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Bom Karma... ou não!

quarta-feira, junho 24, 2009

PELA COERÊNCIA


Aqui há uns anos, lembro-me perfeitamente de ter seguido com atenção a questão da legitimidade das touradas de morte em Barrancos, da discussão que o assunto suscitou no parlamento e fora dele. Lembro-me perfeitamente do argumento utilizado pelos do PCP, que defendiam a continuidade das touradas de morte lembrando do peso da tradição - quando na verdade a questão dos comunistas se prendia exclusivamente com o peso que o eleitorado do Alentejo tem nos seus resultados eleitorais. Lembro também da verdadeira cruzada levada a cabo por Francisco Louça contra este costume e, principalmente, contra a argumentação descarada do PCP.

Pois bem, passados que estão tantos anos desde essa questão, e que foi resolvida como bem se sabe, eis que me deparo com uma daquelas contradições tão típicas da política. Salvaterra de Magos, no Ribatejo, é a única autarquia bloquista do país, e apesar da continuada luta pelo fim das touradas, e de outras actividades envolvendo animais, levada a cabo pelo Bloco, a verdade é que não faz parte da agenda política do partido intervir naquela terra, tradicionalmente berço de ganadarias, toureiros e forcados. Porquê? Bem, uma porta-voz do partido de Louça justifica a não intervenção com o facto da presidente da câmara em questão ser uma independente que concorreu às eleições pelo Bloco de Esquerda e que, como tal, não é obrigada a ter o mesmo discurso do partido pelo qual foi eleita... Então porque é que se aliou ao partido? Então porque é que o partido aceitou que ela fosse a sua candidata para Salvaterra de Magos? Onde está a coerência nisto tudo?

Mais uma vez, a explicação reside no interesse meramente eleitoral de um partido que, em fase de nítida expansão, não quer perder a única câmara que tem. É vergonhoso, mas não é nenhuma surpresa. É a prova de que todos sem excepção adquirem o vício do poder. E mesmo que seja pelas melhores das razões, é um vício perigoso e que não me deixa minimamente sossegado.