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Bom Karma... ou não!

domingo, dezembro 27, 2009

VENHA O PRÓXIMO...

Honestamente não percebo como ainda há alguém que ponha dinheiro nas mãos de Guy Ritchie para o inglês fazer um filme. Depois de um principio de carreira absolutamente arrasador - "Lock, Stock And Two Smoking Barrels", em 1998, e "Snatch", em 2000 - Ritchie começou uma rápida e inevitável descida ao que de muito mau se pode fazer em cinema. Sinais evidentes de melhoras chegaram com "RocknRolla", mas que ainda não eram suficientes para convencer alguém de que ali ainda havia um realizador capaz de surpreender o público.

Não foi condenável, por isso, que muita gente tenha olhado com desconfiança para o anunciado projecto em torno de Sherlock Holmes. Apesar do elenco e apesar do gordo orçamento ao dispôr de Guy Ritchie. Ou seja, não consigo imaginar um responsável da Warner Bros. a passar um cheque de 100 milhões de dólares para um qualquer filme de Ritchie. Mas ainda bem que o fez.

Confessando desde já nunca ter lido os contos de Sir Arthur Conan Doyle - embora seja fã absoluto das aventuras do detective - admito não saber quem é o verdadeiro Sherlock Holmes. É verdade, o cinema e a televisão sempre trataram Holmes como um homem enigmático, genial mas louco, com especial apetência para o consumo de algumas drogas de classe alta e, acima de tudo, um gentleman. Confesso também que de todos, o meu favorito sempre foi (e continuará a ser) o desempenhado pelo falecido Jeremy Brett, na famosa série transmitida já algumas vezes em Portugal.

No entanto, Sherlok Holmes sempre me pareceu ser um antepassado menos musculado e bruto de James Bond. Ora, Guy Ritchie não deve saber o que é um gentleman, e o mais próximo que esteve de um, deverá ter sido ao lado de um provável mordomo da ex-mulher, Madonna. Por isso, e pelo evidente carácter sujo que gosta de imprimir aos seus filmes, Guy Ritchie foi mesmo pela versão Bond da coisa, e construíu um novo - e talvez polémico - Sherlock Holmes.

O Holmes de Ritchie e Robert Downey Jr. é desleixado (com a sua vida pessoal), pouco organizado (na sua intimidade), bêbado, não tem problemas em meter as mãos na sujidade e em aviar alguns vilões com uma combinação letal de conhecimentos de anatomia e boxe e aprecia mulheres - algo nunca claramente assumido anteriormente. Ou seja, mantém todas as características de génio da investigação e do raciocínio e acrescenta algumas particulariedades mais, digamos, humanas. Para além disso, Robert Downey Jr. é um dos actores mais excitantes e entusiasmantes da actualidade, e mexe-se nestas andanças com uma facilidade maravilhosa.

O resto...
O resto é um filme enérgico, realizado unicamente para ser um objecto de entretenimento, com uma ideal noção de ritmo, mas sem os exageros que se reconhecem a Ritchie, e muito, muito bem filmado. Como se repente Guy Ritchie descobrisse a noção de elegância e a misturasse com sucesso com a energia que normalmente transporta para as suas obras. Inevitavelmente, o filme ameaça perder o fôlego duas ou três vezes, mas até isso parece ser pensado, já que rapidamente volta a ganhar velocidade e interesse. A velocidade e o interesse que mantém desde o primeiro segundo. Aliás, a primeira sequência do filme avisa desde logo os mais distraídos que isto não é um filme cerebral, mas sim um objecto duro, moderno e revolucionário - tendo em conta de que é, no fim de contas, uma história com Sherlock Holmes.

É um argumento pequeno e trapalhão, no entanto; algo quenão supreende, já que Guy Ritchie sempre trabalhou com histórias pequenas, em torno de muitas personagens que, essas sim, lhe davam vida e detalhe. Aqui, infelizmente, não existem muitas personagens, e o filme ressente-se. E ressente-se, acima de tudo, de ser uma obra nitidamente construída como primeiro episódio de uma saga. O que não é de todo mal pensado, diga-se. O problema é que este "Sherlock Holmes" foi com toda a certeza mutilado na mesa de montagem, e o final é uma correria desenfreada - da realização, não das personagens (mas também) - piorada por um final abrupto bem ao estilo de intervalo para publicidade.

Ainda assim, é uma belíssima obra e um excelente exemplo de como se pode fazer um blockbuster de acção sem perder o estilo, o tino e o objectivo: manter o espectador acordado. E apetece ver Robert Downey Jr. e Jude Law nos papéis principais, novamente. E apetece ver Mark Strong a desempenhar aquilo para o qual o actor inglês parece ter nascido: ser o vilão de serviço de qualquer filme.

Já agora, uma curiosidade e que tem precisamente que ver com Mark Strong. O actor que desempenha o papel de Lord Blackwood seria um excelente Sherlock Holmes, caso o realizador quisesse optar pelo detective frio, distante e cavalheiro intocável.

Ah, e fiquem até ao fim para assistirem ao genérico, brilhante, e estejam atentos à magnífica banda sonora de Hans Zimmer.




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