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Bom Karma... ou não!

segunda-feira, maio 28, 2007

FITEI - EUROPEAN HOUSE




Na sexta-feira fui ver o melhor espectáculo de teatro de sempre.
O melhor que já vi na vida. Poderão dizer que provavelmente terei visto muito pouca coisa.
Provavelmente…
Mas não tenho dúvida: de tudo o que vi até hoje, este foi o melhor.
European House é um espectáculo dos catalães Teatre Lliure (vejam o
vídeo, vale a pena), um «não» texto – já explico - da autoria de Àlex Rigola, também o encenador de serviço. A história que Rigola criou, mostra-nos os momentos que antecedem o Hamlet de Shakespeare. O que aconteceu imediatamente antes do início da famosa história do Príncipe da Dinamarca, mas adaptado a uma época contemporânea à nossa. A acção decorre em casa de Hamlet, momentos após o funeral do seu pai. A chegada dele e da sua mãe, e dos membros mais próximos da família – a corte, se preferirem.

O cenário é fabuloso: uma casa de três andares sem fachada, todos os seus compartimentos bem à vista do espectador e com a acção a decorrer simultaneamente no quarto, na sala, na cozinha, no jardim. Sem palavras – ou quase, já que algumas, soltas, perdidas, são de facto proferidas. O subtítulo da peça é precisamente “Um prólogo de Hamlet sem palavras”, e mesmo assim, as relações entre todas as personagens é fácil e imediatamente compreendida pelo espectador; as emoções e a sua ligação à questão sempre presente em toda a peça – porque morrem as pessoas? – enchem a sala com uma força incrível, e manifestam-se na espinha do público com um arrepio. Essa energia é transportada por todos os actores que demonstram (mais uma vez) sem palavras o que se sente sempre que alguém querido morre. Até o fantasma do pai de Hamlet – personagem verdadeiramente fantasmagórica e presente sempre que a situação o exige – transporta essa tristeza nobre.

Há uma cena – A cena – que marca este trabalho e a memória de todos os que a vão ver. A cena que podem ver na fotografia que abre este post. A sequência absolutamente notável, embora decalcada de uma em tudo idêntica do filme Magnólia, de Paul Thomas Anderson, em que as personagens ocupam todos os compartimentos da casa enquanto na sala se faz ouvir No Surprises, dos Radiohead. Todos fitam o espaço negro onde estão os espectadores, e todos cantam aquela música. A imagem atinge-nos com uma força quase insuportável, e faz-nos adivinhar aquilo que já há muito vimos temendo: o fim da peça.

Quando saímos da sala, as únicas palavras que decorámos, e que nos foram apresentadas num painel informativo, algures entre o chão da casa de banho e o tecto do escritório, são aquelas que nos perguntaram “Porque morrem as pessoas? Para nos fazerem recordar que ainda estamos vivos!”
O Forte e demorado aplauso, foi a reacção lógica e merecida a um trabalho desta magnitude. Merecia mais dias de exibição. Eu merecia mais dias de exibição. E todos os que não o foram ver mereciam mais dias de exibição.



1 Comments:

  • At 14:39, Blogger baba said…

    Oh... o de ontem tb era bastante bom!

     

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