
Isto tudo para falar no “Bee Movie” que vi no fim-de-semana passado, e que, para os devidos efeitos, representa a grande incursão de Jerry Seinfeld no mundo da sétima arte. E se Seinfeld sempre deu a imagem de um artista metódico, que sabe muito bem gerir a sua carreira, a escolha de um filme de animação para rampa de lançamento, ainda por cima sob a tutela do mestre Spielberg, prova sem dúvida alguma que o homem sabe bem o que faz e que não está disposto a correr riscos desnecessários. Para além disso, ao vermos o making of de “Bee Movie” ficamos a perceber que Seinfeld foi praticamente o realizador para lá do realizador desta longa-metragem de animação. Foi ele que escolheu o elenco, foi ele que dirigiu os seus colegas actores nos momentos da gravação dos diálogos, foi ele que escreveu alguns desses diálogos e foi ele que deu opiniões aos desenhadores, produtores e compositores, e á senhora que lhe levava todos os dias um Donut e um Capuccino. Seinfeld foi quase onipotente em “Bee Movie”, pelo que é certo e seguro afirmar que “Bee Movie” é Seinfeld em toda a sua magnitude; que faz parte do mundo de Seinfeld como o podíamos ver na série e como o podemos ver nos sets de stand up que já não faz – embora esteja a tentar um regresso em força aos palcos. Por isso mesmo “Bee Movie” é um filme de animação com diálogos rápidos, inteligentíssimos, mordazes, repletos de trocadilhos verdadeiramente diabólicos e que o tornam praticamente impossível de ser traduzido. De tal forma que damos por nós a rirmo-nos não das piadas escondidas em “Bee Movie” mas das frases absolutamente ridículas e sem nexo que os tradutores conseguiram, com toda a sua maravilhosa criatividade, descortinar.
Em suma – e já vou explicar porque este “em suma” surgiu tão cedo -, “Bee Movie” tem piada, assim mesmo.
Tudo o resto… é fraquito. Principalmente a animação, que volta a demonstrar a diferença abissal que existe entre a Pixar e todos os outros estúdios de animação. As abelhinhas são muito giras, o seu mundo muito imaginativo e bem criado, ambos repletos de pormenores deliciosos e encantadores, mas, mais uma vez, tudo o resto é… fraquito. Os seres humanos parecem cepos com membros presos por pregos, toscos, muito rígidos e sem a mobilidade já há muito alcançada nos estúdios da (perdoem a repetição) Pixar. A única excepção é mesmo o terrível advogado que luta com Barry B. Benson (Seinfeld) em tribunal pela posse do mel, e que como personagem teve um carinho especial por parte dos desenhadores. O «boneco» e a fantástica interpretação de John Goodman são memoráveis e mereciam mais «tempo de antena».
De resto, uma história não muito bem esgalhada, e uma série de situações demasiado previsíveis para nos manter realmente atentos. “Bee Movie” é, como já disse, um filme engraçado, cheio de boas intenções, mas mediano face à concorrência praticamente imbatível da Pixar – já o tinha dito? – mas de onde Seinfeld sai incólume, até porque grande parte dos trunfos da longa metragem vêm directamente das mãos do comediante.
Merece a ida ao vídeo clube, mas só se o conseguirem ver sem legendagem…
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