kar(ma)toon

Bom Karma... ou não!

quinta-feira, maio 10, 2007



Já há alguns dias me tinha apercebido da chegada de gatos bebés nos telhados. Tenho ouvido os miados ao longe.
Ontem, enquanto fumava um cigarro à janela, vi um deles sozinho no terraço em baixo. Quando me estava a preparar para descer e apanhá-lo, chegou a mãe, agarrou-o pelo pescoço e galgou telhas, muros e corrimões até o pousar ao lado do irmão. Um tanque da roupa de um pátio vizinho. A vida entra-nos pela janela dentro.


E a morte também.
A Maria era a cadela da família há já quase nove anos. Correcção: a Maria era amiga da família. Ontem morreu sozinha na varanda da casa da minha mãe, vítima de uma torção do estômago. Segundo a médica que recebeu o corpo dela, este tipo de problemas podem ser fulminantes, caso não sejam tratados num curtíssimo espaço de tempo. A Maria não teve esse tempo e morreu.
Às duas da manhã, no vai vem de casa para o médico e do médico para casa, dei por mim a perguntar-me qual a verdadeira razão pela qual nos sentimos tão tristes quando morre alguém. Tristeza pelo falecido? Tristeza por nós? A resposta estava na imagem do meu irmão, Tiago, a embrulhar a Maria para a levar da sua casa, enquanto chorava convulsivamente. Quando, depois de a ter pousado na mala do meu carro, não se conseguiu erguer para não ter de se afastar dela.
A morte é dor. E é só.

2 Comments:

  • At 00:38, Blogger S. said…

    O amor pelos animais é o mais puro de todos. A perda de um animal é... uma das dores mais genuínas que se pode ter. Uma perda pura. Perdemos sem cobrar, perdemos sem culpa, perdemos sem complicações seguintes, sem expectativas goradas, perdemos simplesmente.
    Talvez por isso seja tão espontanea a forma como sofremos, e tão mais fácil de ultrapassar, sem jamais esquecer.
    Lamento, Nuno.

     
  • At 12:19, Anonymous Anónimo said…

    arrepiei
    socorro
    chi

     

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