O FILME DO ANO
(O texto que se segue - título inclusive - é da exclusiva responsablidade do seu autor)
Fui ver "Cloverfield" no dia de estreia, logo na primeira sessão em que me era possivel estar presente e ainda estou arrasado. Quando pensava já serem raros os filmes que me deixam vários dias a pensar neles, eis que surge uma das tais obras que a meu ver fazem o cinema andar dois passos para a frente. "Cloverfield" pode não ser o melhor filme que vamos ver em 2008, mas é certamente o mais arrojado, o mais original e aquele que certamente tem mais hióteses de ficar pesadamente marcado na história da sétima.
E sem exageros!
Já sei que a idéia de vermos a história ser contada literalmente pelos olhos de quem a viveu tem muito de "The Blair Witch Project", mas os responsáveis por esse filme, quando o realizaram, não pensavam que o conceito poderia (haveria de) ser levado a um nível destes. Matt Reeves e J. J. Abrams arriscaram tudo num projecto que nunca havia sido tentado por ninguém, que está claramente uns valentes anos à frente de tudo o que se faz actualmente e que não é somente um produto de entertenimento. Mas que é um enormíssimo produto de entretenimento, lá isso é.
Foi, durante largos meses o filme mais secreto de sempre - mantido num segredo quase absoluto, sem se perceber muito bem como -; gozou de uma fabulosa campanha de marketing viral (que garantiu desde logo o sucesso do filme assim que ele surgisse nas salas de cinema); criou na comunidade web um culto de fãs antecipados verdadeiramente esmagadora, elevando os niveis de interesse e de curiosidade como até hoje nunca tinho visto um filme fazer.
"Cloverfield" conta-nos como Manhatan foi destruída numa só noite. Mais, mostra-nos, através dos «olhos» de um de cinco amigos, como foi essa noite, colocando-nos precisamente no meio da catástrofe, no meio da multidão, no meio da correria, do caos e do pesadelo. Nunca como até aqui a sensação de estarmos dentro de um filme tinha sido tão... real. Dei por mim, em várias sequências, de punhos cerrados, ou agarrado à cadeira. Reeves e a sua equipa de montagem souberam fabricar "Cloverfield" de maneira a não nos darem um só segundo de sossego e por isso mesmo, este não é um normal filme de acção com direito a pipocas e tudo. Porque não há sequer tempo para meter a pipoca à boca. São 75 minutos de incessante correria pelas ruas devastadas de Manhatan, sempre sem sabermos muito bem o que se está a passar ou o que nos espera ao virar da próxima esquina. Exemplo disso é uma de duas sequências maiores, que nos mantêm colados à cadeira boquiabertos. Enquanto tentam chegar a casa de uma outra rapariga, supostamente soterrada nos destroços do seu apartamento, o grupo de amigos é apanhado entre o exército e a causa de tanta destruição. De um lado o pesadelo em carne e osso de que tentam fugir, do outro um arsenal bélico a ser verdadeiramente despejado, sem apelo nem agravo. A cena é brutal e obriga-nos a suster a respiração durante alguns segundos. A segunda, e que dá continuidade à que vai ser publicada ali mais abaixo, é decalcada de uma outra, real, que teve lugar no fatídico dia 11 de Novembro, quando as torres gémeas foram atacadas. A sequência é notável, por ser tão real - como todo o filme, aliás -, obrigando-nos mais uma vez a suster a respiração, desta feita, na tentativa de passarmos despercebidos.
"Cloverfield" dá um passo de gigante e leva a indústria cinematográfica para uma nova dimensão. Porque nos entretém como nenhum blockbuster de Michael Bay já é capaz, porque traça novas directrizes, novos métodos e uma nova e espectacular estética, e porque passa a ser O filme-catástrofe por excelência. A partir daqui, nada vai ser como dantes. O risco (elevado) valeu bem a pena e o filme é claramente um objecto vencedor. No primeiro fim de semana de exibição fartou-se de bater recordes de bilheteira, o público está, em geral, rendido, e a tal comunidade web que salivava pelo seu visionamento, já começou a descobrir sinais escondidos no filme que nos remetem para as mais loucas e interessantes teorias de conspiração. A propósito, aguentem estoicamente o trailer final e tentem perceber uma de muitas pistas que nos são atiradas - provavelmente só para o gozo - pelo realizador.
Conclusão: o efeito desejado foi alcançado na perfeição, a ilusão é total e a intensidade quase insuportável. A única coisa má do filme? Não se poder ver mais do que uma vez por se saber que o impacto nunca será como o da primeira vez. Embora a vontade de ir a correr vê-lo novamente seja quase incontrolável...
Como incontrolável é já a vontadinha de ver como o filme foi feito!!!
Perceberam como falei do filme sem mencionar uma única vez o hediondo monstro que provoca toda esta destruição?
Etiquetas: Filmes Vistos
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