SÉRIE B... MAIS OU MENOS
Graças ao mesmo Eduardo do post lá mais em baixo, vi hoje dois filmes saídos directamente do imaginário tão próprio dos filmes série B que há muitos, muitos anos faziam as delícias de quem ia ao Fantasporto à procura de sangue, tripas às carradas, e/ou histórias mais ou menos delirantes, argumentos cheios de teorias da conspiração e big brother is watching you até à medula. E os dois que vi não fariam má figura num cenário assim. De todo.
No entanto...
Um é substancialmente melhor do que o outro. Começo por isso pelo mais fraquinho, "Splinter".
Misto de filme de zombies com algo decalcado do magnífico "The Thing" de John Carpenter, "Splinter" fala-nos de uma espécie de criatura - alien, bactéria, vírus? - que toma posse de todos os ossinhos no nosso corpo e lhes dá uma espécie de vida e vontade próprias. Daí o toque zombie da coisa. E tudo começa razoavelmente bem.
Casalinho totó procura umas férias de paz e sossego. Casalão rude e redneck, meio drogado, meio bandidola de pistola em punho acaba com as esperanças de casalinho totó. Vão todos parar a uma estação de serviço de beira de estrada no meio de nenhures e... o resto é fácil de adivinhar. Como já disse, o filme começa bem, com a dose certa de preparação, sem dar seca nem fazer esperar demasiado pela verdadeira acção, e os primeiros momentos de tensão e horror são bem interessantes, angustiantes e, a abono da verdade, nojentos - o som dos ossos a estalar é tal e qual como o Eduardo me havia dedicadamente descrito.
O problema começa com uma sequência a fazer lembrar um dos velhinhos "Evil Dead" de Sam Raimi, em que uma mão-zombie persegue o nosso herói em busca de sangue. O problema é que num filme que se queria sério, essa «perseguição» tem exactamente o mesmo efeito que no filme de Raimi. Ou seja, é hilariantemente ridícula. Seria essa a intenção de Toby Wilkins, o realizador? Seja como for, essa cena marca o declínio do filme, em ritmo e em interesse, já que se percebe desde logo como tudo vai terminar.
Para além disso, e não satisfeito com a cena da mão, o realizador ainda se atreve a filmar outra sequência digna de figurar na lista das mais caricatas do ano. Novamente, numa série de acontecimentos mais ou menos stressantes, intromete-se o seguinte cenário: homem mau tem de cortar braço, entretanto infectado pelo tal agente contagioso. O que é que há à mão? Um X-acto com uma lâmina pequena de mais. Portanto, temou uma moça a segurar no braço enquanto o moço o corta acima do cotovelo como quem corta uma fatia de lombo. A moça aguenta-se sem vomitar ou desmaiar. O problema é que o pedaço de cutelaria não chega para cortar osso e o médico emprestado tem de se decidir pelo arrancar do membro por tijolo de betão de elevadas dimensões. Minutos depois o amputado está refasteladamente sentado à conversa com os dois totós, sem dores e relativamente bem humorado. O ambiente é quase de festa e todos parecem ter-se esquecido da besta dos infernos que espera por eles lá fora. Senti incontornavelmente que estavam a gozar com a minha cara...
Podia ser bom, mas não é.
"The Killer Room" também não é exactamente original, ou por aí além surpreendente, mas consegue manter uma hora e meia de interesse e de incerteza, tudo embrulhao numa filmagem com estilo, elegância e a frieza necessárias a um filme deste género.
Qual género? O género de filmes inferiores como "Cube" ou "Cube 2: Hypercube", o primeiro "Saw" e outros que tal. Um conto à boa maneira da "Quinta Dimensão", com todos os ingredientes que lhe deram milhões de fãs dedicados. Temos uma agência que não parece ser governamental - aliás, que parece estar acima de qualquer governo - temos cobaias humanas, completamente despreparadas para o que lhes está para acontecer, temos conflito originado pelos instintos mais primários do ser humano e temos um final, isso sim, surpreendente.
Para além de que temos um bom e seguro elenco - Chloë Sevigny, Peter Stormare, um sempre bom Timothy Hutton e o mesmo Shea Wigham que em "Splinter" fica sem o bracinho... - uma óptima banda sonora e uma direcção de fotografia acima do normal para cinema neste patamar.
Conclusão: "The Killer Room" fica mais uns dias no meu computador para quem o quiser ver, enquanto que "Splinter" foi direitinho para a reciclagem.
Etiquetas: Filmes Vistos
1 Comments:
At 17:27, Eduardo Ramos said…
The Killing Room... deixou-me tipo... "Olha!Queres ver que...?"
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