The Inside Man
Ou Spike Lee a arriscar por terrenos não muito comuns na sua cinematografia.
Neste caso o thriller e o heist movie. Heist movie mas ao contrário.
Confuso?
Passo a explicar.
O heist movie é um sub-género da sétima arte onde nos é dada a oportunidade de seguir ao pormenor todos os passos do planeamento de um assalto, geralmente o assalto perfeito, habilmente desenhado, sem falhas e sempre, mas sempre, com um back up plan fantástico. Habitualmente o climax desses filmes é precisamente a execução fiél desse assalto mas não sem antes sermos baralhados por diversos falsos finais, abrilhantados regra geral por uma conclusão a todos os níveis genial e inesperada.
Ora, o que Lee faz é precisamente pegar neste sub-género, misturar todos os ingredientes e servir-nos a refeição começando pela sobremesa. E que sobremesa! O primeiro quarto de hora de filme é genial. Não nos mostra absolutamente nada de nada, não nos diz nada de nada, a não ser que aquele é de facto o assalto perfeito. Aliás, as primeiras palavras vêm precisamente da boca de Dalton Russell, o cérebro que planeia e gere esta operação e que falando directamente para o espectador diz My name is Dalton Russell. Pay strict attention to what I say because I choose my words carefully and I never repeat myself.
Extremamente bem filmados, estes quinze minutos iniciais lançam-nos literalmente na confusão que é um assalto a um banco daquelas proporções. Cada movimento de câmara transmite-nos o exacto stress, a exacta ansiedade, a exacta intensidade que uma situação daquelas acarreta.
Spike Lee inicia o filme (literalmente) com uma bomba de fumo e só aos poucos - com todo o tempo do mundo - vai dissipando esse fumo para começarmos a ver - mas sem nunca vermos verdadeiramente - o que se esconde por detrás daquele elaboradíssimo plano.
A banda sonora, mais uma vez da responsabilidade de Terrence Blanchard, ajuda a criar os diversos ambiente que pontuam o filme, e, clichés à parte, funciona quase como uma personagem invisivel.
Para além disso temos Denzel Washington, desta vez conseguindo fugir a mais uma personagem à la Denzel, cínica e insuportável, e construindo um detective longe de ser perfeito e muito próximo de todos nós; Jodie Foster, sempre bem, mas agora sem esforço algum; Chistopher Plummer, sempre um prazer; e Clive Owen, a gritar por todos os poros eu devia ser o novo James Bond e ponto final!, um portento de classe, de saber estar, falar e andar sem recorrer ao facilitismo do overacting. Numa palavra só, COOL.
A ver e rever.
Aliás, amanhã vou pagar uma dívida antiga à minha querida mãe e vou vê-lo outra vez, desta vez com ela.
1 Comments:
At 11:02, Carlos said…
Sem dúvida, cool. Mas, por estar mal habituado, estava à espera de um ainda maior twist final, um "Suspeitos do Costume", que não está lá.
Deixa a desejar uma surpresa maior, mas é uma das melhores fitas dos últimos tempos.
E muito, muito bem filmada.
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