kar(ma)toon

Bom Karma... ou não!

quinta-feira, agosto 30, 2007


Ontem fui ver provavelmente um dos filmes mais estranhos de sempre. Não estranho no seu conteúdo, não estranho de uma forma David Lynchiana, mas sim estranho na sua forma.

Realizado por Bruce A. Evans, Mr. Brooks éapenas o segundo filme de um senhor que tem feito carreira - já com algumas décadas - na produção e na escrita de argumentos. E... bem, é um filme estranho, é só o que lhe posso chamar.

O Mr. Brooks do título é Earl Brooks, empresário de sucesso e considerado mesmo como o homem do ano em Portland, e Marshall, o seu alter ego maléfico, frio e sádico até mais não. Kevin Costner é Earl e William Hurt o seu «gémeo» mau. E até aqui tudo muito bem. Os dois actores receberam com agrado a magnífica prenda do realizador/autor, e trataram as duas maravilhosas personagens de uma forma incrível, assinando duas prestações notáveis a todos os níveis. Mas o problema é que Evans não soube realizar o filme. Simplesmente não soube. E passo a explicar, da forma mais simples que me é possivel.

Earl, como já disse, é um homem de topo, empresário de sucesso, podre de rico, elegante, culto(aparentemente) e equilibrado. Um óptimo chefe de família e um homem modelo, mas que esconde, de forma magistral, um terrivel segredo: é também um maquinal e perfeccionista serial killer conhecido como o assassino da impressão digital. Um pesadelo para os CSI, que nunca conseguem encontrar uma milimétrica pista da sua presença. O homem escolhe as suas vítimas de forma aleatória, mas programa o assassinato não esquecendo nenhum pormenor, chegando mesmo ao cúmulo de aspirar a cena do crime e recolher as cápsulas das balas. Earl mata porque Marshall o convence a fazer e pelo simples prazer de matar. E é deliciosa a relação entre os dois Brooks; delicioso o duelo entre Costner e Hurt, quer seja quando o irmão bom tenta travar a sede assassina do irmão mau, quer seja quando ambos se unem no planeamento e execução dos crimes. E tudo corre bem para a hedionda «dupla», até que surge Mr. Smith, um voyeur que inesperadamente fotografa Earl no quarto onde este literalmente despacha um casal. Só que Mr. Smith - razoavelmente interpretado pelo comediante Dane Cook -, ao contrário do que se podia pensar, não pretende chantagear Brooks. Deseja, isso sim, acompanhá-lo e assistir de perto à sua carreira de assassino em série. Para Mr. Smith, o que Brooks faz é uma espécie de desporto radical, uma brutal adrenaline rush, que o pode tirar de uma vez por todas da vidinha chata de engenheiro solteirão dos subúrbios, esquecendo-se que, ao mesmo tempo, se está a meter cada vez mais na teia de uma aranha que não hesitará em matá-lo assim que a oportunidade surgir....

E o filme devia ficar por aqui. Mas não fica. Em cena entra um segundo filme, cuja protagonista é a irritante Demi Moore, cada vez pior actriz, cada vez mais irritante e a provar de um modo inequívoco o tremendo erro de casting que representa, seja qual for o filme. A sua, é a história de uma policia, especialista em assassinos em série, e que persegue o autor dos crimes da impressão digital, como já disse, sem qualquer sucesso. Não satisfeito, o realizador ainda mete ao barulho o seu divórcio, e a respectiva batalha judicial com o marido, e um segundo serial killer, acabadinho de fugir da cadeia e em busca de vingança, já que foi a detective Tracy que o conseguiu capturar. Muito barulho para nada, já que esta segunda história não ajuda, não enriquece, nem contribui nadinha para a história de Mr. Brooks e do problema que tem em mãos, chamado Mr. Smith. E damos por nós, sempre que acompanhamos as aventuras de Tracy Atwood, a desejar que o filme passe rapidamente para Mr. Brooks e para o seu ego diabólico. E o filme perde imediatamente interesse.

Ou seja, temos dois filmes num só. Um filme muito interessante e empolgante, do género a que se decidíu chamar de thriller psicológico, e um filme policial de accção banal, mau e chato.

Coisas boas? Duas interpretações notáveis e duas personagens que ficam na história do género, embrulhadas num argumento genial, original e repleto de reviravoltas, e numa banda sonora arrepiante.
Coisas más: um realizador que levou muito longe o tema da esquizofrenia e uma péssima actriz, que obviamente não sabe o que está ali a fazer.
É pena.


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