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Bom Karma... ou não!

terça-feira, julho 11, 2006

A história do bicho feio e da menina que lhe levou guloseimas




Era uma vez um bicho, peludo e estranho,
era feio, repulsivo, tinha olhos vermelhos e pêlo castanho.
Vivia no meio do lixo, na sarjeta, na confusão,
mas isso era só aparato, pois tinha bom coração.

Comia o que apanhava,o que conseguia
caroços, meios rissóis e restos de enguia.
Mas eram guloseimas que habitavam os seus sonhos,
gomas, marshmallows, bolo rei e licor de medronhos.

A sua pança, farta de tão entediante alimentação,
fez greve, reclamou, simulou uma azia, uma congestão.
Triste, escondeu-se no lixo, na sarjeta a um canto,
e teria ali morrido geladinho, se alguém não o tivese tapado
com um manto.

Quentinho, recuperado pelo manto salvador,
levantou os olhos, ainda molhados pela dôr.
Viu uma menina, pequenina, linda e sorridente
que lhe estendia um saco de compras do Continente.

Ainda confuso pelo seu avançado estado de fraqueza
pensou "só posso estar a alucinar, com certeza",
pois jurava que de dentro do saco saía uma luz bela e brilhante,
laranja, vermelha, amarela e azul diamante.

Curioso e confuso, apressou-se a abrir o saco do Continente.
Num ápice rasgou-o de cima a baixo e ficou tão, tão contente.
Pois a menina, de quem ele já nem se lembrava,
tinha-lhe trazido todo o tipo de doces, até bolo com geleia
de amora brava.

Chocolates, nozes caramelizadas, mousse de banana e gelado.
Tarte de maçã, chantilli, leite creme com açucar baunilhado.
Sem demora enfiou a cabeça no saco e comeu até a pança lhe doer,
e só aí parou para pensar na menina, quem poderia ela ser?

Quem, pela primeira vez na vida, não sentia nojo da sua presença?
Quem se preocupava com ele, com a sua tristeza, a sua doença?
Nunca tal tinha acontecido, era bizarro, inquietante, estranho.
E no entanto, lá estava a menina, sorriso aberto, vestidinho...
castanho!!

Perguntou-lhe quem era, de onde vinha e porque o ajudava.
Era a Irene, vinha de uma escola de pasteleiros e dela ninguém gostava.
Não suportava guloseimas e estava na dita escola por obrigação.
Tinha sabido as histórias da sua descomunal gula e decidido entrar em acção.

À socapa tinha-se esgueirado e fugido da instituição.
Roubara os doces da cozinha mesmo nas barbas do chefe João,
para os entregar ao bicho feio e castanho mas de bom coração,
que estava esmagado, comovido e encantado com tamanha boa acção.

Combinaram logo ali que ela para sempre lhe alimentaria a gulodice,
e ele lhe contaria histórias da sarjeta, anedotas, lendas, «diz-que-disse».
Pois ela era, embora não gostasse, excelente aluna uma óptima aprendiz,
que fazia de tudo, até bolachas com ovos, leite, margarina e 10cl de aniz.

Viveram assim para sempre, dois amigos bem alimentados,
ela com as histórias da sarjeta, ele com biscoitos, drops e rebuçados.
Viveram assim para sempre, felizes e tão contentes,
á excpção do bicho castanho, quando sofria uma ou outra
lixada dor de dentes.

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