ainda que os magníficos efeitos especiais de "District 9" conseguem aquilo que é mais desejado num filme que acaba por depender inteiramente de efeitos especiais, ou seja, quase nem se fazem notar. Estão de tal forma integrados na dramaturgia do filme que acabam por ser esquecidos pelo público. E ainda assim, impressionantes.

Obrigatório falar de um actor que ninguém conhecia - parte de um elenco totalmente desconhecido - e que tem um desempenho fabuloso, completamente arrasador e que é responsável por nos levar às costas pelo filme todo. Sharlto Copley, um actor de 36 anos com apenas quatro filmes no currículo, começa por se parecer levemente com um nerd saído directamente do "The Office" - ridículo, mesquinho e cobardolas - para aos poucos se transformar num homem que não quer ser herói e que apenas faz tudo o que pode para voltar a ser um tipo normal com uma vida normal. E é pungente na luta que desempenha. "District 9" da um valente e bem enfiado estaladão na fuça da maioria dos blockbusters americanos dos últmos dez anos. Pela simplicidade, pela humildade e acima de tudo porque os ensina a fazer isso mesmo, um blockbuster, com um magnífico argumento e com humanidade, sensibilidade, coração e inteligência e sem perder a energia, o interesse e, mais importante que tudo, sem nunca perder o espectador. Alguém consegue imaginar um filme, espécie de alien-thriller-sci-fi, com carradas de acção dar um nó na garganta de um espectador e sinceramente comovê-lo? Não? Então vão ver o filme e esperem pelo úlitmo plano. Mesmo o útimo, antes do fade out. É que é só um dos mais bonitos e significativos de 2009. Mais nada.



Agora, esqueçam tudo o que eu escrevi atrás e pensem em "District 9" como um dos mais belos e tocantes filmes que vão poder ver em 2009. Sem dúvida um sério candidato ao melhor filme do ano para este blog.

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