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Bom Karma... ou não!

segunda-feira, fevereiro 09, 2009

VICKY CRISTINA BARCELONA

Já para já, não se percebe o título do último filme de Woody Allen. Ao contrário do que lhe costuma ser usual, Allen não faz da magnífica cidade de Barcelona uma personagem central na história. Aliás, os acontecimentos mais importantes do filme têm lugar não em Barcelona mas em Oviedo, o que renuncia por completo o rótulo de filme-bilhete postal que tantos críticos têm atribuido ao mais recente trabalho de Allen. Por outro lado este cartaz também não me parece correcto. Falta claramente aqui uma personagem...

E este é um trabalho muito mais Almodovariano do que Woodyalleniano. O argumento, as personagens, uma certa esquizofrenia saudável - partilhada por ambos os realizadores, mas neste filme muito mais a do espanhol do que a do americano - a música e o facto incontornável de ter dois actores espanhóis e que já estiveram a mando de Almodóvar. Ou seja, depois do cinzentismo arrogante e emproado britânico que fez com que Woody Allen assinasse a pior sequência de filmes da sua longuíssima carreira - uma opinião muito minha, claro - a energia catalã trouxe de volta um dos realizadores mais importantes da história do cinema e ainda por cima com toques exóticos de uma cinematografia fresca e diferente.

Não que Woody Allen já não tenha realizado filmes assim, longe da comédia slapstick que tanto admira e bastante sérios no conteúdo. "Vicky Cristina Barcelona" é um filme sério, nada cómico, nada desbragado, bastante dramático, até, e muito cínico sobre as vidas de todos nós; sobre o que queremos e não temos coragem de assumir, sobre os passos que não damos e devíamos mesmo dar, sobre aquilo que nós somos e aquilo que nós queremos fazer acreditar que somos. Uma história simples de um triângulo amoroso-mais-um, mas feita de pessoas reais, com desejos reais e dúvidas reais, bem reais.

Não é uma obra-prima, mas é um filme que transporta uma energia relaxada e muito confortável, e que ao mesmo tempo demonstra uma enorme sensibilidade de sentimentos. Um filme de Woody Allen e que no entanto tem a cena de amor mais bonita dos últimos tempos. Simples, extremamente bem filmada e ainda melhor interpretada. Vem logo a seguir a uma sequência que tresanda a Almodóvar - que quase parece uma homenagem, aliás - e que envolve um grupo de convivas e um guitarrista clássico num jardim à noite... Familiar, não?

"Vicky Cristina Barcelona" parecia ser mais um filme falhado do mestre. Não o é. Surpreendeu-me, soube bem e acima de tudo deu-me a conhecer o que pode sair de um cineasta genial e que não contente se deixa contaminar pelos tiques de outro cineasta genial. Para além disso tem os habituais diálogos rápidos e brilhantes de Allen, as interpretações sempre no mais alto nível - de onde se destaca o magnífico trabalho de Penélope Cruz, justamente nomeado para o Oscar de actriz secundária - e uma forma de filmar sempre artesanal mas sempre tão perfeita.

Como já disse, foi uma boa, muito boa, surpresa. O único problema - e com que ja me tinha deparado em "Milk" - é o público que vai a estes filmes. Público que tanto se ri do comportamento de um homosexual, como se ri de três pessoas que subitamente se tornam amantes, como se ri, no fundo, da sua própria vida. Público que obviamente devia ter ido ver um filme diferente e que foi a este porque ainda não tinha estreado o "Pantera Cor-de-Rosa 2".
O brinde, absolutamente irresistível, é a música que abre o filme e que é maravilhosa. De uns senhores chamados Giulia y Los Tellarini. Lá mais em baixo, fazem favor.




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