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Bom Karma... ou não!

quinta-feira, fevereiro 02, 2006

O dia d'ontem

Não foi grande coisa, o dia d'ontem.

Passei a manhã enfiado na Loja do Cidadão, um lugar sempre divertido e garantia de umas horas bens passadas.
A tarde, essa, foi passada na sala de espera das consultas de ortopedia do Hospital de S. João. Hospital de S. João onde fiquei a saber, definitivamente, que o meu braço esquerdo - o tal que parti nesse acidente de que já aqui falei - nunca mais voltará a ser o mesmo. As mazelas de que padece desde esse fatidico acontecimento vão acompanhar-me para o resto da minha vida. Não há nada a fazer.

O regresso a casa foi estranho porque... não foi para casa que regressei.
Durante quase ano e meio, a rotina do regresso do hospital ditava que seria sempre o mesmo autocarro, sempre as mesmas pessoas, sempre a mesma paragem em frente ao Supermercado "Dia". Ontem não foi assim...
Ontem, pela primeira vez, não saí nessa paragem. E foi uma sensação tão estranha. A minha mãe, que me fez companhia, apercebeu-se do misto de dor e confusão que se apoderou de mim e chorou... por mim.

De súbito, no meio de tanto casaco cinzento ou azul escuro; no meio de tanto semblante carregado e mal-disposto: no meio de tanto cinzentismo, um oásis.
Um casal de namorados, com 16, 17 anos, não mais, viajava num espaço só seu. Apaixonados, coloridos, sozinhos, como se não houvesse mais nenhuma alma naquele autocarro.
Beijaram-se, abraçaram-se com a força de mil braços, acomodaram-se um no outro.
Ela, bem mais pequena do que ele, apertou o seu corpo minúsculo contra o dele e encostou a sua cara no seu peito. E foi nesse momento, ao vê-la ali abrigada no amor dele, confortável como mais ninguém naquele autocarro, que me apercebi de que é tão bela a face do amor. De que é tão bela a face de quem ama. Do quanto é bela e pacifica a face de quem acredita que aquele peito será seu para todo o sempre; de quem acredita que poderá repousar a sua face naquele corpo forte e sonhar para o resto da vida.
E posso jurar que os olhos dela se humedeceram...

E invejei-os.
Mas de repente o meu dia valeu bem a pena.

2 Comments:

  • At 20:52, Anonymous Anónimo said…

    Flashback

     
  • At 14:46, Anonymous Anónimo said…

    Santinho

     

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