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Podia começar por dizer o que toda a gente diz ou escreve, e calmamente desvalorizar os sete golos com que Portugal bateu a Coreia do Norte. Podia fazer como todos os jogadores da selecção e dizer que só conseguimos três pontos e nada mais. Podia até brincar com o facto de termos humilhado uma nação que só por acaso tem armas nucleares e que é consideravelmente trigger happy. Não me apetece. Apetece-me, isso sim, falar da qualidade dos jogadores portugueses, muitos furos acima do que se tem visto num mundial de futebol da África-do-Sul.
Ontem, o jogo poderia ter sido com essa tão temível Argentina, ou com o eterno pré-campeão Brasil, ou mesmo com a aguardada Espanha. Ontem, teríamos vencido. Não por sete golos de diferença, naturalmente, mas sem dúvida vencido. Os jogadores portugueses ultrapassam, neste momento, em técnica e vontade, os jogadores das equipas acima referidas. Digo eu, que tenho acompanhado os jogos todos e que ainda não estou totalmente convencido do seu real valor.
De resto, este mundial pode realmente correr de feição às aspirações de Queirós e companhia - que somos todos nós, afinal. A França acaba de ser eliminada; a Inglaterra e a Itália têm um pé bem fora da competição e mesmo a Alemanha e a Espanha ainda têm de correr muito para se apurarem para os oitavos de final. Passar à próxima fase sem a presença destes concorrentes, seria não só uma monumental surpresa - e um pesadelo para a FIFA, organização do mundial e patrocinadores - como a abertura de um caminho mais fácil até ao título. Teoricamente, claro.
Ontem o melhor em campo foi indiscutivelmente Tiago. Como poderia ter sido Raúl Meireles, como poderia ter sido Fábio Coentrão, como poderia ter sido Cristiano Ronaldo. Este último, porém, tem uma vantagem em relação a todos os outros: pode estar largos minutos desaparecido do jogo que ainda assim a sua influência é amplamente sentida. Em nós, público, e nos colegas que estão em campo. O homem pode decidir o jogo num lance - num remate, num passe ou numa corrida desenfreada das suas e que levam os onze adversários e o respectivo banco de suplente atrás dele.
Ontem, Ronaldo explodiu finalmente como havia prometido. Com contenção, gestão e harmonia, mostrou o que de melhor sabe fazer, desiquilibrar. Como Messi faz na Argentina. O problema é que o povo futebolístico exige golos às super-estrelas. Essa parece ser sempre a única prova de qualidade, aquela que decididamente nos mostra o porquê dos prémios, das condecorações e das eleições para melhor do ano, do mundo, do campeonato ou do mundial. E não é verdade. Temos é de olhar com atenção e, nas repetições dos lances e em câmara lenta, perceber todos os micro-detalhes. São esses detalhes que fazem a diferença e que colocam futebolistas destes num patamar a que os outros, lamento, não chegam.
Por isso mesmo, sinto a falta de Ronaldinho neste mundial. Porque ainda é o melhor jogador do mundo - por muito que o seu físico o continue a negar - e porque conseguia ser melhor que estes dois naquilo que mais aprecio no futebol: a magia do detalhe.
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