kar(ma)toon

Bom Karma... ou não!

segunda-feira, agosto 28, 2006

Dia 26, no comboio a caminho do Entroncamento


Sempre que os meus fantasmas me assaltam sinto uma náusea súbita e forte no estômago. A mesma náusea, a mesma, que sentia sempre que era dia de receber um teste de alguma disciplina mais difícil. Sempre que não estava totalmente seguro do resultado final, da nota que iria conseguir.

É como um impacto, um murro pelo qual não se espera, na boca do estômago. A agonia é tremenda e imediata e a única maneira de a conseguir eliminar é expulsá-la, também com violência.

Nessas alturas a minha mente congela e os meus olhos param, simplesmente. Não consigo sequer piscá-los, faço pause nas imagens que me provocam esta agonia. Piscar os olhos é uma acção na qual nem pensamos e que no entanto nos é tão útil...
Como ainda agora, que estava a ler e fui atacado por um fantasma, o maior de todos os que me assombram, e deixei de ver as palavras no livro. De letras, escritas para que os meus olhos as lessem, passaram num ápice a linhas pretas, desprovidas de qualquer sentido, de qualquer lógica.

É quando tenho de respirar brutalmente fundo, abanar a cabeça e procurar com toda a força concentrar-me no que estava a fazer, ou procurar alguma coisa ou alguém que me leve para longe desse fantasma. Como um doente de Parkinson, que ao segurar uma pega fixa cessa de tremer, eu necessito de me segurar a algo que me afaste das imagens, das palavras ouvidas, que me provocam esta agonia. Algo ou alguém que me faça regressar ao presente.

Todos os meus fantasmas são fantasmas do passado. Ao contrário da história de Dickens, na minha vida não existem fantasmas do presente ou do futuro, só do passado. E assusta-me terrivelmente a idéia de que eles possam levar a melhor sobre mim. Que me possam atormentar até eu desistir de os combater. Assusta-me a idéia de perder o meu juízo para estes espectros.

Dizia-me alguém há dias que uma pessoa que sabe que é louca não pode, por isso mesmo, ser louca.
Penso nessas palavras e concluo que alguém que sabe que é louco não é menos louco por isso. Não pelo menos se os motivos que o levam à loucura forem sempre mais fortes do que essa meta-consciência.

1 Comments:

  • At 19:32, Blogger pinkpoetrysoul said…

    acho que deves pensar urgentemente em chamar os Caça-Fantasmas...

     

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