MAIS DO QUE UM BOCEJO
Há nove anos "Elizabeth" tinha-me deixado boquiaberto. Com o seu rigor, com a sua clara segurança, e com a descoberta de uma actriz como já não se via há demasiado tempo. Uma actriz capaz de rivalizar - imagine-se - com a enorme Katharine Hepburn: Cate Blanchett.
Nove anos depois, e sabe-se lá porquê, o mesmo realizador resolveu estragar tudo o que tinha conquistado com o seu primeiro grande filme - pelo menos aquele que havia de o colocar na montra de Holywood. Ou quase tudo...
"Elizabeth: The Golden Age", mais do que um longo e monumental bocejo, é um imenso desperdício de meios e de bons actores. Já não via uma tão má realização há muitos anos.É lento, pesadão, desconexo e completamente inconsequente. Cada situação filmada, parece tê-lo sido apenas porque alguém se lembrou de o fazer, sem objectivo ou motivo aparentes. Quando se filma uma época tão interessante e rica da história da Inglaterra, e consequentemente da Europa - quando se agudizava a conspiração contra a rainha e se assentuava a ameaça da católica Espanha -, torna-se difícil estragar seja o que for, e essa é, ironicamente, a única vitória do realizador Shekhar Kapur: arruinar tudo o que o seu projecto tinha de potencialmente positivo.
Salvam-se, e salvam-nos, os magníficos «duelos» entre Clive Owen e Cate Blanchett, a banda sonora assinada por Craig Armstrong, e o sumptuoso guarda-roupa, que nunca cessa de nos espantar.
Owen chega mesmo a ameaçar o roubo total do filme, tamanha é a sua interpretação de Sir Walter Raleigh. E conseguiria-o facilmente, não estivesse perante a segunda maior actriz da actualidade - a primeira já estão fartos de saber qual é...
Juntos mantêm-nos sentadinhos no nosso lugar, à espera que os voltemos a ver juntos no ecrã. Juntos dão o toque nobre e altivo que o filme tanto merecia - e de que tanto necessita -, e que tinha feito de "Elizabeth" uma obra singular e muito à frente da sua concorrência directa. Pena, é vermos nomes como Geoffrey Rush, Samantha Morton ou Rhys Ifans reduzidos a papéis de tão pouco relevo, interpretando eles personagens históricas de tão vital significado para a história de Inglaterra. Chega a ser penoso e incompreensível.
A cena que quase me fazia gostar deste filme, apresenta-nos Sir Walter Raleigh descrevendo à curiosa rainha o que é navegar até ao novo mundo, e é absolutamente simples e brilhante.
Etiquetas: Filmes Vistos
2 Comments:
At 13:34, Eduardo Ramos said…
Vou ser sincero!
Quando vi anunciar este filme, senti no intestino (grosso) que era um dos filmes que ia "ver" num dia que estivesse distraido a brincar com o Cubo mágico.
Já me tinham dito que não valia um corno... e agora tu deste a última martelada.
At 23:51, Junta-te ao clube said…
Bem... não concordo totalmente com a tua opinião. O Clive Owen continua o mesmo canastrão de sempre. É que canastrão é a melhor palavra que encontro para o descrever... assenta que nem uma luva, e mais uma vez aqui o é. ele não muda o olhar e diz tudo com a mesma voz, não lhe passa qq emoção... Já em "closer" ele podia ter ido muito mais longe.
Quanto a Cate, enfim, não há palavras.
Quanto ao filme até acho que se aguenta bem. não é tão brilhante como o primeiro, mas os segundos filmes das trilogias têm sempre essa cruz. Não sei porquê. No entanto achei a realização segura. Tens sequências geniais e brilhantes. A sequência da decapitação. A sequência da confrontação da protegida com a sua gravidez... Os dialogos continuam muito bons. E pronto, realmente depois tens a fotografia, o guarda-roupa e a música, mas se não fosse a realização tudo isso não suportava um filme desta envergadura.
Entendo perfeitamente o que dizes, mas não concordo a 100%. Aguardemos pelo terceiro.
Ass: Gattaca
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