A Bárbara lembrou-me de que não tinha dedicado nenhum post ao 25 de Abril...
Irrita-me, o dia 25 de Abril. Irrita-me porque me parece tanto com um dia em Dezembro, também ele 25. Porque só nos lembramos do dia 25 de Abril, no dia 25 de Abril. O resto do ano parecemos esquecidos desse dia, do que ele significou na história de Portugal e, mais importante do que isso, o que conquistámos com a revolução de Abril.
É mutio fácil evocar a liberdade conquistada pelo povo e pelos militares naquele dia, há 32 anos. Difícil é apontar o dedo a nós próprios e dizer que passamos a vida esquecidos de que todos têm direitos, e de que passamos os dias esquecidos de que essa liberdade tão propalada deve ser exercida sem vergonhas, sem receios.
Mas depois, no dia 25 de Abril, o tal, vamos alegremente para as praças ouvir sempre as mesmas musiquinhas do Zeca, sem que elas de facto já tenham algum significado para nós. Usamos orgulhosamente o cravo ao peito - sem sequer sabermos como ele surgiu nesta história toda - e fingimos ser todos muito preocupados com estas coisas da liberdade.
Liberdade?
Mas alguém sabe o que a palavra significa sequer? Alguém sabe realmente o que ela acarreta?
Sabem de que liberdades estamos a falar quando dizemos "liberdade"?
Perdoem-me, mas não, não sabem!
Diz-se "liberdade" de uma forma leviana, como se ao dizer a palavra impressionassemos alguém. Como se dizer a palavra de repente nos tornasse mais e melhor do que os outros.
E depois?
Bem, depois tudo se resume a uma cambada de merdosos que ocupam lugares na assembleia da república, eleitos por nós democraticamente - uma das liberdades conquistadas há 32 anos -, que se dedicam a picar o ponto e a irem embora de fim de semana prolongado, "porque até já se tomam uns bons banhos na Quarteira, traz os putos, o cão e a tua mãe e vamos, que isto na assembleia vai estar uma seca e vai", e que passam a sessão do dia 25 de Abril, o tal, a discutir a importância e o significado do nosso presidente da república não usar o cravo ao peito num dia tão importante quanto este...
Alguém se lembrou que o homem pode ser alérgico?
Falando de memórias e de dias importantes, parece-me mais relevante falar no dia 26 de Abril, um dia que a muitos nada dirá, assim de repente, mas que me parece ter sido bem significativo para a humanidade do que o nosso 25 de Abril.
É que há 20 anos, enquanto na pequena cidade de Prypiat as crianças bincavam na rua, a pouco mais de três quilómetros os bombeiros começavam a tombar mortos com uma rapidez impressionante. Bombeiros que tinham saído do seu quartel em mangas de camisa, alguns, mais precavidos, usavam máscaras de gás. Apesar de terem a certeza do que lhes ia acontecer, apesar de saberem que corriam para uma morte mais do que certa, foram na mesma por saberem que as crianças que brincavam nas ruas de Prypiat eram suas. Suas filhas, suas sobrinhas, suas netas.
O local, Chernobyl, ficou na história da humanidade como mais do que um pequeno e insignificante ponto no mapa do mundo. Para sempre ficará conhecido como o local onde se deu o mais grave acidente nuclear de sempre. Nunca como naquele dia, naquela semana, o mundo esteve tão perto de desaparecer. A radioactividade libertada pela explosão do famoso reactor número 4 foi 400 vezes superior à bomba atómica de Hiroshima. 400 vezes superior à bomba atómica de Hiroshima. Em poucos dias a núvem radioactiva atingiu a Alemanha, e passado uma semana vestigios da radioactividade de Chernobyl chegavam aos Estados Unidos da América. Nunca, como naquelas semanas, o mundo tinha estado numa tal situação. Nunca como então tinhamos tido tanto medo de ir desta para melhor.
Só ao fim de vinte e seis horas é que o governo - na altura ainda soviético - tomou as primeiras medidas de segurança e que foram evacuar Prypiat argumentando que eram aquelas apenas medidas de segurança e que todos estariam de regresso às suas casa em três dias, não mais. Nunca regressaram. Alguns nem sequer sobreviveram para saber que nunca voltariam.
E as crianças?
Continuaram a brincar durante essas vinte e seis horas nas ruas de Prypiat.
Vi há pouco na televisão os seus brinquedos abandonados à porta das suas casas.
Ainda hoje não sabemos ao certo quantas pessoas morreram em consequência desta acidente.
O governo insiste nas centenas.
Nós sabemos que não era possivel não serem milhares, directa ou indirectamente provocados por uma tão grande descarga radioactiva.
E esquecemo-nos disto...
De tudo isto.
E não me venham dizer que isso foi longe, que não nos afectou.
Não sejam ingénuos. Afecta toda gente.
E toda a gente se esquece...
Irrita-me, o dia 25 de Abril. Irrita-me porque me parece tanto com um dia em Dezembro, também ele 25. Porque só nos lembramos do dia 25 de Abril, no dia 25 de Abril. O resto do ano parecemos esquecidos desse dia, do que ele significou na história de Portugal e, mais importante do que isso, o que conquistámos com a revolução de Abril.
