kar(ma)toon

Bom Karma... ou não!

segunda-feira, setembro 18, 2006



Decidiu-se a sair finalmente de casa. O Domingo já ia no fim e ainda não tinha sentido o ar da rua.
Caminhou até à padaria no fim da rua. O sol estava à altura do seu ombro direito e do lado do seu ombro esquerdo já se sentia o friozinho do fim de tarde.
Ao balcão da padaria pediu os três pães mais brancos que viu e uma nata. O senhor disse-lhe que eram três barquinhos e uma nata. Quando pagou disse à senhora da registadora "são três barquinhos e uma nata. Foi assim que me disseram para dizer". "E disse muito bem", respondeu a senhora.
Voltou para casa com a idéia de lanchar à janela da cozinha, como fazia todos os dias. Caminhou de regresso a casa com toda a calma do mundo. Adorava aquela rua, aquela vizinhança. Eram, na sua maioria estrangeiros, indianos, chineses, africanos e ucranianos. Trabalhadores e estudantes, todos naquela rua, naqueles prédios. Ao fundo, o anúncio luminoso Taj Mahal não deixava lugar a equivocos. Aquele lugar era de todo o mundo. Um aglomerado de pequenas embaixadas.
Já em casa preparou os dois pães que sempre comia ao lanche. Um com doce de morango e o outro só com manteiga. Aqueceu o leite no microondas amarelado, colocou tudo no tabuleiro de plástico baço não se esquecendo de dois guardanapos de papel que se esgotavam imediatamente a seguir à primeira dentada no pão com doce de morango. Gostava daquela cerimónia aparentemente desnecessária. Fazia-o sentir como se estivesse a lanchar numa requintada casa de chá. Uma casa de chá das que ficam no meio de um lindo jardim. Servido por empregados altamente qualificados para a tarefa.
Olhou os telhados dos vizinhos e imaginou-se no meio de carvalhos, acácias, rosinhas de Santa Teresa e Boganvilias. Imaginava que a calma e o silêncio que reinavam naqueles telhados eram na realidade os sons desse tal jardim e dos animais que o habitavam. O ruído das folhas agitadas pelo vento.
Olhou os telhados de novo e pensou que provavelmente, naquela vizinhança, àquela hora, ele seria a única pessoa atrás de uma janela de cozinha, com um tabuleiro baço nos joelhos, doce de morango nos dedos e feliz por estar ali.