kar(ma)toon

Bom Karma... ou não!

domingo, maio 04, 2008

SESSÃO DUPLA

Sessão dupla porque é de cinema feito a partir de banda desenhada que se fala a seguir.




Já foi há uns dias que vi em casa "30 Dias de Noite", a transposição da Graphic Novel com o mesmo nome escrita por Steve Niles, e que é mais um dos casos de sucesso da editora Dark Horse. Longe daquela BD mais convencional, feita de super-heróis e dos seus super poderes, a Dark Horse sempre marcou a sua carreira com histórias mais adultas, violentas, politicamente incorrectas e, por vezes, com óptimos argumentos para cinema de terror. Este é um desses casos. História de vampiros, mas contada de uma forma diferente das habituais histórias de vampiros, sem crucifixos, caixões, alho, estacas no coração e castelos sinistros, "30 Dias..." mostra-nos a invasão de uma pequena e isolada vila do Alaska por parte de um grupo de violentíssimos vampiros. Vampiros que não estão para brincadeiras e que não têm outra coisa em mente que não seja exterminar toda a população lá do burgo. Isto tudo numa altura do ano em que a pequena vila está sujeita a um mês inteirinho da noite mais escura - conveniente, digo eu...
Enfim, o filme começa bastante bem, instala imediatamente aquela certeza de que algo de terrivelmente mau vai acontecer e cheira a John Carpenter por todos os lados. O pior é que um filme de hora e meia onde é preciso encaixar trinta dias em que a única coisa que realmente se passa é um grupo de meia dúzia de sobreviventes a ver se consegue manter-se escondido durante... 30 dias, não é fácil de realizar. Em consequência disso a coisa esmorece, perde o ritmo e o interesse. E o que começa por ser um filme de terror do caraças, daqueles que não são para qualquer menino da mamã, transforma-se num sofrível exercício de técnica e pouco mais.






Posto isto...


Fui ver este fim de semana o "Iron Man" e confesso desde já que o fui ver repleto de preconceitos. A minha vasta experiência com os heróis da Marvel não deixava espaço a dúvidas: no universo da mítica editora americana, o defensor da justiça munido com uma armadura à prova de quase tudo não era senão um herói secundário, normalmente parceiro de outros heróis como ele ou mesmo elemento de um grupo de super-heróis, à laia dos famosos X-Men. Ou seja, apesar de ter tido direito a diversas histórias em nome próprio, o alter-ego do multimilionário Tony Stark nunca teve a importância de um Homem Aranha, de um Hulk ou, mais uma vez, dos X-Men. Portanto, tudo dava a entender ser este mais um daqueles projectos que tentam reciclar os heróis que sobram para fazer mais uns trocos, na bilheteira e nos gadgets do Toys 'R' Us. E estava tão enganado que dei por mim a lançar pedidos de desculpa para o ecrã. "Iron Man"
é desde já uma das melhores adaptações de um dos heróis da Marvel, bem filmado, bem escrito, com um argumento mais do que sólido, com um fantástico sentido de humor e nada, mas mesmo nada, pretensioso. O filme entretém, convida à pipoca, e serve na perfeição os conhecedores da personagem da mesma forma que os que nunca ouviram falar em Tony Stark, Iron Man e o diabo a quatro. E pisca o olho a uma possível sequela, nomeadamente por introduzir, lá mais para o finzinho, e depois de uma série de piadas bem esgalhadas à custa do seu longo nome, a referência à S.H.I.E.L.D., uma organização de espiões que é um elemento obrigatório da vida do Iron Man.
Para além de tudo isto, o filme é servido por uma série fantástica de actores, nomeadamente Jeff Bridges, Gwyneth Paltrow e o grande Robert Downey Jr. no papel de Tony Stark/Iron Man. Em suma, um bom filme de acção, que foge com elegância aos cânones impostos por Jerry Bruckheimer e Michael Bay, que diverte e que mantém viva esta recente tradição de «roubar» à história da banda desenhada os novos heróis da sétima arte.