FALANDO DE COISAS REALMENTE IMPORTANTES...
E de dois filmes que devem mesmo ser roubados e vistos. Roubados porque não há a mínima hipótese de os verem no circuito comercial tuga, pouco dado a objectos desta natureza.
O primeiro, Metropia'', é uma produção nórdica, espécie de filme de animação - e se o virem vão perceber o «espécie» - realmente original e que reflecte um imaginário a que normalmente a animação tenta fugir. Aqui não há bichos fofinhos falantes, fadas, dragões ou princesas. 'Metropia' é um filme angustiante sobre um futuro não muito longínquo e consideravelmente cinzento e pessimista. Escrito e realizado por Tarik Saleh, conta com as vozes de Vincent Gallo, Juliette Lewis, Stellan Skarsgard e Udo Kier, Metropia'' surpreende acim de tudo pelo seu aspecto pouco habitual e hiper-realista e ao mesmo tempo mais do que somente realista. É estranho, mas também difícil de explicar. Melhor mesmo é ver o trailer, para já, e ir à procura do filme.
'Into Eternity'é um documentário brilhante, provavelmente o melhor que já vi. Realizado pelo dinamarquês Michael Madsen, o filme é uma espécie de documento para as gerações futuras. Uma espécie de casulo que pode ser enterrado para ser descoberto daqui a alguns milhares de anos, e que denuncia os malefícios do lixo radioactivo que a humanidade tem vindo a acumular. Centrado no gigantesco complexo em construção na Finlândia, e que servirá para guardar todo o lixo radioactivo produzido naquele país, o documentário conta com entrevistas a vários cientistas da área nuclear, que de forma inequívoca expõem a dificuldade em lidar com um problema aparentemente sem solução. A qualidade de 'Into Eternity' está na forma como Madsen filma a frieza das paisagens, mas também da central nuclear finlandesa e dos túneis que máquinas gigantescas escavam no interior de uma montanha. Existe algum exagero na deferência do discurso, mas a verdade é que é consentânea com as imagens, lentas, estáticas, até, e que maravilham pela beleza fantasmagórica e quase clínica. É um magnífico filme, que merece ser visto num ecrã grande e com qualidade. Infelizmente, o ecrã do computador parece ser o destino mais certo, já que documentários não produzidos por um qualquer dos canais generalistas portugueses, têm poucas hipóteses comerciais.
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