FROST / NIXON
O melhor que se pode dizer do último filme de Ron Howard é que é tecnicamente competente. E já é dizer muito de uma obra que prima pelo aborrecimento, pela desilusão e por ser um tremendo bocejo. Desilusão não porque estivesse à espera de um grande filme de um realizador tarefeiro que, sabe-se lá como, quase atingiu o estatuto de auteur. Desilusão porque no fim, depois de mais de duas horas de filme, saí da sala exactamente como entrei. Ou seja, sem saber que impacto tiveram na realidade as entrevistas que David Frost fez a Richard Nixon na ressaca da sua demissão do cargo de presidente dos EUA.
Toda a gente sabe quem foi Nixon, toda a gente sabe o que ele fez e as consequências que isso trouxe a um país na altura à beira de um esgotamento nervoso. (Quase) ninguém conhecia estas entrevistas, pelo que devia ter sido uma prioridade do realizador de um filme que se propõe a abordá-las, dar ao público uma noção do seu impacto na sociedade americana. Mas não.
O filme arranca bem, com ritmo, com o montar da acção de forma dinâmica e que nos prende ao ecrã. A apresentação das personagens é bem feita e imediatamente ficamos a saber quem é quem e o que é que se está a passar. E pronto, logo a seguir a primeira ejaculação precoce. Para já porque Ron Howard, na dúvida entre fazer um falso documentário ou uma dramatização dos acontecimentos, cria um híbrido sem sentido e que chega a ser ridículo. Os principais intervenientes da realização das entrevistas - os produtores e investigadores que trabalharam com Frost - vão falando para a câmara como se de um documentário se tratasse, explicando ao espectador o que se estava a passar na altura. O pior é que esse estratagema não só não é bem explorado, como a dada altura é totalmente abandonado por Howard. A coisa dá nitidamente a sensação de não ter sido bem pensada e de não ser mais do que isso mesmo: um estratagema.
A segunda ejaculação precoce dá-se quando, já a meio do filme, nos damos conta de que o realizador não tinha planeado dar grande atenção às entrevistas em si. O centro de toda a história é pura e simplesmente passado a correr, e em poucos minutos - bem somados - temos tudo arrumado a um canto. Ou seja, a primeira hora de filme é passada a dar-nos a sensação de que realmente algo de grande se iria passar, e a segunda hora é utilizada para nos dizer que sim, era importante, mas também não tanto. Quando é o próprio Nixon quem diz a Frost, no primeiro encontro que tiveram, que nunca tinha sido desafiado para um duelo. Frost responde que não é um duelo e Nixon, firme e ele próprio desafiador, atira um "claro que é". Ron Howard não achou.
A última ejaculação precoce chega nos últimos instantes do filme, quando nos apercebemos de que não vamos ficar esclarecidos quanto às repercuções destas entrevistas. Nem no que às sondagens diz respeito, nem no que à opinião pública diz respeito, nem coisíssima nenhuma. O filme acaba, tudo segue o seu caminho e vamos lá embora que se faz tarde.
E de repente tive mesmo vontade de ir ver a peça de teatro que deu origem ao filme e ainda por cima com os mesmos actores principais...
É pena. "Frost / Nixon" tinha tudo para ser um bom filme. Tem um elenco do caraças, pura e simplesmente deitado ao lixo - Michael Sheen, Frank Langella, Kevin Bacon, Oliver Platt, Sam Rockwell, Matthew Macfadyen - tem um bom argumento, uma boa equipa técnica e mais uma boa banda sonora da autoria de Hans Zimmer. Só não tem um bom realizador. E é pena.
Etiquetas: Cinema, Filmes Vistos
0 Comments:
Enviar um comentário
<< Home