Tenho os pés descalços.
Sinto o frio do vento que me magoa os dedos. É literalmente um vento cortante.
Estou em pé no parapeito do telhado do meu prédio. Não é o mais alto da vizinhança o que me provoca uma estranha sensação de conforto. Sinto-me abrigado, coberto, pelos prédios vizinhos.
Já estou aqui há umas horas.
Começa a ficar escuro, o sol já mal se vê por trás do edificio da seguradora. De repente a minha t-shirt não me parece a peça de roupa mais indicada para alguém que está no parapeito de um prédio, ás seis da tarde de um dia de Outono.
Mas estou aqui há umas horas e está-me a saber bem, apesar do frio. Estou aqui há umas horas a observar o que se passa abaixo do meu parapeito. O que se passa nas janelas em frente a mim.
E a pensar no ano que se encaminha para o fim.
Que ano.
Como um amigo me dizia hoje, foi uma montanha russa como ele nunca tinha visto. E que era preferivel viver-se assim, do que responder, quando questionado acerca de como tinha sido o ano, "foi normal, em Maio fomos à Serra da Estrela".
Mas não concordei totalmente. É bom viver sem rotinas chatas, mas ás vezes sabe bem uma maré baixa para só molharmos os pés.
E agora estou nessa maré baixa, neste parapeito, a molhar os pés no vento frio. Muito frio. Felizmente já não os sinto. Os pés.
Estão azuis.
Já pensei em todos os meses, de há precisamente um ano para cá.
Janeiro, Fevereiro, Março...
A pior altura do ano.
Nos que se seguiram, baralhados.
No Verão, tão, tão bom.
Nos que seguiram o Verão, até hoje, tão seguros.
E a minha cabeça sempre pensou de maneira diferente do meu coração. Viveram um ano sempre em desacordo. E pensaram sempre sem me perguntar nada. E concluiram sempre sem querer saber a minha opinião.
Olho para a rua lá em baixo e sei que nenhuma das pessoas que andam de um lado para o outro, e que daqui de cima parecem todas a mesma, sabe que eu estou aqui em cima, ou que estou a pensar na minha vida, ou sequer que estou descalço e que já não sinto os pés. Azuis.
E volto a pensar em tudo o que me fez subir até aqui, e dou por mim a perguntar-me por que raio é que me lembrei de me descalçar para me suicidar.
E começo a brincar com o parapeito e com o vento que continua a arrepiar-me.
E baloiço para trás e para a frente, como se estivesse indeciso entre saltar e descer do parapeito, voltar a calçar os sapatos e arriscar mais um ano cheio de coisas boas e dores más.
Na esperança de que o baloiçar decida por mim.
O vento já não o sinto frio.
Abro os braços, fecho os olhos e preparo-me...
Sinto o frio do vento que me magoa os dedos. É literalmente um vento cortante.
Estou em pé no parapeito do telhado do meu prédio. Não é o mais alto da vizinhança o que me provoca uma estranha sensação de conforto. Sinto-me abrigado, coberto, pelos prédios vizinhos.
Já estou aqui há umas horas.
Começa a ficar escuro, o sol já mal se vê por trás do edificio da seguradora. De repente a minha t-shirt não me parece a peça de roupa mais indicada para alguém que está no parapeito de um prédio, ás seis da tarde de um dia de Outono.
Mas estou aqui há umas horas e está-me a saber bem, apesar do frio. Estou aqui há umas horas a observar o que se passa abaixo do meu parapeito. O que se passa nas janelas em frente a mim.
E a pensar no ano que se encaminha para o fim.
Que ano.
Como um amigo me dizia hoje, foi uma montanha russa como ele nunca tinha visto. E que era preferivel viver-se assim, do que responder, quando questionado acerca de como tinha sido o ano, "foi normal, em Maio fomos à Serra da Estrela".
Mas não concordei totalmente. É bom viver sem rotinas chatas, mas ás vezes sabe bem uma maré baixa para só molharmos os pés.
E agora estou nessa maré baixa, neste parapeito, a molhar os pés no vento frio. Muito frio. Felizmente já não os sinto. Os pés.
Estão azuis.
Já pensei em todos os meses, de há precisamente um ano para cá.
Janeiro, Fevereiro, Março...
A pior altura do ano.
Nos que se seguiram, baralhados.
No Verão, tão, tão bom.
Nos que seguiram o Verão, até hoje, tão seguros.
E a minha cabeça sempre pensou de maneira diferente do meu coração. Viveram um ano sempre em desacordo. E pensaram sempre sem me perguntar nada. E concluiram sempre sem querer saber a minha opinião.
Olho para a rua lá em baixo e sei que nenhuma das pessoas que andam de um lado para o outro, e que daqui de cima parecem todas a mesma, sabe que eu estou aqui em cima, ou que estou a pensar na minha vida, ou sequer que estou descalço e que já não sinto os pés. Azuis.
E volto a pensar em tudo o que me fez subir até aqui, e dou por mim a perguntar-me por que raio é que me lembrei de me descalçar para me suicidar.
E começo a brincar com o parapeito e com o vento que continua a arrepiar-me.
E baloiço para trás e para a frente, como se estivesse indeciso entre saltar e descer do parapeito, voltar a calçar os sapatos e arriscar mais um ano cheio de coisas boas e dores más.
Na esperança de que o baloiçar decida por mim.
O vento já não o sinto frio.
Abro os braços, fecho os olhos e preparo-me...
10 Comments:
At 15:20, baba said…
Que mauzinho que é o Sr. Ruivo!
At 15:49, Anónimo said…
Prepara majé a boquinha pro arrozinho de tomate e deixa de te armar em passarinha!
At 16:55, Anónimo said…
Eehhheeeeeeeehhhhhhhehhhhhhhhhhhhehhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhh
Arroz de tomate!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
Já nem vou lanchar!
Até logo!
At 04:16, Anónimo said…
ptasquinha???
Com essa "nomenclatura" o jantar não vai ser só arroz de tomate...
( p t a squinha )########
At 04:18, Anónimo said…
E o Sr. Ruivo tem razão.
At 12:00, Anónimo said…
A plague of indecision
Like slow green death
Breeds in the mind of the poet
Creating monsters
Of barb-toothed offspring
Whose swift invasion
Swallows each corner
Of our domicile mind.
Choices breeding
Like relentless monsters
Until we choose
One demon to follow
Este poema (excerto) é de uma americana de 25 anos "chamada" Summerswann.
Moral da história:
Do monstro já não te livras, portanto... SALTA. Inevitavelmente temos de VER o monstro para saber que ele afinal... não existe e é apenas um reles de um diabrete.
Chilango Power
At 15:28, Carlos said…
Não saltes agora.
Espera pelo entardecer, que esta luz não te favorece.
At 17:00, S. said…
Nuno José, tu vais-te constipar!!! Calça uns carapinzinhos se queres estar no parapeito a ver os carros passar!!!
Isso, assim, faz-te mal, moço!!!
At 19:15, Anónimo said…
mmm
constipa-te, vá
ficas com a vox mais sexy
Para além disso dá bem mais gozo estar de descalço de olhos fechados do que de olhos abertos e calçado.
Quanto à luz... concordo com o Sr. Carlos.
Chi
At 15:59, Anónimo said…
Minha querida Cris,
o arroz estava delicioso!!!!!! Está sempre : )
Sua,
ptasquinha (AKA b)
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