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Bom Karma... ou não!

quinta-feira, outubro 18, 2007

A ESTRADA



É o livro que acabo de ler. Foi escrito por Cormac McCarthy e é absolutamente viciante.
Fala de um pai e do seu filho, e da dura travessia que fazem por uma América devastada por um qualquer cataclismo - percebe-se que foram incêndios, mas a verdade é que o autor nunca nos diz o que aconteceu afinal. Caminham pelas estradas destruídas e povoadas por cadaveres calcinados, "homens maus" que matam para saciar a fome e outros (poucos) "homens bons". É através dos seus olhos que percebemos uma dolorosa nostalgia das coisas como elas eram; como se facto tivesse acontecido um holocausto, e tivessemos uma dor no fundo da alma, uma falta de fé incontornável e um desejo cego de continuar a andar para não ter de ficar parados. Como eles.
Pelo meio, sentimos o imenso amor que une pai e filho; sentimos o medo agustiante que o homem tem de morrer e deixar o seu rapaz para os "homens maus". Levamos estalos sucessivos na cara, que nos fazem pensar duas vezes na vida, e pesar bem o valor de tudo o que ainda não perdemos.
E não precisamos de entrar muito no livro de McCarthy para perceber afinal do que realmente fala. Na página 11 lê-se "Está tudo bem contigo? O rapaz fez que sim com a cabeça. E então puseram-se os dois a caminhar no asfalto sob a luz metálica, cinzento-azulada, a arrastar os pés na cinza, e cada qual era o mundo inteiro do outro".
É uma história pesada, desprovida de qualquer esperança numa fé aliviadora - os pequenos «tesouros» que os protagonistas vão encontrando pelo caminho, são grandes mas de curta duração; é uma história apenas com sentido descendente, que transporta pai e filho para um destino incerto, mas com a certeza de que nunca poderá ser realmente bom.
Cormac McCarthy escreve bem que se farta. Não cai em excessos descritivos e nunca pretende ser mais um filósofo de pacotilha. Escreve frases curtas e bastante gráficas. Tão gráficas que acaba por se tornar fácil imaginar as imagens desta história; imaginar os personagens e as paisagens desoladas. Tão fácil, que saio deste livro totalmente convencido que, mais cedo ou mais tarde, alguém vai pegar nele para o filmar. Tenho um eleito para a função, mas fica para mim.
Quero emprestá-lo rapidamente a alguém. Estão abertas as candidaturas, aqui, neste blog. O primeiro a chegar...

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