Acabo de ver um dos filmes mais impressionantes do ano. Correcção: acabo de ver um dos filmes mais impressionantes este ano, já que "Bronson", de Nicholas Winding Refn, é de 2008. Estranhamente, ou não, o filme que retrata (com liberdade narrativa) a vida do mais famoso prisioneiro do Reino Unido não teve quaisquer hipóteses comerciais em Portugal. Nem no Fantasporto, festival habituado ao trabalho do realizador dinamarquês e montra da cinematografia nórdica.
Michael Peterson - famoso pelo nome de combate Charlie Bronson - está preso há 35 anos, trinta dos quais em solitária. Porquê? Porque conseguiu conjugar os títulos de prisioneiro mais perigoso do Reino Unido, prisioneiro mais violento do Reino Unido e prisioneiro mais dispendioso do Reino Unido.
Não interessa falar aqui da vida real de Bronson, interessa isso sim, realçar um filme que faz lembrar o "Laranja Mecânica " de Kubrick, que não tem quaisquer problemas em assumir um lado metafórico-onírico-surreal e que apresenta um belo, reluzente e muito rijo par de testículos. Um filme que é ao mesmo tempo um one man show, laboratório ideal para Tom Hardy, actor que já vimos este ano em "Inception", mostrar que é realmente um dos actores mais vibrantes da sua geração. Quase irreconhecível, Hardy cria um dos maiores vilões da história do cinema e que mete no bolso o Hannibal Lecter com que alguns críticos o compararam.
"Bronson" é cinema no seu estado mais cru, bruto e brutal. É nervoso, enérgico e um filme que nos agarra pelos colarinhos desde o primeiro segundo. Lá mais para o meio alivia um bocadinho a pressão, mas tudo com um objectivo bem definido e com uma intenção dir-se-ia quase doentia. Como Bronson, afinal. Acalmar a vítima para a seguir largar uma ira inimaginável e que raramente se costuma ver no cinema moderno. Exemplo disso, uma sequência absolutamente notável, passada na sala de pintura da prisão e que é de perfeita antologia - e que podem e devem ver ali em baixo. "Bronson" passa imediatamente a ser um dos meus filmes favoritos e o desempenho de Tom Hardy um dos melhores que já vi. Ponto.
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