POLITOLOGIA DE BOLSO
Não sou nem pretendo ser politólogo, essa bela profissão que parece ter sido descoberta pela televisão, e que dela faz tão bom uso - se tivermos em consideração a busca de audiências. É como Zé Povinho que me questiono muitas vezes o porquê de algumas coisas que envolvem directamente os partidos políticos com assento parlamentar. Neste caso específico o Partido Comunista Português. O partido que actualmente mais me irrita. Mais ainda que o nefasto CDS-PP e por razões que mais à frente explicarei.
O PCP, de todos os partidos nacionais, era aquele que à partida, e pela sua ideologia, tinha a maior responsabilidade. Responsabilidade em ser um partido moderno e em constante actualização com o rumo dos acontecimentos. Foi um dos partidos que mais lutou pela conquista da democracia para Portugal e que - mais uma vez pela sua ideologia de esquerda - sempre combateu pelos interesses do povo. O problema é que depois de ter ajudado a revolução que mudou de uma vez por todas o cenário político do país, resolveu ficar por lá, há mais de 30 anos, e congelou. Entrou em crio-hibernação. Tudo no PCP cheira a velho, a mofo. Os seus dirigentes, as suas campanhas e, de um modo geral, a sua forma de fazer política. O modus operandi do PCP tresanda ainda a partido clandestino. Basta ver as campanhas eleitorais. Os cartazes são nitidamente uma reminiscência do início da década de oitenta, os discursos são antiquados e muitas das vezes desajustados - não no conteúdo, mas antes na forma - e mesmo a decoração das campanhas está muitas décadas atrasada. O PCP apostou na nostalgia e (quase assumidamente) prefere fazer as coisas à moda antiga. Estranho, especialmente quando se sabe que sempre lutou pela mudança, pelo avanço e pelo modernizar de costumes e formas de intelectualizar. Ideologicamente, claro, porque na práctica continua a fazer o que todas as ditaduras comunistas fizeram durante os anos da guerra fria. Andar para trás, atrasar, impedir o avanço, regredir, tornar retrógrado.
Conheço vários comunistas convictos. Uns sabem porque o são, outros nem desconfiam. Herdaram esse comunismo. De todos, apenas um tenta olhar os movimentos do partido de forma coerente e isenta. É curiosamente um dos mais jovens, de todos os que conheço, mas é também o que melhor conhece o PCP. Por várias razões. Concorda com muitos dos princípios e discorda de alguns, mas é também um opositor desta forma de fazer política. A filosofia de caça-votos do PCP é desactualizada, e o núcleo duro do partido, composto por demasiada gente na idade da reforma, obviamente não entende a coisa dessa maneira. Dizia-me esse jovem comunista que o PCP é o único partido nacional onde ainda existe uma forte e determinada militância. Concordo parcialmente e entendo que isso poderá já ter sido uma vantagem. Hoje em dia não o é. Não pelo menos como essa militância é usada pelos comunistas. Porque o CDS-PP também tem ferozes militantes, disso não haja dúvidas. São coerentes com os princípios ideológicos do partido que defendem, e mantêm-se firmes na defesa daquilo em que acreditam. Por muito que seja igualmente e absolutamente desajustado da realidade, e por muito que seja também o reflexo de um tempo que já há muito foi ultrapassado. No entanto, os populares mudaram um nadinha o modo como conduzem as suas políticas. Embora não pareça, conseguiram introduzir um certo elemento de modernismo no seu discurso. Aproximaram-no de uma outra fatia da população e de forma orquestrada souberam adequá-lo ao aparecimento de alguns novos descontentamentos sociais que, imagine-se, até forma de encontro ao que sempre o o partido de Paulo Portas tinha defendido. São odiáveis, são perigosamente irritantes, indisfarçadamente xenófabos e ortodoxos como o próprio Estado Novo. Mas não são nada burros. E isso chateia.
Em relação à pergunta que deixei aqui, e em que basicamente procurava uma resposta ao ódio comunista pelos do Bloco de Esquerda:
Indagados vários destes «meus» comunistas, obtive uma mesma resposta quase generalizadamente. Segundo eles, o BE não passa de um partideco novo e sem quaisquer propostas efectivas, carregadinho de utopias várias e absolutamente sem nexo. Para mim tudo isto soa a estranho, já que sim, o BE é de facto um partido novo - quase que se pode ainda considerar como recém-nascido - mas que nos poucos anos que leva de vida conseguiu ultrapassar em velocidade o PCP e o CDS-PP. Para além disso, é um dos partidos socialmente mais activos e um dos que mais propostas apresente na Assembleia da República - sejam elas utópicas ou não, isso sinceramente não sei avaliar. Portanto, os argumentos deste comunistas que manifestam o tal odiozinho pelos esquerdistas, e aos quais ainda acrescem o facto de ter dividido a esquerda, tresandam a ressabiamento de mau perdedor. Até porque duvido honestamente que alguma vez a esquerda tenha estado de facto unida. Por outro lado, se alguma vez esteve unida, o simples facto de se ter dividio somente pelo surgir de uma nova alternativa partidária, diz muito da forma como a esquerda estava a ser gerida. Basta pensarmos no líder que ocupou o lugar deixado vago por Álvaro Cunhal - esse muito fraquinho Carlos Carvalhas - e a polémica em que o PCP se envolveu aquando da crise dos progressistas, para percbermos, mais uma vez, que o comunismo em Portugal é feito à mão, de forma tosca e sem o recurso a qualquer tipo de tecnologia ideológica. E a piada/provocação que deixei aqui há dias e que referia o uso de ranchos folclóricos, tambores e gaitas-de-foles nos comícios e arruadas dos comunistas (e não só, diga-se), não era somente uma graçola. É o sinal mais caricatural da paragem no tempo por parte do PCP. Porque os outros que recorrem a essa forma tão portuguesa de chamar público têm outros recursos e fazem bom uso deles. O PCP não.
E é pena. Já houve um tempo em que acreditava nos comunistas. Acreditava que eles realmente acreditavam naquilo que pregavam. Rapidamente me dei conta de que se Marx fosse vivo, seria o primeiro a desacreditar todo e qualquer tipo de partido comunista por esse mundo fora. É que nenhum comunista em actividade alguma vez deu atenção às palavras do próprio «pai» do comunismo (afirmação altamente polémica) quando este afirmou sem dúvidas que a ideologia, ela própria, era uma utopia só possível de concretizar se um dia o mundo inteiro, sem excepções, a decidisse pôr em práctica.
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