HÁ FILMES PERFEITOS?
Atacado pelo vírus do sem-nada-para-fazer - e ainda há espera do da gripe A - resolvi rever "Taxi Driver" este fim-de-semana. E não há muito a dizer a não ser que é obviamente obrigatório. Que é um dos filmes mais influentes da história do cinema, não só no género, como no conteúdo, na forma de realizar e em algumas cenas que se tornaram verdadeiras referências para actores em fase de crescimento. Que é um filme de um actor só e de um actor que raramente conseguiu o mesmo nível de desempenho. Que é um argumento tão bem escrito que era totalmente impossível não o utilizar. Por fim, que é um filme décadas à frente do seu tempo e, no entanto, irrepetível; ninguém, por muito influenciado que tenha sido por "Taxi Driver", conseguiu desde então voltar a criar uma obra deste calibre. Nem mesmo Martin Scorcese.
Tudo é perfeito em "Taxi Driver". Os diálogos, a banda sonora sempre presente e a lembrar o film noir de Alfred Hitchcock - não é para menos, já que o compositor, Bernard Herrman, assinou algumas partituras clássicas para filmes do realizador inglês - a forma como Scorcese filma as ruas de Nova Iorque, na boa tradição de John Cassavetes; como destaca os pormenores que julga serem os verdadeiramente importantes, como o taxi de Travis Bickle, os anúncios luminosos, as putas e chulos ou os olhos do taxista e o que eles vêem (acima de tudo como vêem). Foi o próprio realizador quem admitiu há pouco tempo que a intenção foi filmar a história como de um filme de terror se tratasse. E não há como duvidar. Basta ver o genérico de abertura, aquela imagem mítica do taxi a surgir do meio do fumo novaiorquino como se fosse um monstro, para percebermos que por baixo da imagem banal da vida daquele taxista, se esconde algo sujo e horroroso; algo viscoso e rastejante e que não é mais que a sua instabilidade mental posta á prova todas noites pelos "animais" que vagueiam pelas ruas de Manhattan. As páginas do seu diário, lidas em voz alta e que nos levam pela lenta descida de Bickle ao seu próprio inferno, não são para qualquer um. É preciso ter estômago para entrar na mente de alguém assim, e Scorcese tem o mérito de não ter tido medo de a mostrar. Sem edição, sem censura. All the animals come out at night - whores, skunk pussies, buggers, queens, fairies, dopers, junkies, sick, venal. Someday a real rain will come and wash all this scum off the streets.
Tudo é perfeito em "Taxi Driver". Os diálogos, a banda sonora sempre presente e a lembrar o film noir de Alfred Hitchcock - não é para menos, já que o compositor, Bernard Herrman, assinou algumas partituras clássicas para filmes do realizador inglês - a forma como Scorcese filma as ruas de Nova Iorque, na boa tradição de John Cassavetes; como destaca os pormenores que julga serem os verdadeiramente importantes, como o taxi de Travis Bickle, os anúncios luminosos, as putas e chulos ou os olhos do taxista e o que eles vêem (acima de tudo como vêem). Foi o próprio realizador quem admitiu há pouco tempo que a intenção foi filmar a história como de um filme de terror se tratasse. E não há como duvidar. Basta ver o genérico de abertura, aquela imagem mítica do taxi a surgir do meio do fumo novaiorquino como se fosse um monstro, para percebermos que por baixo da imagem banal da vida daquele taxista, se esconde algo sujo e horroroso; algo viscoso e rastejante e que não é mais que a sua instabilidade mental posta á prova todas noites pelos "animais" que vagueiam pelas ruas de Manhattan. As páginas do seu diário, lidas em voz alta e que nos levam pela lenta descida de Bickle ao seu próprio inferno, não são para qualquer um. É preciso ter estômago para entrar na mente de alguém assim, e Scorcese tem o mérito de não ter tido medo de a mostrar. Sem edição, sem censura. All the animals come out at night - whores, skunk pussies, buggers, queens, fairies, dopers, junkies, sick, venal. Someday a real rain will come and wash all this scum off the streets.
Loneliness has followed me my whole life. Everywhere. In bars, in cars, sidewalks, stores, everywhere. There's no escape. I'm God's lonely man...
"Taxi Driver" acaba por ser um filme sobre a solidão levada ao extremo da loucura. Aquela solidão que invariavelmente acaba por ter consequências catárticas. E todo o filme é um adiar constante dessa catárse. Já sabemos, mesmo sem nunca o termos visto, que algo muito mau vai acabar por acontecer. A travis Bickle ou por sua responsabilidade. A personagem foi desenhada para transportar uma tragédia permanentemente em ponto de ebulição, pronta a explodir. Travis Bickle é literalmente um homem-bomba da qual quase conseguímos ouvir o tic-tac e Robert DeNiro é perfeito como raros actores alguma vez o foram. Desaparece completamente do ecrã e deixa Bickle tomar conta de si e do seu corpo de uma forma assustadora.
"Taxi Driver" é cinema seminal, icónico. Criador de um género, de uma maneira de filmar, de uma maneira de interpretar. É perfeito, sem dúvida. Aprende-se mais de cinema nas suas quase duas horas que em muitas aulas da faculdade. Porque há coisas que não se conseguem ensinar de letra, têm de ser vistas e entendidas para nos fazerem mossa. E mais uma vez: é irrepetível. Como Travis Bickle diz a dada altura - The idea had been growing in my brain for some time: TRUE force. All the king's men cannot put it back together again - também "Taxi Driver" é algo que nem todos os realizadores juntos conseguiriam fazer.
Etiquetas: Filmes Vistos
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