OPINIÕES...
A SIC decidiu ocupar o horário deixado livre pelo programa do «Soltem a parede!» com algo que se assemelha a um programa de entretenimento, decidido a apostar nas diferenças entre homens e mulheres e nas igualdades entre homens e mulheres que formem um casal. A coisa é tão má que nem dá para falar mal, e repete a fórmula recentemente desenhada pelo canal de Carnaxide, apostando na utilização de um humorista - embora o epíteto me arrepie, tendo em conta de quem estamos a falar - e de um gaja para darem vida ao que é irreparavelmente mau. No entanto, a emissão de ontem acabou por trazer um dado interessante e que foi absolutamente consequente e não programado. Uma experiência levada a cabo pela produção, e que tinha como objectivo principal demonstrar a clássica insensibilidade masculina para alguns problemas sociais, colocou uma miúda de apenas 8 aninhos a fazer de desgraçadinha numa qualquer rua de Lisboa. Durante algumas horas, foram 41 as mulheres que se aproximaram da petiz com o interesse de fazer alguma coisa por ela contra zero homens. Já se estava à espera. O interessante e inexperado pormenor de toda a experiência acabou por ser o comportamento de um cão vadio que, a dada altura se aproximou da miúda, cheirou-a e sentou-se ao seu lado numa atitude de preocupação e protecção. Ou seja, a prova de que os animais mantêm uma dignidade de que os seres humanos já há muito se esqueceram.
Isto para dizer que aplaudo vigorosamente a lei recentemente aprovada pelo governo, e que proibe alguns animais de serem utilizados pelos circos em Portugal. A lei peca por ser incompleta - na verdade a proibição devia ser total - mas é uma prova de que Portugal ainda pode liderar o resto do mundo num modernismo cada vez mais necessário. Chega a ser cómico perceber os argumentos de quem é contra esta lei e a favor de que os animais continuem a ser utilizados para gáudio dos energúmenos. Uns acham que é a única maneira dos ranhosos dos filhos poderem ver animais ao vivo. Outros reutilizam o mesmo discurso idiota da tradição. E outros ainda acreditam que economicamente pode significar um verdadeiro desastre. Há razões ainda mais ridículas, a maioria da boca de gente que, imagine-se, é responsável pelos circos deste país. No entanto, é preciso ter algumas noções que a comunicação social não abordou. Por exemplo, uma que é importante e bastante esclarecedora e que diz, segundo um estudo de 2008, que o circo é somente o terceiro espectáculo menos lucrativo a ter lugar em território nacional. Nem me vou dar ao trabalho de argumentar porque razão os circos não deviam usar animais. Não deviam, simplesmente, e ponto final. O problema é que até aqui a religião católica tem uma culpa que pode não ser evidente, mas que é real, já que sempre defendeu que os animais são inferiores ao homem e estão na terra para o servir.
A mesma religião católica que mais uma vez se sente ofendida na sua honra por um livro. O livro desse diabólico Saramago, ser repugnante, mefistofélico e ainda por cima comuna convicto. Um cronista que muito respeito e admiro, escrevia na edição de hoje do Jornal de Notícias que Saramago como escritor que é, devia ter compreendido que a Biblia é um livro que mistura factos reais com ficção romanceada, e que por isso mesmo não o devia atacar como publicamente fez. Pessoalmente, gostava de saber que factos são esses e quantos foram histórica e cientificamente comprovados. Por outro lado, a verdade é que esse livro baseado em factos reais e numa belíssima ficção, foi o ponto de partida para algumas das maiores atrocidades cometidas na história da humanidade, essas sim, factos comprovados e de uma forma absolutamente irrefutável.
Isto para dizer ainda que Saramago, esse diabólico filho do demo, deu uma verdadeira lição de tudo e mais alguma coisa a Judite de Sousa, entrevistadora ao serviço da RTP e que ontem, a seguir ao jornal da noite, mostrou ao país como se prepara mal uma entrevista, como se conduz uma entrevista de forma totalmente parcial e incendiária e, acima de tudo, como se faz má figura e como se perde o controlo a uma entrevista. Saramago dominou-a inteiramente e ridicularizou-a. Sem esforço, sem perder a compostura e a educação, e, mais importante que isto tudo, sem ter essa intenção. Ou seja, venceu a entrevista somente por responder a tudo com sinceridade, com certeza e com inteligência. O homem pode estar velho e muito debilitado e ainda ser o primogénito de satanás, mas é inteligente que até magoa. Pelo menos pareceu-me que a de Sousa saíu do estúdio a coxear...
1 Comments:
At 18:17, Anónimo said…
Desculpa Nuno, em relação à miúda nas ruas e ao cão que ficou À beira dela: não é a sensibilidade que a humanidade perdeu. é a sensibilidade que, aparentemente, os homens não têm!
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