Esta semana tive novamente a oportunidade de ver imagens que habitualmente não vemos nos nossos noticiários.
Desta vez relacionadas com o furacão Katryna, que arrasou cinco estados norte-americanos está quase a fazer um ano.

O que vi...
Não poderá ser descrito com exactidão. É impensável de tal forma, que cheguei a pensar serem aquelas, imagens de um filme acerca do sucedido, e não um documentário. Já sabemos, os filmes são sempre dramatizações do real, certo? Será impossivel dramatizar o que se passou ali naqueles dias.

Vi um oficial do exército practicamante a implorar à equipa de filmagens para não entrar num estádio coberto onde se tinham abrigado milhares de pessoas. Para o bem das pessoas que compunham essa mesma equipa. Lá dentro os corpos amontoavam-se e eram alimento para outros tantos milhares de cães. O cheiro sentia-se a quarteirões de distância.

Vi um médico que se manteve sozinho, sem comida ou água, no hospital onde trabalhava, de modo a cuidar de cinquenta cães, dez gatos e dois hamsters que se tinham perdido dos seus donos. Um homem que se recusou a partir enquanto esses animais não pudessem ser igualmente salvos.

Vi centenas de corpos inchados nas ruas de Nova Orleães.

Vi uma mulher gritar que a única coisa que o seu presidente lhe tinha dito foram as palavras "os nossos corações estão convosco", mas que era preciso bem mais do que isso.

Vi um cenário que nem no filme mais catastrófico de Hollywood alguma vez tinha visto.

Vi milhares de pessoas esperarem cinco dias pela primeira ajuda oficial e perguntarem legitimamente se aconteceria o mesmo, caso o desastre tivesse afectado uma população maioritariamente branca.

E sabem o que é pior?
Já ninguém se lembra que aconteceu, pois não?