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Bom Karma... ou não!

sexta-feira, junho 26, 2009

SESSÃO DUPLA

Há que aproveitar as mini-folgas do estudo para pôr a 7ª em dia. Gasta-se mais dinheiro, mas acaba por valer a pena, nem que seja para limpar a cabeça de conceitos mais ou menos jornalísticos. Assim, vai-se ao cinema ver produtos 100% entretenimento. "Transformers: Revenge Of The Fallen" e "The Hangover".

O primeiro, é a prova viva da incapacidade do seu realizador Michael Bay fugir àquela velha máxima mercantilista de muito do cinema americano que manda que a sequela de uma obra com sucesso seja bigger, better, faster. O segundo filme da saga dos Autobots e Decepticons é bigger e faster, mas fica longe, muito longe de ser better. Culpa exclusiva de um realizador que não sabe outra coisa que não fazer telediscos gigantescos e de um produtor que às vezes é parolinho que chegue. Mas a isso já lá vou.

O primeiro filme de Michael Bay sobre os Transformers primava por uma característica anormal ao trabalho do realizador de "Armaggedon" e "Pearl Harbour", isto é, não era nada pretensioso. Era relativamente simples e humilde para um blockbuster, e respeitava de certa forma um certo lado infantil que a série de televisão tinha. O sucesso foi o que se esperava e a sequela era, como sempre, inevitável. Não tinha de ser inevitavelmente pior, mas Michael Bay parece que gosta de estragar as fórmulas que ele próprio inventa. Paciência.

Sendo assim, "Transformers: Revenge Of The Fallen" tem tudo o que primeiro filme tinha mas multiplicado por 500. Tem mais robôs, para agradar os fâs do género, tem mais acção, mais efeitos especiais e... tem também um argumento imberbe e insuportável e um sentido de humor absolutamente ridículo e idiota. O sentido de humor só pode ser da exclusiva responsabilidade do Steven Spielberg dos últimos anos. O produtor Spielberg gosta da piadinha fácil, juvenil e típica de um tipo de cinema que já ninguém aguenta, a comédia de universidade. Alguns dos diálogos e situações cómicas do filme são de bradar aos céus e não fazem lá faltinha nenhuma - as vozes de alguns robôs, por exemplo. De resto, a razão da existência de um segundo filme é quase nenhuma, e muito menos justifica duas horas de duração de uma obra que é simplesmente fogo de vista.

Apenas os efeitos especiais nos enchem a vista. São realmente magníficos, bem enquadrados com a imagem real, servem o filme sem exagero e deviam ter sido melhor explorados. Sinceramente, não havia necessidade de centrar tanto a acção nos seres humanos que colaboram com os Autobots; o filme podia muito bem ser ocupado quase na sua totalidade com os gigantescos robôs que não se perdia nadinha. Mas enfim, estamos a falar de cinema-comércio, que tem de pagar milhões para fazer milhões, e quando é assim, há regras muito rígidas a respeitar. E ainda por cima já vem aí um terceiro capítulo...





"The Hangover" tem precisamente aquilo que falta ao filme de Bay: é total e completamente desprovido de pretensão a qualquer outra coisa que não um bom entretenimento. É uma comédia ao bom estilo dos buddy movies, com ritmo, bons actores e que evita com imenso estilo a escatologia tão típica de grande parte do humor que se faz nos EUA. E tem uma pontinha de originalidade que vai faltando à maioria das comédias americanas dos últimos dez anos.

O ponto de partida, desde logo, é genial. Quatro amigos partem para Las Vegas para comemorar a despedida de solteiro de um deles. Acordam no dia seguinte sem saberem o que se passou durante toda a noite e sem o noivo, desparecido e sem rasto. E mais importante que isso: nós também não fazemos idéia do que se passou. O resto é uma tentativa desesperada e nada organizada de reconstruirem as últimas doze horas e perceberem o que aconteceu, porque está um tigre na casa-de-banho, uma galinha na sala, um bebé no armário - tudo isto na suite do hotel - porque roubaram um carro da polícia, porque tiveram de passar pelas urgências do hospital, porque falta um dente a um deles e porque é que ele está casado com uma stripper, porque é que o amigo despareceu... e mais uma centena de merdas que aconteceram ou estão na sua posse sem qualquer tipo de justificação ou memória.

Portanto, o que temos é um filme em que os gags acontecem a cada minuto, e em que as situações mais pequeninas acabam por ser as mais hilariantes. Os actores estão perfeitamente à vontade nos papéis e têm uma química irresistível, mas há que ser justo e destacar o desempenho absolutamente arrasador de Zach Galifianakis, um actor que se tem destacado pela sua carreira de comediante de stand up, e que rouba o filme a toda a gente, com estilo, com classe e com uma facilidade incrível. São suas as melhores cenas, são seus os melhores gags, e a sua presença é notada mesmo quando não está em cena.

O filme peca por alguma confusão e indefinição lá mais para o meio. Como se o realizador tivesse sido incapaz de filtrar os inúmeros gags e não resistísse a metê-los todos de seguida. O efeito Looney Tunes dilui-se e o final do filme acaba por ser assim uma solução metida à pressão. É pena, porque acaba por estragar um bocadinho a idéia central de um argumento bem escrito. Mesmo assim, vale bem a pena a visita e prova que afinal ainda há alguma coisa a fazer nas comédias americanas - desde que não tenham o dedo produtor de Steven Spielberg. E o género comédia de suspense agrada, surpreende e resulta, porque ficamos mesmo presos ao mistério.
O único problema? Já estão a planear uma sequela...



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