kar(ma)toon

Bom Karma... ou não!

terça-feira, agosto 02, 2005

Não arranjei um bom título para este...

Hà pouco mais de um ano morri. Num cenário natural, de enorme beleza e placidez, estive morto por alguns segundos. E continuei morto durante algumas, bastantes, horas.
Imaginem o seguinte conceito: coloquem uma câmara de filmar num tripé e apontem-na para, por exemplo, o sofá da vossa sala, vazio. Filmem esse vosso sofá vazio durante alguns segundos e de seguida façam uma breve pausa. Reiniciem a filmagem por mais alguns segundos e parem quando não vos apetecer mais. Liguem a câmara ao vosso televisor e visionem o que acabaram de filmar. De certeza que, mesmo sem nenhum movimento no enquadramento que acabaram de filmar, se vão aperceber do corte que provocaram nessa filmagem. Um corte no tempo, nos segundos que passaram; segundos esses que, embora não estejam nas imagens resultantes da filmagem, não deixaram de existir. Estavam lá, e sempre estiveram, só não foram capturados para a posteridade. A lembrar aquela velha máxima "se não está na TV, então não existiu" com que eu me vejo forçado a concordar - e noutro post explicarei porquê.
Os breves segundos que estive desmaiado, as horas seguintes - cerca de 20 - em que andei de uma lado para o outro, de hospital para hospital, agora desmaiado, agora acordado, antes e depois da cirurgia; todo este tempo me foi roubado por algo que eu não compreendo nem nunca poderei compreender. Não tenho memória desse tempo, como a câmara de filmar não poderia nunca ter «memória» de algo que não «víu», de algo que não registou. A câmara de fimar não parece ficar muito incomodada com essa falta de memória; a minha curiosidade em saber o que se passou, como foi o acidente que quase me roubava à vida, o querer «ver» o filme... tudo isso me atormenta continuamente.
Prefiro acreditar que para mim o tempo parou realmente durante não sei bem quantas horas. Prefiro acreditar numa espécie de regresso ao «mundo-normal» após algumas horas de indefinição.
Prefiro olhar para o que me aconteceu após esse tempo de confusão. Prefiro imaginar a calma da minha mulher quando me víu «morrer» e mesmo assim só se preocupava em me sossegar. Tentar imaginar - porque assim me contaram - como foi ir na ambulância comigo meio desmaiado e mesmo assim a esforçar-me para que toda gente se rísse um bocadinho. Lembrar-me da mousse de chocolate que o Zé Carlos me levou ao hospital. A melhor mousse do mundo. Feita por ele!!
Não consigo, no entanto, esquecer-me de todas as coisas más. Coisas de que falarei noutra altura. Desabafar disto pela primeira vez deixou-me agastado.
Obrigado.

1 Comments:

  • At 09:57, Blogger EL Graxa said…

    Tenho uma opinião mto estranha mas no entanto convicta, acredito que durante esse tempo em que adormeceste estiveste acordado mas em outro lugar, a debater os teus motivos de despertar ou não e continuares ou não com o que tinhas. Com o método da Hipnose, se realmente essa branca te incomoda, consegues saber pormenorizadamente o que te aconteceu, o que sentiste, com quem falaste, os passos que deste, se fores sensível à hipnose ate do decorrer das cirurgias te lembras!
    Mas o simples facto de teres uma possibilidade de saberes aquilo que te "perturba" há tanto tempo, deixa uma nostalgia, o peso do decidir se queres ou não passar a saber, deixar de ter mistérios do inconsciente na tua vida...será que queres ver o filme?
    A curta metragem pode bem tornar-se na mais longa metragem da tua vida, talvez por te trazer conhecimentos para os quais ainda nao estás pronto para assimilar.
    Bem, agora quem ficou agastada fui eu...aceitam-se esclarecimentos via mail!

     

Enviar um comentário

<< Home