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Bom Karma... ou não!

segunda-feira, outubro 08, 2007

SERVIÇINHO PÚBLICO

(Ironicamente, dois posts seguidos dedicados, de certa forma, à tourada)






Na sua crónica de hoje no Jornal de Notícias, Manuel António Pina (MAP) chama a nossa atenção para o tipo de serviço público prestado pela televisão do estado - vulgo RTP -, nomeadamente para a inteligente e tão a propósito transmissão de uma tourada precisamente no Dia Mundial do Animal.

Informa-nos ainda que foi precisamente em Outubro de 1978 que a UNESCO aprovou a Declaração Universal dos Direitos do Animal, onde se pode ler que "o respeito dos homens pelos animais está ligado ao respeito dos homens pelo seu semelhante". MAP prossegue a sua crónica, enumerando três dos artigos dessa mesma declaração: "nenhum animal deve ser submetido a maus-tratos ou a actos cruéis", (artº 3º), ou "explorado para DIVERTIMENTO DO HOMEM" (artº 10º), e "as cenas de violência de que os animais são VÍTIMAS devem ser INTERDITAS no cinema e NA TELEVISÃO" (artº 13º).

É engraçado, mas assim muito de repente quer-me parecer que a televisão pública, que tem como um dos principais deveres, prestar serviço público, se esqueceu - ou desconhece - pelo menos destes três princípios. O touro é uma vítima sem hipótese de escolha, a tortura de que é alvo serve unicamente para gáudio das centenas de bárbaros que enchem as cadeiras da arena, e o degradante espectáculo é transmitido para todo o Portugal... na televisão!

Honestamente não acredito que a intenção da RTP de continuar fiel à transmissão de touradas seja a conquista de audiências; não acredito porque me parece, ainda assim, uma muito pequena fatia de público, aquela que convence a mulher a não ver a novela, para se sentar em frente ao televisor a ver um animal a tossir sangue. A RTP, que muito evoluíu e se tornou num televisão de alguma qualidade, manteve (infelizmente) alguns dos hábitos do antigo regime, e este é somente o mais triste e vergonhoso.

Ia acabar este post questionando-me retoricamente acerca da falta de coragem politica que parece ser necessária para, de uma vez por todas, pôr um fim a um espectáculo sanguinário e injustificado, mas lembrei-me de um dos mais infelizes momentos politicos da nossa história: o dia em que o PCP aprovou o regime de excepção para as touradas de morte em Barrancos, por estas fazerem parte integrante e bem enraizada de uma tradição secular. O mesmo é dizer, o PCP é um partido cada vez menos importante no panorama nacional, e não se pode arriscar a perder ainda mais votos, muito menos no Alentejo, um eterno bastião comunista.

Não tenho dúvidas nenhumas que um adepto fervoroso de touradas, quando questionado acerca das razões que as justificam, só conseguiria responder "SANGUE", espumando e bufando como se de uma real besta se tratasse.

Termino, por isso, com as sábias e acutilantes palavras de MAP, que no fim da sua crónica escreve que "palavras como «dignidade» ou «respeito» não fazem parte do vocabulário da actual Direcção de Programas da RTP".

2 Comments:

  • At 23:27, Blogger Kruzes Kanhoto said…

    Lamento decepcioná-lo mas o Alentejo há muito que (já) não é um bastião comunista. É preciso recuar muitas eleições para me recordar de uma que, no conjunto dos 3 distritos aletejanos, o Partido Comunista tenha ganho. E quanto ao número de Câmaras o PCP é o 2º partido mas importantes apenas tem Beja...Quanto às touradas concordo consigo e não que há por aqui muita gente apaixonada por esse "espectaculo". É mais coisa de tias e velhotes.

     
  • At 20:25, Blogger karmatoon said…

    Caro Kanhoto,

    não se preocupe porque não me decepciona em nada. Se ler bem a minha prosa, percebe que não estou a elevar o PCP a rei do Alentejo. Estou, isso sim, a dar uma «estocada» subtil à hipocrisia politica vigente no nosso parlamento. Não fico nem mais rico, nem mais pobre com o sucesso ou falta dele do PCP. Estou-me nas tintas!
    Quanto aos aficionados alentejanos por touradas, também não foram referidos no meu texto. Nunca disse, nem nunca diria, que o Alentejo - a propósito, terra da minha mãezinha - é um bastião de amantes dessa vergonha chamada tourada. E nem concordo consigo, quando afirma ser esse um espectáculo de tias e velhotes. Basta ver os ilustres portugueses que vão às touradas e as continuam a defender como se de uma nobre arte se tratasse.
    É um mal nacional e que está por todo o país.
    Obrigado pelo comentário e volte sempre, sim?

     

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