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Bom Karma... ou não!

sexta-feira, abril 15, 2011

JORNALISMO ONLINE? NÃO ME FAÇAM RIR


Podia ser bom, mas não é. Podia ser um objecto à parte, no universo do jornalismo na internet, mas não é. Podia, no limite, ser o laboratório perfeito para os recém formados jornalistas da Faculdade de Letras do Porto, mas está longe disso. O site Jornalismo Porto Net, JPN para os amigos, é, como quase tudo no referido curso, uma cebolada de incongruências, indefinições ou definições espartilhadas, lugares-comuns e, consequentemente, um ninho de jornalismo bacoco, com demasiados tiques teen e absolutamente desinteressante.

E o facto de não ser mais do que o jornal do curso, não serve sequer como desculpa. Precisamente por ser o jornal do curso; precisamente por ter um público-alvo tão específico e ao mesmo tempo tão diversificado, tem a obrigação de ser um órgão de comunicação experimental, arrojado, que dê espaço à criatividade dos seus jornalistas e que aposte forte nessa transversalidade multitasking que os adeptos do ciberjornalismo tanto gostam de apregoar.

Ao invés, o que temos é jornalismo escrito, e nem sempre bem escrito, aborrecido e fútil. Fútil, porque a política editorial imposta, exclui quaisquer hipóteses de inovar e alargar o espectro noticioso. O JPN não admite crónicas, artigos de opinião ou críticas, não faz entrevistas, no seu formato puro e duro, e anda a reboque de muito do que vai sendo publicado pelos outros órgãos de comunicação. E qual é a justificação? Pública e assumidamente um estranho "não fazemos concertos porque isso obriga a um discurso de opinião".

E aborrecido porquê? Porque é um jornal de palavras e palavras e palavras. Palavras que na net, valem o mesmo que um quilo de areia bem medido no deserto de Gobi. Palavras que, por vezes, são pontuadas pelo som de quem as disse, o que torna a coisa ainda mais ridícula. E não é isso que se espera de um jornal online. Espera-se dinamismo, energia, impacto visual. Tudo o que possa minimizar os efeitos nefastos do short attention span que afecta os cibernautas.

O problema do JPN reside em dois factores que não apresentam sinais de poderem mudar num futuro próximo. Desde logo, e mais uma vez, a política editorial, imposta por pessoas que aparentemente desconhecem que o segredo do jornalismo é a rapidez com que se publicam as notícias e que são incapazes de exigir uma simples breve para daí a quinze minutos e o respectivo follow up daí a não mais do que uma hora.

O segundo facto é bem mais grave e resulta de um curso leccionado de forma displicente, quadrada, retrógrada e que aposta muito na teoria e pouco na prática. E numa prática que não leva a lado nenhum, que não prepara os alunos para o jornalismo à séria. Alunos que - e basta ler o JPN, ver as peças filmadas e ouvir as jornalistas - ao fim de dois anos e três míseros meses, estão habilitados a ser estagiários ou jornalistas de um objecto online que mais parece um jornal de liceu onde se brinca ao jornalismo.

Por obrigação curricular, estive um mês no JPN. Serviu essencialmente para perceber que existe uma histeria auto-direccionada e uma concorrência nem sempre bonita de se ver. Que os jornalistas recém formados não têm estaleca, rasgo ou criatividade; são chapa-quatro, dominam a linguagem jornalística, mas uma linguagem pouco elástica, sem energia, chata. Deu para perceber que o JPN sofre do mesmo mal que o curso de jornalismo, que não sabe, ou não quer, aproveitar as condições técnicas de que dispõe e não sabe orientar a mão-de-obra (teoricamente) especializada e interessada.

Como em tudo na Universidade do Porto, também o curso de jornalismo e o seu jornal digital são um óptimo exemplo da vaidade injustificada e da soberba absoluta. Ver o vídeo que celebra o dia em que um jornalista do Público foi editor da redacção do JPN é perceber até que ponto vão a auto-promoção mútua e a histeria teenager, nada condizentes com a prática jornalística.

O JPN podia ser, realmente, um caso sério no jornalismo online. Bastava para isso que soubessem dar a volta ao que foi instituído por pessoas que percebem tanto de jornalismo como eu de física quântica. Que tivessem a vontade de quebrar o gelo de regras que não fazem sentido. A política editorial, conforme está definida, deixa transparecer uma de duas coisas, igualmente graves: ou não confiam nos alunos formados naquele mesmo edifício, ou não confiam na formação que lhe foi dada. Seja como for, decidam-se de uma vez.