É mutio fácil evocar a liberdade conquistada pelo povo e pelos militares naquele dia, há 32 anos. Difícil é apontar o dedo a nós próprios e dizer que passamos a vida esquecidos de que todos têm direitos, e de que passamos os dias esquecidos de que essa liberdade tão propalada deve ser exercida sem vergonhas, sem receios.
Mas depois, no dia 25 de Abril, o tal, vamos alegremente para as praças ouvir sempre as mesmas musiquinhas do Zeca, sem que elas de facto já tenham algum significado para nós. Usamos orgulhosamente o cravo ao peito - sem sequer sabermos como ele surgiu nesta história toda - e fingimos ser todos muito preocupados com estas coisas da liberdade.
Liberdade?
Mas alguém sabe o que a palavra significa sequer? Alguém sabe realmente o que ela acarreta?
Sabem de que liberdades estamos a falar quando dizemos "liberdade"?
Perdoem-me, mas não, não sabem!
Diz-se "liberdade" de uma forma leviana, como se ao dizer a palavra impressionassemos alguém. Como se dizer a palavra de repente nos tornasse mais e melhor do que os outros.
E depois?
Bem, depois tudo se resume a uma cambada de merdosos que ocupam lugares na assembleia da república, eleitos por nós democraticamente - uma das liberdades conquistadas há 32 anos -, que se dedicam a picar o ponto e a irem embora de fim de semana prolongado, "porque até já se tomam uns bons banhos na Quarteira, traz os putos, o cão e a tua mãe e vamos, que isto na assembleia vai estar uma seca e vai", e que passam a sessão do dia 25 de Abril, o tal, a discutir a importância e o significado do nosso presidente da república não usar o cravo ao peito num dia tão importante quanto este...
Alguém se lembrou que o homem pode ser alérgico?
Falando de memórias e de dias importantes, parece-me mais relevante falar no dia 26 de Abril, um dia que a muitos nada dirá, assim de repente, mas que me parece ter sido bem significativo para a humanidade do que o nosso 25 de Abril.
É que há 20 anos, enquanto na pequena cidade de Prypiat as crianças bincavam na rua, a pouco mais de três quilómetros os bombeiros começavam a tombar mortos com uma rapidez impressionante. Bombeiros que tinham saído do seu quartel em mangas de camisa, alguns, mais precavidos, usavam máscaras de gás. Apesar de terem a certeza do que lhes ia acontecer, apesar de saberem que corriam para uma morte mais do que certa, foram na mesma por saberem que as crianças que brincavam nas ruas de Prypiat eram suas. Suas filhas, suas sobrinhas, suas netas.
O local, Chernobyl, ficou na história da humanidade como mais do que um pequeno e insignificante ponto no mapa do mundo. Para sempre ficará conhecido como o local onde se deu o mais grave acidente nuclear de sempre. Nunca como naquele dia, naquela semana, o mundo esteve tão perto de desaparecer. A radioactividade libertada pela explosão do famoso reactor número 4 foi 400 vezes superior à bomba atómica de Hiroshima. 400 vezes superior à bomba atómica de Hiroshima. Em poucos dias a núvem radioactiva atingiu a Alemanha, e passado uma semana vestigios da radioactividade de Chernobyl chegavam aos Estados Unidos da América. Nunca, como naquelas semanas, o mundo tinha estado numa tal situação. Nunca como então tinhamos tido tanto medo de ir desta para melhor.
Só ao fim de vinte e seis horas é que o governo - na altura ainda soviético - tomou as primeiras medidas de segurança e que foram evacuar Prypiat argumentando que eram aquelas apenas medidas de segurança e que todos estariam de regresso às suas casa em três dias, não mais. Nunca regressaram. Alguns nem sequer sobreviveram para saber que nunca voltariam.
E as crianças?
Continuaram a brincar durante essas vinte e seis horas nas ruas de Prypiat.
Vi há pouco na televisão os seus brinquedos abandonados à porta das suas casas.
Ainda hoje não sabemos ao certo quantas pessoas morreram em consequência desta acidente.
O governo insiste nas centenas.
Nós sabemos que não era possivel não serem milhares, directa ou indirectamente provocados por uma tão grande descarga radioactiva.
E esquecemo-nos disto...
De tudo isto.
E não me venham dizer que isso foi longe, que não nos afectou.
Não sejam ingénuos. Afecta toda gente.
E toda a gente se esquece...
2 Comments:
At 11:45, Anónimo said…
Bem, não sei quem são as pessoas que te rodeiam que se esquecem dessas coisas! As pessoas que me ensinaram, todos os dias me lembram da justiça e da honestidade e da esperança ou não na Humanidade. E, sinceramente, todos os dias me ensinam o significado da Liberdade.
At 14:47, Anónimo said…
Ah, e Chernobyl hoje foi o motivo de conversa ao almoço aqui no lab. É giro, temos opiniões muito parecidas. Adoro os meus meninos QUASE todos aqui. E o solinho na relva depois de almoço...aiiiiiii...começam os dias brutais aqui em Vairão : )
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